Mulher, meio ambiente e sustentabilidade

Gabriel Burjaili

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Colunista - Advogado que atua na área do meio ambiente, Gabriel Burjaili

O dia 8 de março marca o Dia Internacional da Mulher, data designada para comemorar os esforços em busca de mais equidade entre homens e mulheres, no intuito de construir uma sociedade mais igual e justa. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar mulheres e meninas é um dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, inclusive.

Em conexão com o meio ambiente, pesquisas indicam que as mulheres são mais preocupadas com questões ambientais que os homens. A Universidade de Yale, nos Estados Unidos, divulgou em 2018, dados indicando haver uma diferença “pequena e consistente” entre as percepções de homens e mulheres sobre riscos ambientais, particularmente apontando que as mulheres estavam mais atentas às mudanças climáticas e seus impactos negativos.

A diferença pode, entre tantos fatores, ser explicada pelo fato que mulheres sejam mais impactadas por tais consequências. Em escala global, a ONU avalia que mulheres e crianças sejam mais impactadas por desastres naturais como enchentes, fortes chuvas, secas extremas etc. Segundo dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mulheres representam cerca de 70% das pessoas que estão em condições de extrema pobreza globalmente, o que contribui para que estejam na linha de frente dos impactos por eventos climáticos adversos.

Por exemplo, pesquisas apontam que 83% das mães solteiras de baixa renda não puderam retornar para suas casas após os estragos causados pelo furacão Kathrina, tempestade tropical que assolou o estado da Lousiana, Estados Unidos, em 2005. Mais recentemente, dados do Banco Mundial estimam que as mulheres tenham sido mais impactadas pelas consequências deletérias da pandemia de Covid-19 em comparação com os homens.

A maior consciência ambiental, no entanto, não se explica apenas pelo fato de as mulheres serem mais expostas às consequências negativas de um meio ambiente desequilibrado. A conexão das mulheres com o meio ambiente, em um modo de viver mais sustentável, remete inclusive a comportamentos históricos, a demonstrar melhor entendimento entre o feminino e a natureza.

Desde as pioneiras coletividades tribais, pode-se notar envolvimento maior das mulheres com métodos sustentáveis de coleta, plantio para subsistência e uso da água. Também há relatos a indicar que as mulheres concentram os chamados conhecimentos tradicionais, que são hábitos passados de geração em geração, e podem ser relacionados desde a rituais religiosos, até ao preparo de alimentos conectados culturalmente com aquela comunidade, passando pelo uso de plantas medicinais.

Alguns estudos também ventilam que essa conexão com a natureza tem relação com características que tradicionalmente são consideradas predominantes nas mulheres, como: altruísmo, delicadeza, prestatividade, sensibilidade, solidariedade. Cogita-se, inclusive, que o maior cuidado com a natureza seja uma forma (consciente ou inconsciente) de proteger os filhos, quer dizer, de garantir às gerações futuras o acesso a recursos naturais, enquanto matéria-prima indispensável à vida.

Para além dos desafios e dificuldades, há também o que comemorar. São várias as mulheres conhecidas por papéis de defesa da natureza. À Rachel Carlson, pesquisadora norte-americana, e Gro Harlem Brundtland, médica, pesquisadora e ex-primeira-ministra da Noruega, atribui-se protagonismo no tema. No Brasil, a ambientalista Maria Amália Souza, do interior de São Paulo, foi premiada internacionalmente por contribuir com iniciativas filantrópicas de proteção ambiental. Isso sem contar o infindável número de heroínas anônimas mundo afora: por exemplo, pesquisas sugerem que, no Brasil, mais de 70% das catadoras de lixo reciclável sejam mulheres, número semelhante no sudeste asiático e na América Latina.

Em âmbito nacional e local, é cada vez mais frequente se deparar com mulheres capitaneando negócios de pequeno, médio e grande portes, aliando preocupação ambiental e práticas sustentáveis a diferentes perfis de empresas.

Comemoremos, então, aquelas que, dentre tantas virtudes, são responsáveis por gerar a vida, tal qual a natureza. E dão diversos exemplos de como se relacionar com o meio ambiente de um modo mais sustentável. Não à toa, natureza é um substantivo feminino.

(Colaboração de Gabriel Burjaili de Oliveira, bebedourense, advogado e professor).

Publicado na edição 10.828, quarta, quinta e sexta-feira, 13, 14 e 15 de março de 2024