
Os três maiores vilões das mudanças climáticas são o transporte, a energia estacionária e os resíduos sólidos. O Brasil deveria se valer de sua condição de país provido de múltiplas fontes energéticas e trazer dinheiro para estimular a reativação de sua economia.
Recados explícitos não faltam. Fatih Birol, o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia já afirmou que nosso país é um dos mais promissores em termos de retorno a investidores internacionais, se levar a sério projetos de energia renovável.
O biocombustível é algo de que o Brasil pode se desincumbir com facilidade. O Proálcool foi um programa exitoso. Mas ainda não exploramos suficientemente a área da bioenergia, solar e eólica.
Este ano e 2025 representam incrível oportunidade para que o Brasil reassuma o seu papel singular na discussão climática, ao oferecer alternativas ao excessivo uso do veneno chamado petróleo.
O mundo sabe que terá de abandonar os combustíveis fósseis. Não porque estejam com seu final já previsto, mas porque eles emitem os fatídicos gases causadores do efeito estufa. E este altera substancialmente as condições de existência de qualquer espécie de vida no planeta. Se a humanidade quiser continuar a existir, terá de adotar outras fontes de energia.
O etanol deu certo e é uma saída para as exportações. Mas, para isso, é preciso eliminar barreiras burocráticas. O excesso de normatividade, a regulação exagerada, a criação de meandros formalistas e procedimentais afugenta o investidor estrangeiro. O ambiente para a exportação precisa ser mais amigável e confiável.
Num outro ângulo, o Brasil precisa reinventar a transmissão de energia, pois distribuidoras que exercem o monopólio podem não atender aos interesses da população, como tem ocorrido com frequência na maior cidade do hemisfério, São Paulo.
A Academia deve oferecer estratégias para que o governo assuma protagonismo ao oferecer cenário jurídico seguro ao investidor. Ninguém quer arriscar seu capital em país de insegurança jurídica. As dissertações e teses devem caprichar na elaboração de cenários mais factíveis do que as labirínticas trajetórias hoje impostas a quem quer trazer dinheiro para ajudar o desenvolvimento brasileiro.
Fugir a críticas e insultos
Para conviver, é preciso não se melindrar diante de críticas. Para evitá-las, você precisaria ser invisível. Lê-se em algumas placas dispostas em mesas de executivos: “Pra não ser criticado: não diga nada. Não faça nada. Não seja nada!”.
Ainda assim, você não escapará às críticas. Os humanos são insaciáveis na sua tarefa de julgar o semelhante. Com réguas bem severas, que não são as mesmas utilizadas para julgar suas próprias atitudes.
Nem os santos escaparam à execração pública. É preciso recordar que o populacho preferiu libertar Barrabás a Cristo? E quem acreditaria que pessoas honradas, probas, honestas e éticas mereceram dura avaliação de seus contemporâneos?
Leia o que se disse de alguém: “Ele não é em nada melhor que um assassino. Traiçoeiro com os amigos, hipócrita na vida pública, um impostor que abandonou todos os bons princípios, se é que alguma vez o teve”. Pois isso foi dito sobre George Washington, um dos “pais fundadores” da maior democracia ocidental.
Quanto aos insultos, Buda nos ensina algo válido. Quando um qualquer o insultou, Buda ouviu em silêncio. Quando o homem terminou, Buda perguntou-lhe: “Filho, se um homem se recusasse a receber um presente feito para ele, a quem pertenceria o presente?”. O homem respondeu: – “À pessoa que o ofereceu”. E Buda: “Meu filho: recuso-me a aceitar o teu insulto e peço que o guardes para ti mesmo!”.
Essa a melhor resposta para quem, irado, ofende o próximo. O ser humano é irritadiço, orgulhoso, impaciente, pretensioso. Quer que as coisas ocorram conforme a sua vontade. Quando elas saem de seu controle, escoiceiam quem estiver à frente. Por isso, não é prudente conviver com a brutalidade. Se ela, ainda assim, se manifestar, é pensar que “cada um oferece o que tem”.
Infelizes aqueles que só têm a oferecer a perversidade, a chacota, a ironia, o sarcasmo. Para estes, a melhor resposta é o silêncio. Muitas das ações indignas de um ser racional derivam da inveja. A inveja é um sentimento bem estranho: o invejoso sorve o seu próprio veneno, querendo que o alvo da inveja é que venha a morrer. Como isso não acontece, ele se contamina com o fel de sua maldade.
Semeemos compreensão, tolerância e perdão. A vida é breve e frágil. Não vale a pena se angustiar porque um animal agiu conforme a sua natureza.
(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo).
Publicado na edição 10.849, quarta, quinta e sexta-feira, 12, 13 e 14 de junho de 2024