No país do faz de conta

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Qual segredo de Dilma foi espionado, se a propaganda anuncia a total transparência de seu governo?

Antônio Carlos Álvares da Silva

É da essência de qualquer governo decidir as questões, que aparecem. Não decidir, é um grande erro, porque não permite correção. Fazia um bom tempo, que o governo brasileiro vinha atropelado pela presença do senador Roger Pinto, em nossa embaixada na Bolívia, considerada território brasileiro. A indecisão do governo Dilma nem era constrangedora.
Passou a ser ridícula. A imprensa expunha essa situação e as medidas tomadas pífias, isto é, feitas para deixar tudo do mesmo jeito. Caso você não tenha acompanhado, dou um histórico: Há mais de 15 meses atrás, o embaixador brasileiro de La Paz acolheu o Senador Roger Pinto, onde se refugiou, para escapar da perseguição do governo boliviano. Ao não se opor a essa acolhida, automaticamente, o governo brasileiro lhe concedeu chamado asilo político. A concessão desse asilo implica na negativa de qualquer pedido de extradição feito pela Bolívia. Pelos tratados internacionais, a concessão de asilo, implica na obrigação de lhe ser concedido um visto, para sua saída do país. Porém, Evo Morales negou o documento, alegando, que o senador havia sido condenado há dois anos de pena por corrupção. Diante dessa negativa, o governo brasileiro tinha que decidir: Revogar o asilo, ou exigir a emissão do passe de saída. Não fez nada. Ficou aguardando uma negociação. Porém, como relatou o encarregado de negócios da nossa embaixada, a negociação virou uma farsa: “Eles fingiam, que negociavam e nós fingíamos acreditar.” E essa palhaçada durou 454 dias, sem nenhuma decisão. Então, por sua conta, esse encarregado tomou a decisão pelo governo: Colocou o senador em um automóvel da embaixada e viajou por 22 horas em território boliviano até alcançar o Brasil, passando por 7 barreiras de fiscalização. Essa viagem sem nenhuma interrupção, faz parte da farsa do faz de conta, já que um automóvel oficial, escoltado por fusileiros navais (na Bolívia?) não chamar atenção, é uma piada. Porém, em vez de os dois governos aceitarem o fato consumado, resolveram continuar a farsa. Evo Morales pediu a extradição e Dilma demitiu o ministro das Relações Exteriores, como se lhe coubesse alguma culpa pelos fatos. Essa demissão fez parte da farsa. Antonio Patriota foi nomeado para o posto mais alto do Brasil na ONU, nomeação incompatível, com a demissão. Se somarmos, que o embaixador é casado com uma americana, fica mais que claro, que a troca de postos foi mais que conveniente. Para completar, o Brasil alega que vai decidir sob o pedido de extradição. Como se fosse possível negá-lo, depois de tê-lo deixado nessa condição, por 454 dias na embaixada. Será, que o Brasil não sabe, que os juízes da Bolívia não são de carreira? Basta serem apoiados pelo partido de Evo Morales e eleitos, como qualquer político? Vai continuar ignorando que essa justiça partidária condenou os 4 últimos presidentes da Bolívia, que faziam oposição ao governo? Depois de conceder asilo a Cesare Battisti, condenado por 4 assassinatos na Itália, o governo tem que admitir, que a farsa passou da conta!

Um segredo
de Polichinelo
Outro assunto de realce nos jornais, foi a divulgação, que os Estados Unidos estão espionando as transmissões de vários países, inclusive do Brasil. Destacou-se também, que até a presidente Dilma foi espionada. Com o alarido, o governo brasileiro reagiu fortemente e o PC do B conseguiu até instaurar uma CPI sobre o tema. Parece-me que estão fazendo muito molho, para pouco frango. Realmente, depois do ataque terrorista às torres gêmeas de Nova York, há mais de 10 anos, os Estados Unidos anunciaram ao mundo, que iriam procurar informações prévias para evitar a repetição daquela violência. Essa prevenção implica obviamente, na obtenção de informações confidenciais em todos os países do mundo. Como eles não poderiam colocar um abelhudo atrás de cada porta, como acontece nas novelas brasileiras e os agentes 007 saíram da moda até no cinema, a providência tinha que ser outra. Para tanto, o governo americano conseguiu lei no seu congresso, que o autorizasse a obter essas informações junto a todas redes de transmissão. Daí, todo mundo e seu Raimundo ficou sabendo que, quem usa satélite, internet, telefone, rádio, etc. poderia ter suas mensagens monitoradas. Então, reclamar que os Estados Unidos, ou qualquer governo leiam mensagens passadas por esses meios, é conversa mole para toda boiada dormir. Porém, aqui no Brasil, em pleno século 21, ainda subsiste o velho cacoete dos simpatizantes do falecido socialismo: Dar uma de Valente com o também falecido imperialismo ianque. Isto é, falar fino com a Bolívia e falar grosso com os Estados Unidos, Daí, o ministro da justiça convoca a TV põe a pompa, para reclamar do ataque à nossa soberania. E Dilma ameaça cancelar a programada viagem aos Estados Unidos. Não há notícia de reações iradas em outros países. Nem a Rússia estrilou. A Alemanha teve uma reação protocolar e até irônica. Disse que não gostou e cancelou um tratado entre os dois países de 1968, que não estava em uso há mais de 40 anos. Ficou nisso. Falando nisso, há poucos dias a polícia do Rio de Janeiro prendeu 4 componentes do Black Block, por terem enviado mensagens pela internet, incitando a violência. Nesse imbróglio tem uma curiosidade: Qual segredo de Dilma foi espionado, se a propaganda anuncia a total transparência de seu governo? Se os Estados Unidos ficaram sabendo, por que nós, brasileiros, não podemos saber também? Se a espionagem vai ser investigada pela pública CPI do Senado, nada será publicado? Ou tudo isso não passa de um oba oba, para enganar milhões de trouxas, que só enxergam o que o governo quer?

 (Colaboração de Antônio Carlos Álvares da Silva, advogado bebedourense).