
O agronegócio é um dos mais consistentes segmentos da economia nacional. Responsável por aproximadamente 1/4 do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e por cerca de 1/5 da força de trabalho no País, responde hoje por pouco mais da metade das exportações nacionais, gerando receitas na ordem de R$ 550 bilhões, um valor altamente significativo para a sociedade brasileira.
Ao longo dos anos, o Brasil deixou de ser um produtor tropical, com presença forte do Estado na regulação de preços e estoques, altamente protecionista e que, até meados do século passado, mais importava alimentos do que exportava, e passou a ser uma potência agropecuária no mundo, sendo responsável por parcela relevante de produção e exportação de itens como soja, milho, algodão, café, cana-de-açúcar, suco de laranja e carnes em geral (bovina, suína e de frango), dentre outros, graças ao forte investimento em pesquisa e tecnologia, à exploração de novas fronteiras agriculturáveis e ao trabalho sério e persistente do produtor rural.
Indubitavelmente, o Brasil possui forte vocação para a produção agropecuária, dadas as enormes vantagens naturais existentes para essas atividades no Brasil, com sol o ano todo, clima ameno, regime de chuvas constante, solo fértil, enorme extensão territorial e água abundante, além da inclinação do nosso povo pela lida no campo. Temos, contudo, que considerar que o que nos trouxe até aqui, na condição de líderes mundiais na produção agropecuária e de grande fornecedor de alimentos para o mundo, não necessariamente nos levará adiante.
Com o aumento da população urbana e o crescimento da classe média no mundo, especialmente na Ásia, a cesta de consumo da população mundial tem sofrido alterações relevantes nos últimos anos, e tudo indica, conforme projeções da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, que a demanda por alimentos, especialmente aqueles com maior poder nutritivo, como as carnes e as proteínas em geral, tende a aumentar ao longo dos anos, de forma que tanto deverá haver maior demanda por grãos para fins de alimentação dos rebanhos no mundo, como também deverão crescer substancialmente a pesquisa e o desenvolvimento de alimentos sintéticos com alto teor proteico, tais como as carnes de soja e derivadas de fibras vegetais.
Nesse contexto, de aumento da demanda por alimentos em geral e por commodities para fins de produção de ração animal, é de se supor que o Brasil será um dos grandes, se não o maior, fornecedor de alimentos e grãos para o mundo nas próximas décadas, isso sem que nenhuma árvore mais tenha de ser derrubada, graças aos macronutrientes e defensivos aplicados e ao aumento da produtividade agropecuária em razão da utilização de alta tecnologia pelos médios e grandes players do mercado agropecuário.
O que se destaca, contudo, é que o Brasil é, no geral e em sua essência, um País ainda carente de grandes avanços e recursos tecnológicos, especialmente na área rural, razão pela qual é de se esperar grandes investimentos em novas tecnologias, infraestrutura de rede e maquinário nas lavouras, confinamentos e pastos brasileiros, para que o Brasil não seja prejudicado na forte competição com concorrentes do norte, especialmente Estados Unidos da América e Países integrantes da União Europeia, que recebem substanciais subsídios para a produção e gozam de inúmeras vantagens e proteções que os produtores brasileiros não fazem jus – e mesmo assim, ainda são tão bons quantos os concorrentes.
Assim, é importante se ter em mente que, para sobrevivência no médio e longo prazos, é fundamental que os produtores rurais, especialmente os médios e grandes, estejam preparados para a forte concorrência que se avizinha, mediante utilização e aplicação massiva de tecnologia no planejamento, plantação ou criação, colheita ou abate, comercialização e distribuição da produção, o que certamente demandará altos investimentos e capacitação da força de trabalho, além da retenção e desenvolvimento de profissionais qualificados. O Brasil tem tudo para continuar a ser um importante fornecedor de alimentos ao mundo; cabe a nós, e aos governantes, estarmos preparados para as oportunidades e desafios que certamente virão.
(Colaboração de José Mário Neves David, advogado e administrador de empresas. Contato: [email protected])
Publicado na edição 10.649, de sábado a terça-feira, de 5 a 8 de março de 2022.