

Sendo utilizado como palco, tribuna ou palanque, o coreto tem sua origem relacionada ao contexto dos movimentos liberais europeus do século XIX, que resultou na ampliação dos espaços públicos para a sociedade em geral. Sendo instalado em praças, jardins ou parques públicos, foi destinado a sediar diferentes tipos de eventos voltados para a coletividade, sem distinção.
No Brasil, os coretos foram inseridos e popularizados na transição do século XIX para o século XX, primeiro nas capitais e depois nas cidades interioranas, conforme as praças centrais foram sendo modernizadas, com ajardinamento e inserção de elementos decorativos, entre os quais o coreto, sempre colocado em posição de destaque.
Em Bebedouro, há o registro da instalação de um pequeno coreto nos idos de 1900, em publicação de 7 de agosto do jornal Correio Paulistano: “estão terminadas as obras do coreto mandado construir no nosso formoso jardim público pela nossa nobre edilidade, cujo construtor foi o perito artista tenente Basílio dos Santos.”
Sobre este primeiro coreto, a imprensa local registrou em 1905, a apresentação de retretas aos domingos à tarde pela Banda Philarmônica 7 de Setembro, corporação musical que fora organizada dois anos antes pela Câmara Municipal.
Anos depois, foi construído o segundo coreto, conforme publicado em 5 de novembro de 1911, no Correio Paulistano: “está sendo montado um bello coreto no jardim publico, adquirido pela Camara à Companhia Mecanica.”
Na semana seguinte, em 12 de novembro, o Jornal de Bebedouro informava: “a apreciada corporação musical Philarmonica Internacional, inaugurando o novo coreto, faz executar hoje a tarde no Parque Municipal um escolhido programma.”
Em suas memórias sobre a década de 1920, Arnaldo Christianini deixou registradas as lembranças musicais da época, em que se ouviam “dobrados e até trechos de ópera nas retretas dominicais, à noite, no ainda velho coreto”, fazendo menção ao fato de que o coreto de 1911 seria substituído por outro, de ferragem trabalhada.
Este, que seria o último a ocupar espaço na praça Barão do Rio Branco, foi projetado pelo engenheiro Oscar Werneck Furquim de Almeida, que na condição de superintendente-geral da Estrada de Ferro São Paulo – Goiás, organizou a construção do novo coreto de ferro nas oficinas desta empresa ferroviária.
A partir da década de 1940, novas formas de socialização e comunicação geraram questionamentos quanto à manutenção dos coretos nas praças das cidades brasileiras, sendo que muitos foram abandonados ou demolidos.
Em Bebedouro, a discussão sobre a manutenção ou substituição do coreto por outra construção não tardou. Em registro de 1948, da Gazeta de Bebedouro, por exemplo, este era apontado por possuir uma “arquitetura arcaica”, “obra inestética” que parecia “um estafermo desembelezando o primor de uma praça caprichosamente ajardinada”.
Passados dez anos, novamente a Gazeta publicava matéria referindo-se à condição do “velho coreto”, informando que aquele que “já se sente impotente para embelezar uma praça e de bom grado, cederá lugar a uma concha acústica ou a uma fonte luminosa”.
Era a tão propalada modernização que se impunha, mas para os bebedourenses que tinham o coreto presente em sua memória afetiva, a novidade resultou em muita tristeza, conforme relatado por Osvaldo Schiavon no poema “Coreto Velho”, publicado no ano de 1960: “Adeus, meu coreto velho, / que o progresso demoliu! / Contigo se foi uma era / da vida de Bebedouro, / das emoções mais ardentes / que o povo sentiu”.
Schiavon incluiu em seu poema, alguns momentos marcantes na história do coreto, como “palco por onde brilharam Mario Zan, Carlos Galhardo e outros grandes”; citou os antigos maestros Ubaldo de Abreu, Salata e Aristeu; e os políticos, desde os tempos dos coronéis, incluindo vultos como Getúlio Vargas, Jânio Quadros e Adhemar de Barros e personagens locais, como Pedro Pereira, Zé Stamato, Zé Paschoal e mesmo Hércules Pereira Hortal, apontado como o autor de sua demolição.
Com as novas construções, a praça central adquiriu um visual mais moderno, mas a ausência do coreto deixou muitas saudades, o que influenciou para que em 1994 fosse erguido um novo coreto na praça Abreu Pedro de Freitas, no Jardim Paraíso, que permanece no local como palco de vários eventos sociais.
Na região, vários munícipios ainda mantêm os tradicionais coretos construídos nas primeiras décadas do século passado, como Colina, Jaboticabal e Taiúva, preservando um dos principais símbolos do romantismo de outrora.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense, www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição nº 10.749, sábado a quinta-feira, 15 a 20 de abril de 2023