O golpe de misericórdia

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Surgimento de novos focos do greening na região pode apressar redução drástica dos pomares.

Bebedouro é conhecido nacionalmente como a Capital da Laranja. A fama é fruto da época áurea da citricultura na cidade, década de 80, quando estavam em pleno funcionamento Frutesp e Cargill, além do parking house da Cutrale. Apanhadores de laranja ganhavam tanto dinheiro que compravam carros e reformavam casas com os salários recebidos com a colheita. A citricultura pulverizava a renda por toda a cidade.
As ultimas três décadas foram de plena desconstrução da fama e da estrutura citrícola da cidade. De propriedade dos citricultores, a Frutesp foi vendida para grupo multinacional, permanece em funcionamento, mas não gera mais tantos empregos e parte da laranja que processa é colhida dos próprios pomares da empresa.
Os apanhadores de laranja que restaram estão na mais absoluta miséria. Ganham pouco durante a safra, as indenizações trabalhistas que recebem, mal dão para passar o resto do tempo quando não há o que colher. Muitos abandonaram o oficio e só ficou quem não arrumou melhor trabalho.
O visual verde escuro da zona rural de Bebedouro foi desbotando até chegar à cor dos canaviais. Os produtores de laranja foram desanimando com os preços baixos pagos pelas indústrias. Muitos arrendaram suas terras para usinas de álcool.
Para piorar, os citricultores que ainda resistem com seus pomares, estão ameaçados de sofrer outro prejuízo com a chegada da maior praga atual: o Greening. Historicamente, Bebedouro estava na região menos afetada pela doença citrícola. Como ainda não há tratamento, a única saída é a erradicação pelo fogo. Infelizmente teremos que nos acostumar em ver se tornar cinza, a cultura que mais deu orgulho para a história da cidade.
A educadora Maria Olivia Vilela Sgarbi, professora da rede pública e do Unifafibe, dá uma pista de qual poderia ser o futuro de Bebedouro. Investir no fortalecimento das instituições de ensino universitário e profissionalizante. Além de atrair a região para Bebedouro, em poucos anos teríamos uma considerável parcela da população com alto grau de instrução. Aliado ao bom padrão de vida e ao índice de criminalidade abaixo dos grandes centros, tudo isto poderia ser usado para trazer a Bebedouro, empresas cansadas do caos da Grande São Paulo.
Mas nada disso será rápido e nem acontecerá por osmose. O município só colherá frutos, se houver política pública, de mãos dadas com a iniciativa privada. E o mais importante de tudo: cultivando a paciência. O atual governo pode não ter tempo de colher os frutos politicamente, mas quem pensa na cidade, não pode limitar suas ações de olho nas urnas. O futuro da cidade depende do que for feito a curto, médio e longo prazos. Senão, o futuro de Bebedouro será torrado junto com os pomares.

Publicado na edição n° 9531, dos dias 6, 7 e 8 de abril de 2013.