

Corria o ano de 1857, quando Allan Kardec publicou em Paris “O Livro dos Espíritos”, contendo os princípios de sua doutrina sobre a natureza dos espíritos, sua manifestação e relação com os homens. Buscava promover uma aliança entre religião e ciência, voltada para o progresso moral e intelectual, em prol da fraternidade universal.
O livro alcançou grande repercussão, transpôs as fronteiras francesas e logo chegou ao Brasil, onde encontrou certa hostilidade católica, mas, também, a possibilidade de conviver com uma forma de ecletismo espiritualista, tendo em vista que vários fiéis adotaram a nova doutrina sem renunciar à crença oficial.
A primeira tradução foi publicada pela Livraria Garnier, do Rio de Janeiro, então capital federal, enquanto o primeiro centro espírita surgiu no ano de 1865, em Salvador, na Bahia. Apesar dos opositores, gradativamente a doutrina ganhou novos adeptos nas diversas regiões do país, principalmente na região sudeste.
A Proclamação da República, em 1889, trouxe consigo crescente processo de laicização da sociedade e de valorização da ciência, o que contribuiu para difusão de diversas ideias liberais, incluindo o kardecismo, cada vez mais aceito entre militares, profissionais liberais e intelectuais.
No início do novo século, diversos centros espíritas foram fundados no interior paulista, como o “25 de dezembro”, no ano de 1906, em Barretos; e o “Caridade e Fé”, em maio de 1908, em Jaboticabal. Na edição de 9 de agosto deste mesmo ano, foi publicado na coluna “Tribuna Livre” do “Jornal de Bebedouro” informativo comunicando a fundação de um centro espírita na cidade:
“A 6 do corrente mês, às 8 ½ da noite, effectuou-se, na residência do confrade José Garcia, nesta cidade, uma reunião preparatória dos irmãos spiritas aqui residentes, em número de 35, os quaes, sob a presidência do sr. coronel Luiz de Oliveira e Sousa, deram por instalada a agremiação spírita de Bebedouro. Sabbado, 8, effectuar-se-á uma nova reunião na qual será recebida o Guia e também designada a directoria definitiva do círculo, bem como lhe será dado o título distinctivo. Praz-nos noticiar aos confrades desta e doutras localidades que na reunião preparatória se obtiveram comunicações de alto valor e que assás animadoras são para os alevantados intuitos com que se fundou o círculo – todo dedicado ao bem da humanidade, tendo por norma os preceitos ensinados por Jesus. Domingo próximo, 9 do corrente, um dos nossos confrades fará uma conferência sobre o spiritismo.”
Após a realização da reunião anunciada, foi nomeada a primeira diretoria da entidade, assim formada: Presidente, Miguel Stamato; Vice-Presidente, José Garcia; Secretário, Arthur Aguiar; 2º Secretário, Norberto de Castro; Tesoureiro, Salvador Guarnieri; 2º Tesoureiro, João Gagliardi. No ano seguinte ao da fundação, passou a denominar-se “Centro Espírita do Calvário ao Céu”, funcionando provisoriamente na rua do Comércio, atual rua Vicente Paschoal.
Em 1912, o Centro recebeu do casal Miguel e Fanny Stamato a doação de terreno localizado na rua Rubião Júnior, no. 842, para a construção da primeira sede oficial, inaugurada no ano seguinte e onde permaneceu até 1940. Neste ano, após permuta realizada com a família Stamato, o Centro foi transferido para o endereço atual, na rua Cel. João Manoel, no. 763, no prédio construído pela instituição sob a presidência de Santo Xandó de Araújo.
No decorrer dos anos, visando ampliar as atividades doutrinárias e assistenciais, foram criados vários departamentos vinculados ao centro pioneiro, “Calvário ao Céu”, como o primeiro grupo de jovens fundado do Brasil, a “Mocidade Espírita de Bebedouro” (1931); assim como as “Proletárias do Bem” (1937); o “Albergue Noturno Samaritano” (1952) e o “Lar Espírita Jesus de Nazaré” (1971).
Desde 1908, outros centros espíritas foram fundados em Bebedouro, estando em atividade atualmente, além do Centro Espírita “Do Calvário ao Céu”: “Allan Kardec” (1935); Santo Agostinho (1966); “Centro Assistencial Espírita do Calvário ao Céu” (1973); “Raphael Latorre” (1978); “Anselmo Gomes” (1979); “Eurípedes Barsanulfo” (1982); “Casa Maria” (2000); “Laurentina Pereira Moreno” (2007); e a fundada mais recentemente, “A Caminho da Luz com Chico Xavier”, sendo todas filiadas a USE – União das Sociedades Espíritas.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição 10.792, sábado a terça-feira, 30 de setembro a 3 de outubro de 2023