O perigoso jogo da asfixia da internet

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Antonio Carlos Álvares da Silva

A notícia marcante do início do mês, por sua dramaticidade, foi a morte de um pré-adolescente – menos de 13 anos – em São Vicente. Ele estava participando de um desafio, com outros menores de idade, pela internet e redes sociais. Esse desafio tem o nome de “jogo da asfixia”. Os especialistas dizem que ele é conhecido no exterior pelo nome de “The choking game”. Sua prática é incentivada, sob o argumento que, após pendurar-se, o jogador acorda em estado de euforia, semelhante ao uso de drogas. Consiste em o participante colocar uma corda pendurada no alto no pescoço e pendurar-se. Ganha quem ficar o maior tempo pendurado. Em São Vicente aconteceu, o que acho previsível: O menor morreu enforcado. Embora essa notícia tenha sido destaque em todos os jornais e canais de TV, ninguém se deu ao trabalho de explicar o mecanismo e as consequências de quem se pendura pelo pescoço em uma corda. E esse mecanismo é conhecido, há séculos pelos legistas. Eu o estudei, faz 60 anos, nas aulas de Medicina Legal, na Faculdade de Direito. Asfixia significa como supressão do ato de respirar. Algumas doenças pulmonares podem levar à asfixia, mas em Medicina Legal é considerada asfixia, a morte causada por estrangulamento, enforcamento, esganadura e afogamento. Antigamente, suponha-se, que a constrição pela corda achatasse a cartilagem da laringe e da traqueia, fechando as vias respiratórias. Mas, geralmente, as coisas acontecem de forma diferente: O laço, ao apertar-se em volta do pescoço, interrompe de maneira violenta e repentina a ida de sangue, através das artérias, para o cérebro, bem como interrompe a circulação de retorno pelas veias jugulares. Isso causa um imediato desmaio – perda da consciência. Também acontecem perturbações cardíacas. Umas delas é uma síncope cardíaca, por inibição, que causa a morte. Todo esse mecanismo ocorre rapidamente e não pode ser controlado. Conclusão: Esse jogo desafiado na internet, caso não seja um faz de conta, não deve ser praticado, pois os riscos de morte são enormes. Seria útil, que esses esclarecimentos fossem passados aos adolescentes, para que tragédias, como a de São Vicente não se repitam.
(Colaboração de Antonio Carlos Álvares da Silva, advogado bebedourense).

Publicado na edição nº 10053, de 29 a 31 de outubro, 1º e 2 de novembro de 2016.