O que é um time de verdade

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Vera Lúcia Rodrigues

Tenho em várias ocasiões ultimamente me debruçado sobre a questão das equipes, uma vez que ao longo do tempo descobri que ninguém constrói nada sozinho.
E percebi mais ainda, as pessoas só seguem algo ou alguém quando realmente acreditam, admiram, e respeitam. Voces já devem ter visto em algum momento da vida, alguém dizer uma frase célebre do tipo AQUI QUEM MANDA SOU EU. E imediatamente você pensa, ainda bem que ele avisou, porque ninguém havia percebido.
Liderar um time é muito mais que mandar. É decidir, é escolher, optar por caminhos, às vezes se arriscar, às vezes apostar no incerto, é acima de tudo, se responsabilizar. E eu revivi esses conceitos intrinsecamente na última disputa pela Libertadores. Realmente acredito que o Corinthians deu uma lição de equipe, de conjunto, sem exagerados valores individuais. Foi onde os corintianos demonstraram efetivamente porque são chamados de timão, esclarecendo para quem não sabia, o que é ser corintiano.
Ficou claro para quem quisesse ver que que ser corintiano é mais que torcer por um time, é quase uma profissão de fé, um gesto permanente, um apaixonar-se de corpo e alma e acreditar no futuro do time.
Ser corintiano mesmo é sair embaixo de chuva para enfrentar fila, estádio cheio, mas se sentir compensado quando o juiz apita e a bola sai rolando. A emoção de ver o estádio lotado de camisa preta e branca, de um hino que sempre emociona a todos e de ver que o jogo de futebol é como a empresa que administramos, é um trabalho de equipe, um grande time, que às vezes sai em busca do tudo ou nada. A diferença entre um bom gol e uma boa venda não existe, porque ambos são resultado de um esforço enorme de todos os envolvidos.
Mas na verdade tive a oportunidade de perguntar a várias pessoas o que é ser corintiano (apenas para informação, sou santista) e percebi a dificuldade em responder, porque parece que é uma resposta inexplicável, um sentimento indecifrável, sendo que os filósofos poderiam até dizer que se trata de um estado de espírito, no que a torcida acrescentaria a palavra permanente. Porque corintiano não muda de ideia, corintiano não muda de time. Corintiano é sempre convicto, e se constitui em um povo à parte, com regras e convicções próprias. Por exemplo, como explicar 70 mil pessoas no Maracanã naquele 5 de dezembro de 1976, onde ocorreu o maior deslocamento da história recente em tempos de paz, quando a Fiel invadiu o Maracanã para acompanhar o Timão no duelo contra o Fluminense, pela semifinal do Campeonato Brasileiro daquele ano. Calcula-se que metade dos 146.043 presentes naquele jogo eram corintianos. Há quem diga que os alvinegros até superavam os tricolores em presença no estádio. A invasão é lembrada até hoje e foi provavelmente o maior agrupamento humano em função de um evento esportivo.
E quando houve o rebaixamento? Quem deixou de ser corintiano por isso? Quem verdadeiramente se abalou? Nada, apesar de nenhum corintiano entender como foi a queda naquele 2 de dezembro de 2007, a paixão pelo time só aumentou. Parece que havia um pacto subliminar que deveria fortalecer ainda mais a torcida no sentido de reconduzir o time ao lugar de onde ele nunca deveria ter saído, ou seja, a primeira divisão. E foi exatamente o que aconteceu.
É muito difícil entender como um número absurdo de pessoas passa 23 anos sem um título e se apaixonando ainda mais pelo time. Alguém já disse que ser corintiano é uma obsessão, acho que paixão é o termo mais adequado.
Fico sempre pensando que se conseguíssemos organizar a sociedade como uma torcida de futebol, talvez o País fosse mais interessante, porque teríamos paixão, envolvimento, solidariedade, que é tudo o que deveria caracterizar um bom cidadão e tudo o que caracteriza um bom corintiano.
Corintiano não é católico, evangélico, espírita, corintiano é corintiano e essa é uma auto-definição.
Corinthians não é vitória, não é derrota, não é nada que se possa definir.
Corinthians é Corinhians.E parabéns aos Corintianos pela Libertadores.
(Colaboração de Vera Lúcia Rodrigues, jornalista e mestre em Comunicação Social. E-mail: [email protected])

 

Publicado na edição n° 9434, dos dias 7 e 8 de agosto de 2012.