“O que teremos para o jantar em 2030?”

Oswaldo Junqueira Franco

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É, parece que o futuro chegou. O ano de 2030 está logo aí, a apenas 11 anos de hoje. Estima-se que seremos 8.5 bilhões de pessoas no planeta, precisando de roupas, abrigo, transporte e sobretudo, de comida. Nesses 12 (ou 23?) mil anos de agricultura, nunca antes tivemos tantas bocas a alimentar. Apesar de todo avanço tecnológico, nós seres humanos ainda precisamos nos alimentar todos os dias.
As tendências observadas ao longo do século passado e início desse, de aumento da urbanização e da renda, devem continuar. Estima-se que teremos 90% da população mundial morando em cidades, e que 60% dessa população será de classe média. Gente mais urbanizada e próspera demandará mais alimentos industrializados e, em particular, proteínas. E essa demanda coloca uma enorme pressão sobre a oferta global de alimentos.
Nos últimos 40 anos, o uso de tecnologia permitiu ao Brasil aumentar sua produção de grãos expressivos 406%, enquanto que a área plantada cresceu apenas 63%. Ganhos de produtividade permitiram uma economia de cerca de 129 milhões de hectares. O Brasil possui hoje 2/3 do seu território conservados como vegetação nativa, e conta com vastas extensões de pastagens degradadas que podem ser convertidas à agricultura. Com clima favorável e disponibilidade de solos e de água, o Brasil se consolida como o grande produtor de alimentos para o mundo.
Ainda assim, os desafios são imensos. Dados da Embrapa indicam que o Brasil precisará produzir grandes volumes de excedentes exportáveis, a fim de atender à crescente demanda mundial. Para ilustração, comparamos esses volumes com aqueles produzidos em 2017 por outros países.
No complexo grãos, teremos que produzir mais 20 milhões de toneladas de soja e 31 milhões de toneladas de milho, equivalentes a mais de uma China (15.2m tons) e uma Argentina (31m tons). No complexo carnes, serão necessárias mais 3.3 milhões de toneladas de carne bovina (ou uma Argentina, com 2.8m tons); 5.1 milhões de toneladas de carne de frango (ou uma India com 4.6m tons) e 1.6 milhões de toneladas de carne suína (ou um Canadá, com 1.9m tons). Por fim, o Brasil terá que produzir mais 7.1 milhões de bales de algodão, pouco menos que a produção do Paquistão em 2017 (8.2m bales).
Esse salto de produção só será possível através do uso intensivo de tecnologia para aumento de produtividade. A adoção de novas tecnologias demandará investimentos, ou seja recursos financeiros, a custos competitivos. Não apenas empréstimos bancários, mas também fontes adicionais, tais como soluções de “supply-chain finance”, o mercado de capitais e aportes por investidores. O acesso a essas fontes de financiamento demandará do Agronegócio uma gestão eficiente “da porteira pra fora”, somando-se assim, à excelência atingida na produção “da porteira pra dentro”, comprovada pelos resultados dos últimos 40 anos.
O que teremos pra jantar em 2030? O jantar ainda não está servido, então vamos trabalhar.

(Colaboração de Oswaldo Junqueira Franco, economista pela FEARP-USP e MBA em Finanças Corporativas pelo IBMEC, sócio da Agronomics, consultoria de gestão especializada no Agronegócio).

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Leia mais na edição 10374, de 16, 17 e 18 de março de 2019.