O tamarindeiro da Praça Barão do Rio Branco: há mais de cem anos testemunha da história bebedourense

José Pedro Toniosso

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Nos registros de 1949 e 2004, a exuberância do tamarindeiro permanece diante das transformações na paisagem urbana. (Fontes: Anuário de Bebedouro, de 1960; Casseb, 2004, p. 47).

Há décadas na praça Barão do Rio Branco, na lateral da rua XV de Novembro, uma grandiosa árvore resiste às intempéries naturais e aquelas impostas pelo homem: trata-se do “velho tamarindeiro”, testemunha de inúmeros momentos históricos da cidade, daqueles que em sua sombra pararam ou de todos que por ali passaram.

Sua origem é um tanto incerta, ao longo do tempo o seu plantio foi atribuído a diferentes pessoas e datas. Entre vários registros, há o do pesquisador Arnaldo B. Christianini que afirmou categoricamente que o tamarindeiro foi plantado pelo médico dr. Brandao Veras, que teria solicitado o envio de sementes do fruto de sua terra natal, o Maranhão.

Manoel Colaço Brandão Veras, este era o seu nome completo, se mudou para Bebedouro ainda no final do século XIX, tendo adquirido notoriedade com o atendimento médico prestado às famílias bebedourenses, inclusive na epidemia de alastrim ocorrida em 1911. Na política, além de ter atuado como vereador, foi intendente nos períodos de 1899 a 1901 e de 1906 a 1908.

A praça em que o tamarindeiro foi plantado era inicialmente conhecida como o “Parque Municipal”, tendo sido reurbanizada em um dos mandatos do dr. Brandão Veras, que o transformou no “Largo do Jardim”, que incluía as duas atuais praças centrais. A partir de 1912 a praça passou a se chamar “Barão do Rio Branco”, em homenagem a este ilustre diplomata brasileiro, e somente em 1947, foi dado o nome do Monsenhor Aristides da Silveira Leite à praça da Igreja Matriz

Desde seu plantio o tamarindeiro resistiu a todas as reformas ocorridas na praça, inclusive a de 1922, quando o engenheiro Walderico Clemenceau Veras, filho de Brandão Veras, foi responsável pelo projeto de modernização, que incluiu a colocação de segmentos simétricos de canteiros, globos de iluminação, calçadas com pastilhas e o coreto de ferro.

Nas décadas seguintes, muitas intervenções ocorreram na praça Rio Branco e na Monsenhor Aristides, assim como no entorno de ambas. Entre as mudanças realizadas, destaque para a construção da nova Igreja Matriz de São João Batista, que recebeu a benção episcopal de inauguração em 1926, após 15 anos de obras.

Nos anos de 1920, prédios imponentes foram edificados para sediar agências bancárias como Banco do Comércio e Indústria de São Paulo, Banco Francês e Italiano e Banco do Brasil. Nas décadas seguintes, outras construções somaram-se a estas, incluindo estabelecimentos comerciais, residências e instituições.

O tradicional coreto, presente na praça Rio Branco desde a época do plantio do tamarindeiro e que por tantos anos encantou as famílias bebedourenses com os variados programas musicais, não resistiu ao tempo, sendo demolido no final de 1960 para ceder espaço à Fonte Sonoro Luminosa ‘Gazeta de Bebedouro’ e à Concha Acústica, inauguradas respectivamente em 1961 e 1963.

Em ambas as praças, por várias vezes houve modificações no ajardinamento, no calçamento e no sistema de iluminação; houve recuo das calçadas laterais para construção de estacionamento e alargamento das ruas do entorno. Foram instalados diversos monumentos, dedicados a personalidades históricas, marcos comemorativos e instituições. Outras agências bancárias, estabelecimentos comerciais e edifícios de andares surgiram, a paisagem se modificou.

Apesar de tantas transformações, o tamarindeiro resistiu e ali permaneceu exuberante, com sua grandiosa copa. Entre tantas inspirações que certamente provocou, muitas estão registradas na poesia do poeta emérito Osvaldo Schiavon”, que em 1958 escreveu “O Tamarindeiro”, publicado em seu livro “Alvorada e Crepúsculos”:

Tamarindeiro redondo

da Praça Rio Branco,

já velho, ainda verde,

passarinhos cantando

no copa do bonito,

trocando carícias

nos ninhos ocultos,

crianças em roda,

ciranda feliz,

namorados amando

no banco de pedra

que circunda teu tronco

com letras gravadas,

velhinhos tristonhos,

derradeiros suspiros,

luar que se esconde.

Testemunha silenciosa

de cenas arrojadas,

juras e beijos,

ciúmes incontidos,

amor e poesia,

risos e lágrimas,

sonhos fracassados,

sentinela avançada

dum futuro duvidoso,

coroa de saudade

dum passado agonizante.

Tamarindeiro redondo,

confidente dos pais,

confidente dos filhos,

gerações que sonharam

à sombra gentil,

folhas caídas

que o vento carrega

como os dias da vida

que o tempo devora.

Bebedouro te ama,

inspirador divinal

de romances sublimes,

arquiteto glorioso

de imponentes castelos,

animador incansável

das vidas que surgem

em cirandas de amor

à tua copa abrigadas.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)

Publicado na edição 10.840, de quarta a terça-feira, 1º a 7 de maio de 2024