Órfãos da Terra é novela digna de estar na faixa das 9

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Folhetim dos bons – A atual novela das seis da Rede Globo é tão boa que chega a vencer a das nove, no quesito qualidade. (Paulo Belote / Rede Globo)

Desde que estreou na tela da Rede Globo, em 2 de abril, ‘Órfãos da Terra’, novela das seis escrita por Duca Rachid e Thelma Guedes, surpreende a cada capítulo. Nas sequências que foram ao ar entre quinta-feira (2) e sábado (4), o vilão Aziz, interpretado brilhantemente por Herson Capri, chegou ao Brasil, para tentar impedir o casamento da mocinha Laila (Julia Dalavia) com o mocinho Jamil (Renato Góes).
Após ameaçar os noivos na cerimônia, o vilão foi preso em flagrante e, a partir daí, a novela que já caminhava bem, apresentou reviravoltas inimagináveis e que deixou todo mundo enlouquecido. Na cadeia, Aziz recebeu a visita de Rania, personagem de Eliane Giardini que descontou ali, na cara do vilão, toda sua raiva, mostrando ao público que os dois se conhecem e se odeiam a um bom tempo.
A este ponto da trama, o telespectador já sabe que Rania é mãe de Soraya, personagem de Letícia Sabatella, a primeira mulher de Aziz, que foi morta por ele, capítulos antes. Giardini por sinal, está em excelente papel e com grandes possibilidades de ganhar ainda mais destaque no decorrer desta história.
Voltando para as sequências do casamento dos protagonistas, com a prisão do vilão e os mocinhos em lua de mel, as autoras provaram que é possível, ainda, inovar em uma história, no século 21, reunindo clichês e os ingredientes tradicionais de um bom folhetim. Pois bem, Aziz conseguiu liberdade provisória e logo, com a ajuda de Camila (Anaju Dorigon), conseguiu informações sobre o paradeiro do casal e, rapidamente, dirigiu-se para o local, com o intuito de acabar com os dois.
Nesta etapa da história, muitos personagens estavam com raiva de Aziz e querendo vê-lo bem longe de suas vidas e quando os pais de Laila os aguardavam para apresentá-los à nova casa, barulhos de tiros foram ouvidos e quando todos saíram, o vilão estava baleado no meio da rua e Laila segurava uma arma.
Mais tarde, no hospital, o sheik morre pedindo para Jamil cuidar de sua filha Dalila (Alice Wegmann) que está na Síria. É a partir deste ponto que surgiu na novela, a famosa pergunta que provavelmente será carregada até o final: Quem matou Aziz? Pode parecer clichê, mas a ideia das autoras em assassinar o vilão principal da trama com apenas um mês de novela no ar é uma ousadia absurda e que pode dar muito certo.
Neste um mês no ar foi possível testar o talento já conhecido de Wegmann como vilã. A atriz está arrasando em suas cenas e já consegue ser odiada por sua Dalila, cheia de mágoa por ter sido trocada por Laila, já que sempre foi apaixonada por Jamil. Agora, quem fica a cargo das maldades da trama é ela.
A lista de suspeitos pelo assassinato deve ganhar mais força ao longos dos próximos capítulos e, com certeza, muitas surpresas ainda estão guardadas pelas autoras. Mas, de fato, o que faz a crítica desta semana ser sobre a novela das seis, não é apenas as cenas emocionantes e surpreendentes citadas acima, mas a qualidade e capricho com que tudo é produzido.
Começando pela temática: abordar a guerra na Síria é um assunto bastante delicado e necessário, até porque muitos não sabem o que, de fato se passa lá. Mas, vale sempre lembrar, a guerra é apenas o plano de fundo para a história ficcional que Rachid e Guedes querem contar. As autoras apresentam também a cultura dos sírios, lembrando muitas vezes algumas novelas de Glória Perez, como ‘O Clone’ e ‘Caminho das índias’.
A direção de fotografia da novela (comandada por Alexandre Fructuoso) é o que mais se destaca. As cenas da morte do sheik Aziz foram surpreendentes pela atuação, como já citado, mas a emoção transmitida pelas cores frias propostas pela direção deram o toque final para o resultado.
Realmente, capricho é o que não falta nesta novela. Narrativa impecável, direção geral (de André Câmara), direção artística de Gustavo Fernández e direção de fotografia caminhando perfeitamente juntas como tem que ser e a atuação de todos os atores é inquestionável. ‘Órfãos da Terra’ dá um verdadeiro banho em ‘O Sétimo Guardião’, atual novela das nove e merecia estar lá, em seu lugar.
É preciso enaltecer sempre o talento de quem manda bem na teledramaturgia nos dias de hoje, pois está cada vez mais raro encontrar novelas que despertam vontade de continuar assistindo o capítulo seguinte. Por falar em despertar curiosidade, outra grande sacada para permanecer conectado a este folhetim são os ganchos, que sempre deixam o telespectador morto de raiva pelo capítulo acabar na melhor parte. É uma forte candidata ao Emmy Internacional, afinal, as autoras já venceram uma vez com a produção de ‘Joia Rara’.

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Publicado na edição 10393, de 11 a 14 de maio de 2019