‘Não, Não Olhe!’ ou no título original ‘Nope’, chegou aos cinemas e é do diretor Jordan Peele, ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Original por ‘Corra!’, em 2017. Ele é considerado um dos maiores nomes do cinema de terror moderno e neste novo longa, traz a narrativa de dois irmãos, interpretados por Daniel Kaluuya e Keke Palmer. Os dois tornam-se testemunhas de alguns eventos considerados aterrorizantes e que remetem a presenças extraterrestres.
Ao longo da narrativa, o público é surpreendido, várias vezes, em diversos aspectos, seja pela ousadia do diretor, pela criatividade do roteiro ou pela brilhante interpretação dos atores. A ousadia maior, com certeza, fica a cargo da direção de Peele, que consegue incluir movimentos de câmeras inusitados que instigam o espectador a todo o momento e o faz pensar, sequência após sequência, onde tudo aquilo vai dar.
Quando a presença inesperada surge e fica evidente tanto para quem assiste quanto para os personagens, a identificação pode ser interpretada de diversas formas e talvez seja este o gancho principal da trama: fazer refletir. Enquanto os protagonistas lutam para driblar a presença inunista e tentam entender o que acontece, outros personagens surgem trazendo referências que não estão tão distantes da realidade de quem está sentado na cadeira do cinema.
Apenas para citar uma delas, entro no mérito da arte da espetacularização. Afinal, até onde as pessoas são capazes de ir por um espetáculo, para atrair a audiência ou, até mesmo, marcando mais presença neste 2022, para atrair mais seguidores? Isto está nas entrelinhas do filme o tempo todo e sua percepção fortíssima se dá pelo roteiro muito bem montado e por diálogos que podem parecer cansativos, mas que são essenciais.
‘Nope’, é um filme para se prestar atenção. Não se pode tirar o olho da tela, não se pode piscar. A sonoplastia ajuda bastante neste quesito e os momentos que provocam susto em quem assiste são minimamente calculados. São várias as sensações que entregam sustos imediatos até aquela sensação amedrontada que vai se construindo aos poucos, ao longo da sequência, enquanto a cena se desenrola. É um mistério muito bem construído, cheio de camadas a serem exploradas e que, com certeza, faz com que os admiradores do gênero precisem ver o filme novamente e prestar atenção em detalhes que não são perceptíveis num primeiro momento.
Voltando aos perfeitos enquadramentos pensados pelo diretor, o close-up é bastante explorado, principalmente na cena final, deixando isto tornar-se uma marca de sua direção. O diretor também abusa do plano geral e usa muito a câmera em constante movimento, principalmente em sequências quando o suspense está aflorado e a sonoplastia cresce seu tom.
Para quem ainda não viu, vale a pena o ingresso, a pipoca e o refrigerante do cinema. ‘Nope’ é para pensar. É entretenimento, mas é obra de arte, é uma analogia ao mundo em que vivemos, ao que fazemos uma alusão a tantas coisas que nos ativam o sininho da reflexão. Com tamanha ousadia, o longa é para ser apreciado mais que uma vez.
Continuação – O próprio diretor disse que o longa pode ganhar continuação, em entrevista ao The New York Times, publicada na terça-feira (30 de agosto).
Publicado na edição 10.697, de sábado a sexta-feira, 3 a 9 de setembro de 2022.