O dia reservado aos pais não chega a ser tão celebrado como o dia das mães. O próprio exclamar “odiados pais”, sem separar os três verbetes, dá margem a indesejável conteúdo. Pai tem de ser amado, não odiado. Em regra, no decorrer de sua existência, ele passa por todos os tons de sentimento.
Quando o filho é pequeno, o pai é a força, a energia, a segurança. Os ombros que carregam a cria. Leva ao colo o seu fruto e quando a criança está no alto, sente-se protegida e privilegiada.
O tempo vai passando e a criança é um adolescente quase sempre rebelde. Agora pensa que já sabe tudo o que é preciso e não admite ordens paternas. Disciplina, horário, vedações ou recomendações, tudo cheira a autoritarismo.
Não é raro seja a mãe o para-raios, a intercessora, aquela que tudo compreende e tudo perdoa. O pai é a segunda instância, quase sempre irrecorrível. Absorve todo o inconformismo se quiser que a sua orientação prevaleça.
Difícil exercer uma paternidade responsável nesta era em que somos manipulados pelos algoritmos e os pais não sabem o que fazer para manter um parâmetro em relação a filhos que são nativos digitais e são nutridos, diuturnamente, pelas redes sociais.
Mais grave ainda, há pais desempregados. Os filhos são vítimas do consumismo, de um poderoso marketing que faz com que a sofisticação se converta em item de primeiríssima necessidade.
Como chegar em casa, depois de um dia em busca de trabalho, sem poder oferecer aos alimentandos aquilo que é considerado o mínimo existencial?
Pais ainda são considerados os provedores, os responsáveis pelo sustento, os pilares sobre os quais se assenta o lar, ou o que restou dele, para milhões de miseráveis neste Brasil tão rico, mas tão desigual.
Os privilegiados filhos que têm pais capazes de suprir suas carências, têm de ser gratos à Providência e honrar seus genitores. Os que já perderam seus pais, talvez os valorizem até mais do que os não órfãos.
O pai, seja como for, é sempre um herói. Trouxe ao mundo, na parceria com a mãe, uma nova experiência vital. Sente-se copartícipe do milagre da criação. Salvem os pais, todos os pais, neste desafiador 2021.
Imã de talentos
Como fazer para que o Brasil volte a ser um país em crescimento integral? Isto quer dizer, entre outras coisas, uma terra em que seus jovens tenham mais do que perspectivas de vida: tenham a certeza de um futuro decente.
Hoje eles não têm essa perspectiva. Por isso é que mais da metade dos jovens entrevistados em recente pesquisa, pretendem deixar o Brasil. Dentre os nossos rankings, pode-se acrescentar mais um: o de maior exportador de cérebros.
Compreensível a desilusão da mocidade. A educação patina em mediocridade e insiste em fazer com que o educando decore informações que encontra mais atualizadas e mais completas nas redes sociais.
Ninguém acredita que o discurso antigo sobre o diploma hoje possa merecer aceitação perante os nativos digitais. Milhares de diplomados não têm emprego. Não há incentivo estatal para o empreendedorismo. Esta seria a chave essencial rumo a uma reversão de rotas. Mas empreendedorismo não nasce por geração espontânea. Precisa de política nacional levada a sério. Mais do que política e estatal, ora em descrédito, face à agonia da democracia representativa.
Insiste-se, na educação pública, em oferecer vagas para carreiras já saturadas. Negligencia-se a orientação para a pesquisa, para as ciências exatas, para a criatividade e para o desafiador encontro com a incerteza.
Enquanto outros países estão preparados para oferecer à sua juventude opções de subsistência digna, diante da profunda disrupção da Quarta Revolução Industrial, o Brasil se conforma com o retorno à condição de exportador de commodities.
Nem se abala com a transformação que o setor vem sofrendo no planeta, com a adoção do conceito ESG. Ao contrário, persiste no extermínio da floresta, território insondável e que mereceria consistente exploração, para comprovar que a bioeconomia, a sustentabilidade, a descarbonização e o turismo são as portas abertas para o verdadeiro progresso brasileiro nas próximas décadas.
A continuar a política de “cabra-cega”, a migração de cérebros continuará, em direção aos países que, sensatamente, se transformaram em verdadeiros ímãs de talento.
(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente de pós-graduação da Uninove e Presidente da Academia paulista de letras – gestão 2021 – 2022)
Publicado na edição 10.600 , de 11 a 13 de agosto de 2021.