

A Netflix acertou em cheio quando produziu ‘Pedaço de Mim’, criada e escrita por Ângela Chaves e com direção de Maurício Farias. A trama protagonizada por Juliana Paes e Vladmir Brichta chegou ao catálogo na última semana e conquistou a terceira colocação no ranking mundial no streaming, sendo que no Brasil está em primeiro lugar entre as produções mais assistidas.
Com 17 episódios, a narrativa fala de Liana (Juliana Paes) que engravida de gêmeos de pais diferentes. Um dos bebês é do marido Tomás (Brichta) e o outro de Oscar (Felipe Abib). Isto acontece porque a personagem estava tentando ter um filho com o marido e no mesmo período da tentativa foi estuprada por Oscar, resultando na gestação rara chamada superfecundação heteroparental.
A trama é repleta de drama e muito bem estruturada pela autora. Chaves, inclusive, foi a responsável pelo sucesso do remake de ‘Éramos Seis’, na Globo e Farias, renomado diretor também da Globo, com seu último trabalho artístico em ‘Um Lugar Ao Sol’, novela que foi inteiramente gravada durante a pandemia.
A estreia de ‘Pedaço de Mim’ movimentou a internet com as discussões apresentadas pela trama, todas fortes e complexas, mas também dividiu opiniões sobre o gênero: Afinal, é série ou novela?
Quando anunciada, a Netflix pediu à autora uma novela, por conta do sucesso que ‘Todas as Flores’ vinha fazendo no Globoplay e pela Max estar produzindo duas novelas, ‘Beleza Fatal’ e o remake de ‘Dona Beja’. Não à toa, o streaming encomendou a obra para uma autora de novelas e contratou um diretor também experiente neste gênero. Os protagonistas da trama, Paes e Brichta, conhecidos do público do sofá pelas novelas, e ainda um elenco de peso que também tem experiência no assunto, os casos de Jussara Freire, Palomma Duarte, João Vitti e Antônio Grassi, por exemplo.
Acontece que para o mercado brasileiro, a Netflix está chamando a obra de série, mas para o internacional, a trama é vendida como novela melodramática brasileira, pelo fato dos estrangeiros estarem acostumados e gostarem do nosso produto.
A forma como tudo foi produzido deixa ainda mais dúvidas entre os gêneros. As características de novelas estão muito enraizadas na obra. Os ganchos bem pensados, a construção da narrativa, os diálogos densos e até mesmo as atuações. Por outro lado, a edição é dinâmica, cortes rápidos e a maneira de introduzir os episódios remetem mais aos seriados. Nada que um não possa complementar o outro. A presença de núcleos paralelos também demonstra mais um ponto a favor da novela. No entanto, a não exploração destes núcleos que realmente ficam em segundo plano, apesar de seus arcos serem bem construídos, dão ponto para o lado da série.
Por falar nos paralelos, se a autora tivesse mais cinco ou dez episódios para trabalhar, certamente seriam mais bem explorados e mais sequências eletrizantes e emocionantes seriam entregues ao público. Isto, na verdade, é só um comentário, pois a não exploração dos personagens secundários e seus conflitos não deixam a história enfraquecida.
No mais, ‘Pedaço de Mim’ cumpre o que promete e entrega emoção, melodrama e muitas, mas muitas cenas de tirar o fôlego. Vale a pena a maratona e que a Netflix abra os olhos para este tipo de produção. Que ela chame como quiser, de série ou de novela, mas que entenda que o público, não só brasileiro, mas de todo o mundo, gosta do bom e velho melodrama.
Publicado na edição 10.856, de sábado a terça-feira, 13 a 16 de julho de 2024 – Ano 100