Por que ‘A Dona do Pedaço’ é um sucesso e qual o desafio de ‘Amor de Mãe’?

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Sucesso – A protagonista de ‘A Dona do Pedaço’, Maria da Paz, vivida por Juliana Paes venceu um concurso na novela e visitou o programa de Ana Maria Braga em cenas exibidas na quarta-feira (30 de outubro). (Gshow/Fabiano Battaglin)

É difícil explicar um sucesso quando se trata de um produto audiovisual. Isso porque, se analisar todos os grandes fenômenos, sejam eles filmes, novelas ou séries, a diversidade é imensa. Podemos começar definindo o sucesso em três vertentes: a primeiro é quando o sucesso vem acompanhado de alta audiência, alta qualidade de produção no sentido geral e críticos satisfeitos. O segundo tem a ver com o sucesso acompanhado apenas de audiência boa e, a terceira vertente se diz respeito àquele sucesso que tem alta produção e críticos satisfeitos, mas não tem audiência.
A atual novela das nove da Globo, ‘A Dona do Pedaço’ se enquadra exatamente na segunda vertente do sucesso. O público ama, a audiência dificilmente fica abaixo dos 40 pontos (lembrando que a meta estabelecida para o horário é de 35), mas os críticos não concordam. Dia sim, dia também, sai uma crítica negativa sobre a trama de Walcyr Carrasco, todas mais propriamente voltadas ao texto raso do autor.
No entanto, é explicável o sucesso da trama de Maria da Paz (Juliana Paes). Primeiro porque a novela é popular, a protagonista conquistou a empatia do público e o carisma de Paes contribui para isso. Carrasco pode apresentar buracos em seu roteiro, mas sabe como ninguém construir personagens carismáticos e que vão criar identificação com o telespectador. Com isso, a audiência sobe, as empresas querem patrocinar e o faturamento chega. A qualidade não é de se admirar, mas a classe alvo está sendo atingida com sucesso, isso ninguém pode criticar.
A substituta ‘Amor de Mãe’, estreia em 25 de novembro. O texto é assinado por Manuela Dias, consagrada pelas séries ‘Justiça’ e ‘Ligações Perigosas’. Ao lado dela, assinando a direção artística, está José Luiz Villamarin, competente no que faz e que já tem no currículo ‘Avenida Brasil’, ‘O Canto da Sereia’, ‘Amores Roubados’, ‘Mulheres Apaixonadas’ e a própria ‘Justiça’, em parceria com Manuela.
O desafio será grande: manter a mesma audiência da trama de Carrasco. No entanto, muito se pode esperar de Dias, já que levando em consideração suas obras anteriores, o texto é inteligente, é instigante, levando o espectador a pensar e refletir, afinal, é isso que ‘Amor de Mãe’ propõe. Com isso, já é fácil saber que Manuela Dias e Walcyr Carrasco são completamente diferentes na maneira de conversar com o telespectador.
Essa diferença é boa, pois dá opção ao público de consumir produtos diferentes, mas a trama pode ser prejudicada pela narrativa oposta e, também, pela data de estreia (estrear no final do ano não é interessante). Pensando assim, ‘Amor de Mãe’ pode enquadrar-se no sucesso número 1, quando os críticos estão satisfeitos, a produção tem alta qualidade e a audiência estará alta. O jeito é esperar.
Para explicar melhor, um exemplo da primeira vertente é a recente ‘A Força do Querer’, a trama de Glória Perez, exibida em 2017, tinha tudo o que uma boa novela precisa: roteiro e direção alinhados, audiência alta e críticos satisfeitos.
A segunda vertente, aplica-se na própria ‘A Dona do Pedaço’ e também na anterior novela de Carrasco ‘O Outro Lado do Paraíso’ em que a audiência era altíssima, os críticos detestavam e o roteiro tinha muitas pontas abertas. E a terceira, é possível citar ‘Lado a Lado’, trama de 2012, com produção alta, críticos satisfeitos, vencedora do Emmy Internacional, porém de fraca audiência.
Mesmo com isso, abro um parêntese no final deste texto para enaltecer minha admiração por Walcyr Carrasco, que faz uma novela por ano e todas, absolutamente todas, sucesso de público e crítica, mesmo que negativa. Carrasco tem o dom de fazer todos comentarem sua obra e sabe, mais do que ninguém, causar a provocação nas pessoas. Que saia Carrasco e que Manuela Dias tenha êxito em sua primeira novela.

Publicado na edição nº 10441, de 2 a 5 de novembro de 2019.