Professor Augusto Pinto Vieira da Silva – fundador, diretor e professor do Gymnásio Luso-Brasileiro, posteriormente denominado Ginásio Municipal de Bebedouro. Foto: acervo do autor

As primeiras escolas de ensino elementar em Bebedouro surgiram ainda no século XIX, inicialmente pela iniciativa dos mestres-escolas, que lecionavam em suas próprias casas, e posteriormente, pela criação de escolas oficiais pelo governo estadual e municipal.

Quanto ao ensino secundário, no início do século passado surgiram alguns colégios particulares de pequeno porte que ofereciam esta modalidade, porém os cursos não eram reconhecidos oficialmente, funcionando muitas vezes apenas como preparatório para o ingresso em ginásios ou colégios localizados em cidades maiores.

Este cenário seria modificado no ano de 1922, quando foi fundado o Gymnásio Luso-Brasileiro, estabelecimento que quatro anos depois se tornaria o Ginásio Municipal de Bebedouro, o primeiro da cidade a obter o reconhecimento oficial do governo federal, sendo equiparado ao Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro.

Entre os profissionais que atuaram no Luso-Brasileiro e no Municipal destaca-se o nome do professor de origem portuguesa Augusto Pinto Vieira da Silva, nascido em 27 de outubro de 1884, no distrito de Aveiro, Portugal. Fez seus estudos primários no Porto e depois seguiu para Coimbra, onde fez a faculdade de Filosofia e Teologia.

Em 1919 veio para o Brasil, indo residir em Niterói, onde começou a lecionar. No ano seguinte mudou-se para São Paulo, sendo professor e vice-diretor do Ginásio Anglo-Latino.

Em 1922, atendendo indicações feitas por patrícios moradores em Bebedouro, mudou-se para esta cidade com a família, onde fundou no mesmo ano, o Gymnásio Luso-Brasileiro, localizado inicialmente na rua Alfredo Ellis, atual rua Dr. Oscar Werneck. Era o início da trajetória de uma instituição que seria responsável pela formação de inúmeros jovens não apenas de Bebedouro, mas de toda a região.

Em suas reminiscências publicadas na Gazeta de Bebedouro em 1984, Dr. Ramiro de Souza Lima, que foi o primeiro aluno matriculado no Luso-Brasileiro, assim se referiu ao professor Augusto Vieira: “[…] seu fundador, dono e diretor (do Gymnásio) era um homem amável, muito culto e enérgico. Professor de português, pertencia àquele grupo de mestres vindos de Portugal no primeiro quartel do século (XX). […] Devo-lhe a maior parte da minha formação secundária e devo-lhe sobretudo à orientação que à minha educação, durante quatro anos em que foi meu professor. […] Ao dr. Augusto como todos os chamavam, deve esta cidade o início do ensino secundário, a formação e o preparo de numerosos jovens que encontraram no seu ginásio o começo de duas vidas em direção às Universidades.”

Logo o prédio se tornaria pequeno, o que levou os vereadores e o prefeito Antônio Alves de Toledo a iniciarem uma campanha popular visando à construção de um edifício próprio e que fosse adequado para atender à crescente procura. A intensa participação da sociedade local, incluindo a destacada participação do professor Augusto Vieira, permitiu que, em menos de dois anos, a obra estivesse concluída, sendo inaugurada em novembro de 1926.

No novo prédio, a escola continuou sob a direção de Augusto Vieira, porém passou a ser denominada Ginásio Municipal de Bebedouro, funcionando em regime de internato, semi-internato e externato, e com inspeção federal garantida, o que resultou em grande prestígio da Instituição em toda região.

Um dos alunos da primeira turma de ginasianos, Mario Mazzei Guimarães, também deixou registrado algumas lembranças sobre o diretor do Ginásio, conforme publicado na Gazeta de Bebedouro em edição de 1985: “Mas o grande mestre da ‘primeira turma’ era o próprio diretor, Augusto Vieira, formado em Coimbra, ensinava português e latim, as suas cadeiras prediletas, porém era pau para toda obra. Com ele, ao longo do curso, aprendemos também muita matemática, história universal e filosofia. […] O dr. Augusto era um didata de mão cheia, as suas aulas davam gosto. Também bom disciplinador, na classe ouvia-se o zumbir de uma mosca, salvo quando, emérito gozador, ele mesmo provocava álacres manifestações, debates, piadas e até vaias.”

Após nove anos de residência em Bebedouro, onde dedicou-se intensamente ao ensino, o professor Augusto Vieira transferiu-se para São Paulo, onde passou a lecionar no Colégio Mackenzie, vindo a falecer em 9 de fevereiro de 1951.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.878, de sexta a terça-feira, 4 a 8 de outubro de 2024 – Ano 100