
Bastam apenas um lápis e uma folha de caderno para Laércio Ravagani fazer o que ele mais sabe: colocar no papel idéias que se transformam em prosas e poesias. Em julho deste ano, Ravagnani, juntamente com seus ex-alunos da E.E. Abílio Manoel, Rodolfo Moreira de Castro Junior e José Ricardo da Silva, lançou em Bebedouro a obra “Mundéu”, que também reserva espaço para novos talentos da escola que comemora este ano, 100 anos de existência na cidade. Mas as novidades não param por aí, nas próximas semanas, mais um livro de Ravagnani será lançado, e ele garante que tem textos para mais 12 obras. Escrever pode parecer fácil, mas publicar os trabalhos é difícil. Ravagnani geralmente arca com os custos para presentear os leitores de Bebedouro e seus amigos com seu talento, descoberto quando ainda era adolescente. Desde pequeno, Ravagnani sempre trabalhou muito, a vida não foi tão fácil, mas hoje, professor aposentado, ele usufrui da tranquilidade da cidade onde escolheu viver. Todas as manhãs toma um café na praça central, para começar bem o dia, e parte para mais uma jornada de leitura e redação de contos, prosas e poesias.

GB – Em qual cidade nasceu? Quando foi?
Laércio – Não nasci na cidade, foi na zona rural! (risadas) Nasci na fazenda, que pertencia na ocasião a Franca, que era perto de São José da Bela Vista. Era a Fazenda Santa Rita, não sei se até hoje tem esse nome. Foi em 1933.
GB – Em 1947 o senhor veio para Bebedouro. Por que?
Laércio – Eu trabalhava em oficina de automóvel em São Joaquim da Barra, já morava lá, e um irmão meu mais velho que trabalhava com pintura de automóveis me trouxe para cá, para trabalhar com ele, em 1947.
GB – Então o senhor começou a trabalhar quando era bem novo, não é?
Laércio – Comecei com 11 anos de idade, na agência Chevrolet, em São Joaquim da Barra. Aqui moravam parentes da namorada do meu irmão, então quando ficou desempregado lá, veio para cá. Como precisava de um ajudante, me trouxe.
GB – O que se lembra da época de menino? O que costumava fazer?
Laércio – Comecei na verdade a trabalhar com cinco anos de idade, fazia aquilo que podia, trabalhava com animais na fazenda, ajudava a pegá-los no pasto… meu pai também não obrigava demais, achava que eu tinha que trabalhar mas respeitando as limitações. Eu trabalhava o dia inteirinho. Quase completando 11 anos nos mudamos para São Joaquim da Barra, entrei na escola em 1945, no Grupo Escolar, ou seja, comecei a ser alfabetizado com 11 anos de idade, enquanto outras crianças já tinha acabado. De manhã eu ía ao Grupo, começava às 7 e meia até o meio-dia, saía, ía em casa almoçar e já ía trabalhar. Meu pai arranjou emprego na oficina porque não queria ninguém na rua vagabundeando. Então do meio-dia até as 17h30 trabalhava lá, como aprendiz.
GB – Como encontrou Bebedouro quando aqui chegou? Como era a cidade?
Laércio – Era uma cidade pequena, esses bairros da periferia não existiam, era uma cidade onde hoje a gente chama de centro, Bebedouro era aqui, só isso. Uma cidade muito gostosa, pequena, com gente boa. A vidinha naquela época era bem diferente da de hoje. Cheio de sonhos, querendo fazer um monte de coisa, mas não podia, eu trabalhava dia e noite, das 7h30 às 22h30, a semana inteira, no sábado era só até as 17h e no domingo até o meio-dia. Eu falava para o meu irmão que queria estudar, mas ele retrucava: “estudar pra que? Se todo mundo estudar, quem é que vai trabalhar?!” Ele precisava de mim, então tinha que defender essa tese.
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Leia mais na edição n° 9436, dos dias 11, 12 e 13 de agosto de 2012.