Que tal parar de procrastinar em 2026?

Marcelo Hugo da Rocha

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Marcelo Hugo da Rocha, psicólogo clínico e autor do livro “A psicologia da procrastinação. Foto: Divulgação.

Enquanto o calendário muda de ano, a rotina segue parecida: prazos se acumulam, exames são adiados e conversas difíceis ficam para depois. A procrastinação não aparece apenas nas grandes decisões, mas em gestos cotidianos que vão sendo empurrados para a frente até se tornarem um peso constante. Surge quando se adia algo importante, mesmo sabendo das consequências, em troca de um alívio rápido para o desconforto emocional.

Do ponto de vista psicológico, a procrastinação funciona como estratégia de fuga. Diante de tarefas que geram ansiedade, tédio, medo de fracassar ou sensação de incapacidade, o cérebro busca rotas mais agradáveis: checar o celular, maratonar séries e inventar urgências que não existiam. Ganha-se tranquilidade temporária, porém, paga-se preço alto depois. O problema não está apenas na gestão do tempo, mas também no modo como a pessoa tenta manejar as próprias emoções diante de responsabilidades que exigem esforço.

A cultura do desempenho reforça esse cenário. Discursos de produtividade ilimitada prometem que todos podem dar conta de tudo, o tempo todo. Quando a realidade não acompanha esse ideal, muitos entram em um ciclo de autocrítica, vergonha e sensação de fracasso que favorece ainda mais o adiamento. A tarefa, que já era desconfortável, passa a carregar a culpa acumulada, o que torna o primeiro passo cada vez mais difícil.

Há caminhos mais realistas para 2026. Em vez de apostar em metas grandiosas e vagas, a psicologia recomenda objetivos específicos, compatíveis com a rotina e divididos em etapas pequenas. A ação não precisa nascer de motivação perfeita. Em muitos casos, o movimento vem primeiro, e a vontade se fortalece na sequência, à medida que o cérebro percebe avanços concretos. Reconhecer emoções difíceis, permitir-se sentir medo ou insegurança e, ainda assim, seguir com um próximo passo possível ajuda a desmontar o mito de que é preciso estar “bem” para agir.

Procrastinar não é sobre caráter. É um padrão que pode ser compreendido, questionado e ajustado com apoio e autoconhecimento. Transformar 2026 em um ano menos dominado pelo adiamento passa por trocas discretas, porém consistentes: priorizar o que importa um pouco mais a cada dia, abrir espaço para pausas verdadeiras em vez de fugas constantes e tratar a própria história com mais gentileza do que julgamento. O calendário muda sozinho. A mudança depende do que cada pessoa escolhe fazer entre um dia e outro.

(Colaboração de Marcelo Hugo da Rocha, psicólogo clínico e autor do livro “A psicologia da procrastinação”).

Enquanto o calendário muda de ano, a rotina segue parecida: prazos se acumulam, exames são adiados e conversas difíceis ficam para depois. A procrastinação não aparece apenas nas grandes decisões, mas em gestos cotidianos que vão sendo empurrados para a frente até se tornarem um peso constante. Surge quando se adia algo importante, mesmo sabendo das consequências, em troca de um alívio rápido para o desconforto emocional.

Do ponto de vista psicológico, a procrastinação funciona como estratégia de fuga. Diante de tarefas que geram ansiedade, tédio, medo de fracassar ou sensação de incapacidade, o cérebro busca rotas mais agradáveis: checar o celular, maratonar séries e inventar urgências que não existiam. Ganha-se tranquilidade temporária, porém, paga-se preço alto depois. O problema não está apenas na gestão do tempo, mas também no modo como a pessoa tenta manejar as próprias emoções diante de responsabilidades que exigem esforço.

A cultura do desempenho reforça esse cenário. Discursos de produtividade ilimitada prometem que todos podem dar conta de tudo, o tempo todo. Quando a realidade não acompanha esse ideal, muitos entram em um ciclo de autocrítica, vergonha e sensação de fracasso que favorece ainda mais o adiamento. A tarefa, que já era desconfortável, passa a carregar a culpa acumulada, o que torna o primeiro passo cada vez mais difícil.

Há caminhos mais realistas para 2026. Em vez de apostar em metas grandiosas e vagas, a psicologia recomenda objetivos específicos, compatíveis com a rotina e divididos em etapas pequenas. A ação não precisa nascer de motivação perfeita. Em muitos casos, o movimento vem primeiro, e a vontade se fortalece na sequência, à medida que o cérebro percebe avanços concretos. Reconhecer emoções difíceis, permitir-se sentir medo ou insegurança e, ainda assim, seguir com um próximo passo possível ajuda a desmontar o mito de que é preciso estar “bem” para agir.

Procrastinar não é sobre caráter. É um padrão que pode ser compreendido, questionado e ajustado com apoio e autoconhecimento. Transformar 2026 em um ano menos dominado pelo adiamento passa por trocas discretas, porém consistentes: priorizar o que importa um pouco mais a cada dia, abrir espaço para pausas verdadeiras em vez de fugas constantes e tratar a própria história com mais gentileza do que julgamento. O calendário muda sozinho. A mudança depende do que cada pessoa escolhe fazer entre um dia e outro.

(Colaboração de Marcelo Hugo da Rocha, psicólogo clínico e autor do livro “A psicologia da procrastinação”).