Risco e retorno na visão dos bancos

Oswaldo Junqueira Franco

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Você certamente já sabe que “receita menos custo é igual ao lucro”. Dentre seus variados custos, podemos destacar dois grandes grupos: os custos operacionais e os custos financeiros.
Apesar de todo sucesso e ganhos de produtividade ao longo dos últimos 40 anos, o Agronegócio vem assistindo a um aumento dos custos operacionais. Esses são imediatamente percebidos pelos produtores por estar diretamente ligados à produção. Mas e os custos financeiros?
A principal fonte de recursos ao Agronegócio vinha sendo o “Crédito Rural”, que oferece juros subsidiados pelo Tesouro Nacional para adequar custos financeiros a uma realidade de juros altos. Com que objetivo? Para garantir a produção de alimentos, que é estratégica e possui altos riscos intrínsecos, de natureza climática, biológica e fisiológica que resultam em margens apertadas.
Nos últimos anos, observamos uma queda das taxas de juros, com a taxa Selic atualmente em 6.5% ao ano. Com isso, o “Crédito Rural” perdeu seu grande diferencial e atratividade. Além disso, temos hoje um cenário de contas públicas deterioradas, reduzindo a capacidade do Governo de subsidiar o Agronegócio.
Dentre as principais fontes de financiamentos ao Agronegócio, destacamos os bancos, as tradings, as companhias de fertilizantes e de defensivos. Desses agentes, os bancos são os de maior aversão ao risco. Após a crise de 2008, os bancos estão submetidos a muitas restrições regulatórias quanto à suas bases e uso de capital. Com a concentração bancária que tivemos no Brasil, têm escolhido criteriosamente seus clientes.
Num setor onde poucos já se encontram suficientemente capacitados para acessar fontes alternativas de financiamentos, tais como os mercados de capitais e de “private equity”, o que o produtor pode fazer para ter acesso aos recursos necessários para aumentar a produtividade e entregar ao mundo a produção que ele demanda? A resposta é: melhorar o seu perfil de risco.
Melhores perfis de risco, conhecidos e classificados como “rating” ou “score”, reduzem o capital mínimo alocado nas operações de crédito. Portanto, para taxas iguais, o tomador de menor risco “consome” menos capital, resultando em um maior retorno, numa conta simples, de dividir a receita da operação pelo capital.
Portanto, em um cenário de competição dos bancos pelos melhores clientes, ao melhorar seu perfil de risco você abre espaço para negociar taxas mais baixas. A curto prazo, isso melhora sua relação com seus atuais financiadores. E a longo prazo, irá capacitá-lo para acessar outras fontes de recursos, a custos adequados, necessários a uma maior eficiência na sua atividade.

(Colaboração de Oswaldo Junqueira Franco, economista pela FEARP-USP e MBA em Finanças Corporativas pelo IBMEC, sócio da Agronomics, consultoria de gestão especializada no Agronegócio).

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Publicado na edição 10377, de 23, 24 e 25 de março de 2019.