Fundada em janeiro de 1914, a Santa Casa de Misericórdia contou com a constante colaboração da sociedade bebedourense e da região para oferecer atendimento a todos os segmentos sociais e nas variadas áreas médicas e cirúrgicas.
No entanto, os altos custos exigidos para a manutenção das atividades fizeram com que nos primeiros anos da década de 1930 a instituição estivesse na eminência de encerrar as atividades, sendo que a própria irmandade que fora criada para sua direção estava fragilizada devido à saída de vários membros.
Foi neste contexto que a direção decidiu convidar o Cônego Aristides da Silveira Leite, vigário da Paróquia de São João Batista para assumir a provedoria daquele estabelecimento.
O religioso fora indicado para esta empreita tendo em vista sua liderança no processo de dinamização da ação católica na cidade, incluindo, entre outras, a finalização das obras e regularização das contas da Igreja Matriz; a ampliação do catecismo e das associações, a construção do Colégio Anjo da Guarda e do Asilo São Vicente de Paulo.
Após a realização de duas assembleias gerais em 21 e 30 de agosto de 1933, a Irmandade da Santa Casa, presidida pelo Cel. Raul Furquim, aprovou a transferência da direção e administração ao Cônego, sendo-lhe conferidos amplos e ilimitados poderes.
Feita a escrituração de transferência, o novo provedor assumiu a direção em 1º de setembro e deu início às primeiras providências para viabilizar a continuidade do atendimento. Neste sentido, a primeira deliberação foi o fechamento da Santa Casa para a realização de reformas e a construção de novos pavilhões, sendo que para isso os doentes internados foram transferidos para o Asilo São Vicente de Paulo, sob a direção das Irmãs Passionistas, mesmo local em que ocorreu o atendimento ao público durante os cinco meses em que o hospital esteve em obras.
O antigo prédio passou por total reestruturação, mantendo a primeira fachada e ampliando-o com novos pavilhões, enfermarias, necrotério, refeitórios, farmácia, laboratório, rouparia, entre outros melhoramentos. Foi instalada também uma capela interna e uma gruta no parque central, ambas dedicadas à Nossa Senhora de Lourdes.
Assim como ocorrera para a construção do prédio original, bem como para a manutenção nos primeiros anos de funcionamento, também na remodelação e ampliação do prédio houve intensa participação da sociedade local, que não poupou esforços para viabilizar o intento.
Neste sentido, conforme consta no Balancete Geral do período entre setembro de 1933 a dezembro de 1934, foram feitas inúmeras doações por moradores de Bebedouro e região, assim como empresas, instituições, escolas, fazendas, associações e movimentos católicos. Do poder público, houve subvenções das Câmaras Municipais de Bebedouro, Colina, Monte Azul, Pitangueiras e Viradouro, além do Governo do Estado. Destaque ainda para o recebimento de expressiva quota da “Campanha do Ouro”, realizada durante a época da Revolução de 1932. A soma de todas as doações e subvenções resultou no valor de 150:291$500 (cento e cinquenta contos e duzentos e noventa e um mil e quinhentos réis).
A reinauguração da Santa Casa aconteceu na manhã de 11 de fevereiro de 1934, com a presença do bispo da diocese de Jaboticabal, D. Antônio Augusto de Assis, do secretário estadual da Agricultura, Dr. Adalberto Netto, outras autoridades civis e eclesiásticas e grande massa popular.
A programação teve início com uma procissão à Nossa Senhora de Lourdes, que saiu da Igreja Matriz em direção à Santa Casa, onde foi realizada uma missa campal em frente ao prédio. Após as bençãos das instalações, ocorreu a sessão solene de instalação e em seguida as dependências foram abertas para visitação pública.
A partir de então, os serviços de enfermagem ficaram sob a responsabilidade das Irmãs Passionistas, enquanto o Corpo Clínico esteve constituído pelos médicos, drs. Paraíso Cavalcanti, João Cambaúva, Sebastião Conrado, Zacharias O. Bahia, Plínio de Brito, Ramiro Rabello, Macário de Mello Filho e Simões Leistner.
Em março de 1936, a provedoria da Santa Casa de Misericórdia foi transferida para a Associação Protetora da Infância, constituição jurídica das Irmãs Passionistas, que promoveu outra reestruturação na instituição décadas seguintes, assunto a ser abordado em outro artigo.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição 10.788, sábado a terça-feira, 16 a 19 de setembro de 2023