
Muito se fala hoje em dia sobre “Diversidade e Inclusão”. Do ponto de vista de gestão, são inegáveis e tangíveis os ganhos obtidos a partir da diversidade de experiências e competências, entendidas como “conjunto de habilidades que possibilitam àquele que as possui executar ou desempenhar determinada tarefa ou função”.
Acontece que temos ainda pouca efetividade quanto ao tema, exceto talvez por avanços na diversidade étnica, das PCDs e de gênero, dado o engajamento de seus movimentos representativos ao longo do tempo, o que tem dado visibilidade às demandas absolutamente legítimas desses movimentos.
A grande dificuldade reside na nossa incapacidade de “empatizar”, ou seja, de nos colocarmos no lugar do outro, pensando, agindo ou – principalmente – sentindo o que ele sentiu, sente ou sentiria. Por mais que simpatizemos com as dificuldades do outro, nós não podemos vivenciá-las, e por uma razão muito simples: cada um é aquilo que é. Não posso, como homem, branco e heterossexual ter experiências (boas e ruins) que tenham tido uma mulher, um negro, um refugiado, um homossexual ou qualquer outra existência distinta da minha.
Acontece que é exatamente nessa diferença, de cada existência ser única, que reside a grande riqueza da diversidade: a complementaridade de experiências e competências. Para que as empresas, e mesmo a sociedade, possam extrair essa riqueza dos relacionamentos humanos, é preciso que exista respeito a essas mesmas diferenças. E para que exista respeito, é necessário despertar a consciência para a existência das diferenças, e consequentemente, aceitá-las.
Um aspecto menos evidente do tema é a questão da diversidade geracional. Quantas vezes o leitor chamou seus filhos, netos, ou “o menino de TI” pra “arrumar” o computador ou o celular? Os “millenials” (ou geração Y), jovens que estão entrando agora no mercado de trabalho possuem, além de familiaridade com as novas tecnologias, características muito distintas daqueles da minha geração (X) e dos “baby boomers”. Pensamos, agimos e temos expectativas muito diferentes. Como conciliar essas diferenças no trabalho e extrair delas a riqueza da diversidade? Como manter um “millenial” na sua empresa, quando a concorrência inclui Google, Amazon e Facebook, com suas mesas de ping-pong, redes de descanso e horário flexível? Como atrair jovens talentos para o Agronegócio, nos rincões de nosso país-continente, longe da realidade high-tech das cidades?
Em minha carreira no mercado financeiro, fui membro de Comitês de Diversidade e Inclusão. Ao longo dessa trajetória, recordo-me, por exemplo, de mulheres adotando posturas masculinas em um ambiente predominantemente masculino; Mulheres brilhantes, desempenhando funções semelhantes a homens medíocres, e recebendo remuneração inferior; homossexuais se excluindo do convívio pleno com seus colegas por medo de julgamentos; Piadinhas sendo feitas, sem a menor consideração ou respeito aos colegas presentes. Felizmente, minha impressão é de termos evoluído, e que tivemos ganhos expressivos quanto ao maior respeito pelas individualidades.
Porque é apenas com respeito e aceitação ao que cada pessoa realmente é, sem que ela precise gastar tempo e energia tentando ser o que a empresa e os colegas esperam dela, é que será possível ter 100% do engajamento e da capacidade dessas pessoas disponíveis para a equipe e para o negócio, e assim obter resultados extraordinários. Compete aos gestores criar um ambiente de confiança mútua, para que a diversidade seja aceita, respeitada e estimulada. Apenas com respeito e inclusão poderemos assegurar a sustentabilidade dos negócios, em tempo de tantas mudanças e riscos delas decorrentes.
É certo que temos ainda um longo e árduo caminho a percorrer, para maior inclusão e diversidade. Entretanto, é necessário sermos multiplicadores do “despertar” quanto à existência das diferenças e o respeito a elas. Afinal, se todos gostassem do azul, o que seria do amarelo?
(Colaboração de Oswaldo Junqueira Franco, economista pela FEARP-USP e MBA em Finanças Corporativas pelo IBMEC, sócio da Agronomics, consultoria de gestão especializada no Agronegócio).
(…)
Publicado na edição 10388, de 19 a 23 de abril de 2019.