Sede - Casa D’Itália em 1938, antes da grande reforma ocorrida naquele ano. Localizava-se na avenida Raul Furquim, 80, esquina com rua Campos Sales. (Foto: acervo do autor)

Um dos fatores que impulsionaram o crescimento do município de Bebedouro nas primeiras décadas do século passado foi a chegada de numerosos grupos de migrantes nacionais e imigrantes estrangeiros, principalmente europeus, dos quais os italianos somavam o maior número.

Desta forma, foram fundadas várias entidades voltadas para a preservação das tradições destas nacionalidades, como o “Centro Beneficente Hespanhol”; “Casa de Portugal”, “Sociedade União Síria” e a “Societa Italiana de Mutuo Soccorro Victorio Emanoel 3º”. Esta, organizada por membros da colônia italiana, surgiu em 11 de outubro de 1913, conforme publicado na imprensa daquele ano: “Com il presente numero dei soci 19 la estata et elta provisoriamente la seguinte diretoria e n’ellatto dela fundazione de questa societa sonostati fatti due soci honorário che sarebbero Cel. Joao Manoel e Cel. Abilio Manoel.”

A primeira diretoria da “Sociedade Italiana” foi assim constituída: Presidente, Alexandre Pulino; Vice-Presidente, Giovani Gagliardi; Secretário, Vicenzo Peirone; Vice-Secretário, Luigi di Gino; Tesoureiro, Giuseppe Sardella; Censor, Giovanni Ianotti e Giuseppe Cardassi. Conselheiros: Francesco Christianino; Francesco Schettini; Carlos Zugaro; Giuseppe Caroto; Antonio Galasse; Leopoldo Viaro, Angelo Michele. Porta Bandeira: Giuseppe Gianotti e Giordano Bruno.

O intuito da Sociedade era proporcionar proteção e auxílio aos sócios que necessitassem, considerando as normas de patriotismo e humanitárias presentes em seu estatuto, que exigia salvo-conduto de honorabilidade e moralidade àqueles que desejassem tornar-se sócio da entidade,

As atividades sociais eram frequentes, inclusive com visitas de personalidades italianas, como a ocorrida em 7 de julho de 1918, quando a colônia bebedourense recebeu a visita do embaixador Vito Luciani, que foi recepcionado por autoridades e grande massa popular na gare da Paulista, toda ornamentada com as cores da Itália e do Brasil e com direito a execução dos hinos dos dois países, brindes com taças de champagne, vários discursos, saudações e agradecimentos.

Tempos depois, em dezembro de 1923 era anunciado pela imprensa sobre a construção da sede própria da “Sociedade Italiana”, na avenida Raul Furquim n. 80, esquina com a rua Campos Sales. A inauguração foi precedida com o recebimento do cônsul-geral da Itália, Bruno Pateri, na estação ferroviária que em seguida dirigiu-se ao novo endereço, onde houve os habituais discursos e homenagens, sendo finalizado com a realização de um sarau dançante no local.

Em 1925, o professor Eugênio Linardi foi nomeado Agente Consular da Itália em Bebedouro, sendo que, na mesma época, a associação passaria a denominar-se “Círculo Italiano”.

Na década seguinte, em 1937, por deliberação do quadro associativo, o antigo “Círculo Italiano” transformou-se em “Casa D’Itália”, organização associativa de caráter social e recreativo, que permaneceu no mesmo endereço do antecessor, porém passando por uma grande reforma, sob a responsabilidade do empreiteiro José P. Grigoletto, de Jaboticabal.

Em 17 de julho de 1938, ocorreu a inauguração da nova “Casa D’Itália”, com a presença do cônsul da Itália em São Paulo, Giuseppe Castruccio, que participou da programação especial, com missa em ação de graças na Igreja Matriz; banquete no Hotel Sessa; solene sessão cívica na nova sede social; baile de gala.

No entanto, apesar de todo empenho pela renovação da entidade e do brilhantismo dos eventos inaugurais da nova sede, a comunidade foi surpreendida nos meses seguintes pela vigência de nova legislação de controle de estrangeiros, imposta pelo governo ditatorial do Estado Novo de Vargas.

Com a radicalização externa, decorrente da expansão dos ideais fascistas na Itália e nazistas na Alemanha, assim como o alinhamento do Brasil junto aos Estados Unidos, na Segunda Guerra, fez com que as atividades cotidianas das instituições vinculadas às colônias de imigrantes fossem alvo de permanente controle.

Possivelmente este foi o fator preponderante para o encerramento das atividades da “Casa D’Itália” bebedourense, assim como de congêneres de outras localidades brasileiras. Na década seguinte, por meio de decreto de 13 de maio de 1947, foi instalado no imóvel em que funcionara este clube, o “Dispensário de Tuberculose” voltado para o combate a esta doença. Posteriormente, este prédio foi demolido para a construção de uma residência.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, historiador e professor bebedourense).

Publicado na edição 10.717, de sábado a terça-feira, 26 a 29 de novembro de 2022.