Sua Excelência, o Prefeito

José Renato Nalini

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A mais relevante autoridade para qualquer cidadão é o Prefeito. O gerente de sua cidade. É na cidade que tudo acontece, não no Estado e União, duas entidades mais fictícias do que reais. Só existem, mesmo, é como reflexo no bolso do contribuinte. Tributos estaduais e federais são os que mais sacrificam o brasileiro.

Não me canso de recordar André Franco Montoro, o professor de Introdução à Ciência do Direito da PUC-SP, que dizia: “Ninguém nasce na União ou no Estado. Nasce-se no município!”. E é no município que decorre a vida rotineira das pessoas.

No próximo ano haverá eleições municipais. As mais importantes. Para escolher quem comandará sua cidade, é preciso indagar qual a real capacidade do prefeito para responder às demandas da população. Parece que existe um receio de que não haja suficiente combate à corrupção e que o recrudescimento da violência paira como perigo concreto sobre o cotidiano.

Um prefeito tem de estar atento àquilo que o munícipe espera dele. Precisa estar disponível. Embora não seja fácil, tem de receber os munícipes ao menos uma vez por semana. Atendê-los, ouvi-los, anotar suas reclamações. Cuidar delas e responder. E ser honesto. Verdadeiro. Não tergiversar. Se algo não está na alçada de sua competência, explicar com franqueza.

O chefe do Executivo local precisa levar a sério a responsividade, a sua capacidade de atender às demandas da cidadania e elevar a qualidade de vida em seu município. Fazer o máximo para que a segurança em sua cidade garanta o nível ótimo de tranquilidade aos habitantes é uma obrigação que deve preocupar cada prefeito brasileiro. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022 identificou o Brasil como o oitavo país com maior número de mortes violentas. Isso não é motivo de orgulho, senão de vergonha. Criar vizinhança solidária, fortalecer a Guarda Municipal, apoiar a Polícia Militar e a Polícia Civil, é algo que está no rol das obrigações mais sérias e mais esperadas de cada político interessado em governar sua cidade.

Visitar as escolas, conversar com professores, funcionários e alunos, conversar com os pais dos alunos, mostraria ao candidato a Prefeito qual a real situação de sua cidade. E mal não lhe faria, esse contato com a população, deixando um pouco de lado os áulicos. Estes só falam o que o Prefeito quer escutar. Em regra, só fazem mal a ele e à cidade.

Estamos sem fundos

Inconsequentes, caloteiros, irresponsáveis. Somos nós, os humanos, que já esgotamos todos os recursos naturais que o planeta tem a oferecer. Desde 2006, a organização não governamental Global Footprint Network divulga relatório que provém de cálculo entre a pegada ecológica das atividades humanas e a capacidade da Terra de se regenerar e absorver nossa poluição.

Neste ano de 2023, o “Dia da sobrecarga da Terra” chegou cinco dias mais tarde, se comparado com o ano passado. Tudo entra no cômputo dos pesquisadores: pesca excessiva e predatória, desmatamento, absorção de carbono pelos oceanos. Faz-se uma contabilidade entre as perdas e a constatação científica do que o planeta poderia fazer e em que prazo.

O ideal seria que a constatação da falência de nossa civilização ensejasse uma reação da consciência do bicho-homem, para que ele enfim se convertesse e abandonasse a política insana da destruição do meio ambiente. Não é o que ocorre. Infelizmente, as más práticas prosseguem, simultaneamente a um discurso edificante, porém desacompanhado de uma política estatal executiva hábil e vigorosa para reverter o descalabro.

Desde o dia em que se constata a exaustão da Terra, o planeta passa a viver a crédito, o que significa existir em déficit ecológico. Na ficção, para cumprir apenas aquilo que já foi acordado pelos governos nacionais, a data deveria ser adiada em dezenove dias, todos os anos, e durante os próximos sete anos. Só assim estaríamos próximos à redução das emissões de gases do efeito estufa em 43% até o ano 2030.

É um cálculo matemático, baseado em ciência, que a humanidade ignora. Prossegue nas práticas nefandas de derrubada de árvores, poluição generalizada – terra, água e ar – produção excessiva de resíduos sólidos. Os homens escolheram abreviar a duração da experiência humana sobre o sofrido Planeta Terra.

Paradoxal que, à proporção do avanço da ciência e das tecnologias, prossiga a humanidade no programa de extermínio de toda espécie de vida planetária. Esquece-se de que não é a Terra que corre perigo: é a humanidade. A Terra poderá continuar a existir como planeta perdido numa galáxia que não é a maior, nem a mais importante do Universo. Mas prescindirá da espécie humana para isso.

(Colaboração de José Renato Nalini, Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras).

Publicado na edição 10.792, sábado a terça-feira, 30 de setembro a 3 de outubro de 2023