Tendência de uso com Inteligência Artificial

Rodrigo Toler

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A sociedade da informação intensificou a necessidade de se estabelecer confiança nas relações, impulsionando as organizações a adotarem estruturas capazes de prevenir e mitigar riscos regulatórios e reputacionais. Isso é especialmente relevante no que se refere ao tratamento de dados pessoais e à adoção de tecnologias inovadoras, e gerenciar todas as implicações advindas se torna inegociável para que, em última instância, os direitos e garantias individuais das pessoas afetadas pela utilização de sistemas de inteligência artificial sejam preservados.

Em matéria publicada no MIT Technology Review, especialistas em dados e segurança advertem dos danos causados pelo uso das redes sociais na última década, de forma não regulamentada, e apontam que não devemos ignorá-los, agora, para possibilitar o uso responsável da inteligência artificial, compreendendo o uso da publicidade de forma responsável, garantindo transparência aos usuários e possibilitando exercícios de seus direitos de forma facilitada, questões relacionadas à vigilância e privacidade, viralidade e desinformação, bloqueio nas plataformas e possibilidade facilitada de interoperabilidade de dados com outras empresas e, por último, a monopolização do mercado por big techs facilitando lobby político contra regulações que visam limitar seu poder.

Aparentemente a tendência da IA seja explorar esses cenários, contudo, com perspectiva de utilização benéfica, sustentável e ética. O relatório “10 Hot Consumer Trends Report 2024”, em pesquisa realizada pelo Ericsson Consumer & IndustryLab, apontou a tendência de consumo, sendo a primeira o uso da IA como assistente pessoal, bloqueando anúncios indesejados e selecionando apenas ofertas personalizadas, sem desconsiderar a preocupação quanto a potencial vigilância digital de forma ainda mais intrusiva.

Impacto sobre a indústria da moda tendo em vista que a Inteligência Artificial poderá criar tendências considerando menor índice de emissão de carbono como, por exemplo, o reaproveitamento de roupas “fora de moda”, alinhando-as com as tendências atuais. Outro fator seria a utilização da IA para personalizar roupas e calçados, acreditando que essa abordagem personalizada poderá reduzir o desperdício. Outro impacto é na indústria do entretenimento, em que a IA já confunde os limites entre realidade e fantasia. De acordo com o estudo, 79% dos entrevistados preveem um futuro em que poderão criar suas próprias histórias interativas, permitindo-lhes adaptá-las ao seu estado de espírito. Esse cenário se intensifica com as possibilidades trazidas pelos óculos de realidade aumentada.

Existe forte tendência de criar avatares, como se fossem “gêmeos digitais” em que pessoas usarão simulações de IA para decisões, como comprar casas ou ações, com a promessa de eliminar incertezas. Também, em relação às crianças, existem propostas para que cuidados infantis sejam assistidos por IA, para auxiliar na rotina de pais sobrecarregados, mas com a preocupação potencial em relação à perda de empatia, autenticidade e espontaneidade. Por outro lado, a IA pode impulsionar as crianças em uma aprendizagem mais rápida e potencializada, sem contudo, o temor da homogeneização dessas futuras gerações.

Outro ponto de influência será na administração do Estado, para auxiliar planejamento e execução de políticas públicas em prol da sociedade, bem-estar e promovendo sociedade mais inclusiva. Muito embora exista a tendência de uma briga de poder e influências com vistas à democracia, mas tendo a vantagem econômica da intenção determinante. É esperado que a IA oriente as carreiras profissionais, proporcionando vantagem competitiva, além de monitorar o comportamento dos funcionários para evitar discriminação, fraude e promover um ambiente mais justo e produtivo.

Embora exista a dicotomia entre o progresso com uso da IA e um futuro distópico com manipulação de dados e perda de autonomia pessoal, acredita-se que a regulação, ao mesmo tempo forte e aberta, pode ajudar na pavimentação de um caminho do meio. Nesse sentido, mais de 70% dos entrevistados ressaltaram preocupação com a privacidade, no entanto, a IA poderia ajudar na blindagem para os dados pessoais em interações digitais. À medida que a IA continuar se integrando a nossas vidas, será crucial encontrar o equilíbrio que maximize os benefícios enquanto mitiga os riscos associados a essa transformação digital.

(Colaboração de Rodrigo Toler, advogado de Privacidade e Proteção de Dados no Opice Blum, Bruno Advogados, Mestre em Direito, Tecnologia e Desenvolvimento pelo IDP. Email: [email protected]).

Publicado na edição 10.856, de sábado a terça-feira, 13 a 16 de julho de 2024 – Ano 100