

A bomba silenciosa chamada Samira
Se a novela tivesse apenas seus protagonistas e vilões centrais, já estaria acima da média. Mas Fernanda Vasconcellos, como Samira, entrega uma das construções mais inteligentes da trama. Chef de cozinha, extrovertida e aparentemente doce, ela esconde uma história repugnante: é uma traficante de crianças. O arco é construído com sutileza, sem pressa, sem didatismo.
Há nele o DNA de Aguinaldo: é a vilã que explode no tempo certo, quando o público já está ligado emocionalmente ao núcleo principal. Vasconcellos está precisa, trabalhando nuances que prometem uma virada arrebatadora. Quando Samira se revelar por completo, veremos não só a força da personagem, mas o tamanho da atriz, que já demonstra potência em cada cena.
Bagdá e o núcleo da Chacrinha: a surpresa que roubou a novela
Outro acerto: o núcleo de vilões periféricos. Xamã, como Bagdá, surpreende. Ainda novato na dramaturgia televisiva, ele atua com peso de veterano. Ele segura cenas densas ao lado de gigantes e nunca desaparece, ao contrário, cresce.
Os comparsas Vandilson (Vinícius Teixeira) e Alemão (Lucas Righi) já são apelidados de “Bandivos” nas redes, prova de que o público está engajado com personagens secundários. Esse é um dos sinais mais fortes de uma novela acertada: quando um núcleo paralelo vira queridinho da audiência, não é acidente, é escrita e elenco afinados.
O romance lésbico: representação madura, cuidadosa e emocionante
E então há Eduarda, a Juquinha, e Lorena. O romance entre as personagens é delicado, gradual e incrivelmente bem conduzido. Aguinaldo e sua equipe entenderam que representar um amor lésbico no horário nobre exige construção emocional, não apenas declaração política.
Desde a primeira cena, as duas transbordam química e carinho, e o público percebe que ali está um cuidado profundo: explicar sem didatizar, emocionar sem exotizar. Se mantido no ritmo atual, será um dos romances mais bonitos da década na televisão brasileira, por normalizar, humanizar e amar.
Três Graças é a novela que o horário das nove precisava reencontrar
Tem alma de folhetim, ritmo de thriller psicológico e estrutura de grande narrativa popular. É entretenimento, mas é também artesanato narrativo.
Sem medo: é a melhor novela do horário nobre da Globo no pós-pandemia. E, com justiça, supera algumas inéditas pré-pandemia. A Globo parece ter reencontrado, com Aguinaldo Silva, a resposta que estava buscando: como fazer uma grande novela brasileira em 2025.
A história funciona, os personagens respiram, o público sente. E quando uma novela faz o Brasil voltar a comentar, torcer, reagir e amar, é porque o gênero está vivo.
Parabéns a Aguinaldo Silva e sua dupla de autores. “Três Graças” é, finalmente, novela como novela tem que ser.
E isso, hoje, é revolucionário.
Publicado na edição 10.975 de sábado a terça-feira, 13 a 16 de dezembro de 2025 – Ano 101




