

“O negociante desta praça sr. Adriano Garrido tomou a peito organizar uma empresa de diversões que terá o seu campo de operações no dique da Empresa de Força e Luz, desta cidade. Trata-se de corridas em lanchas a gasolina nas águas daquela represa, as quais deverão ter início brevemente, pois o empresário já adquiriu o indispensável material e já fez proceder a necessária limpeza do referido dique.”
Foi com esta nota que o jornal “Correio Paulistano” informou aos leitores da edição de 16 de fevereiro de 1920, a grande novidade na área de entretenimento que seria inaugurada no mês seguinte em Bebedouro.
A represa fora construída para viabilizar a geração de energia elétrica para cidade, que recebeu a novidade em janeiro de 1911. Na época, a própria Empresa Elétrica, pertencente aos irmãos João Pedro e Pedro Afonso Antunes, instalara uma lancha para passeios dos familiares e amigos, sendo estendida depois ao público em geral.
A proposta de Adriano Garrido, no entanto, era mais ousada, pois além dos passeios, pretendia oferecer diversos tipos de diversão, as quais foram introduzidas gradativamente, sempre aos domingos, proporcionando horas de lazer para pessoas de todas as idades.
O embarque acontecia nas proximidades da estação ferroviária, de onde os barcos seguiam pelo lago até o “Porto da Garapa”, localizado nas imediações da usina da Empresa Elétrica. Os passeios se iniciavam no período da manhã e se estendiam até o final da tarde.
O público logo aderiu à novidade e após cinco meses do início das atividades, o clube já possuía sete lanchas que ainda eram insuficientes para atender a demanda, fazendo com que o empresário encomendasse uma embarcação maior, movida a vapor.
Em anúncio publicado na imprensa local em janeiro de 1921, o “Club de Regatas Commercial” informava “No dia primeiro do corrente inaugurou-se a lancha ‘MARIETTA’, com o seu novo motor. A primeira viagem levou 20 passageiros, os quais ao chegarem ao porto, estavam todos dormindo, dando grande trabalho ao patrão da lancha para acordá-los. Tal a macieza do novo barco, para o qual foi encomendado uma rica TOLDA (toldo), a fim de evitar-se os rigores do sol.”
A direção do Clube de Regatas procurava inovar nas opções de lazer. No mês de fevereiro propôs a realização de um carnaval na praia do Club, com a apresentação de dois carros alegóricos em barcos comandados por marinheiros e marinheiras, inclusive com o uso de lança-perfumes, que na época tinha o uso liberado. Promoveu jogos de peteca e caçadas a jacarés. Organizou também concursos de natação e de ‘foot-ball’ dentro d’água, com premiações sob o patrocínio da Casa Garrido, então um dos maiores estabelecimento de secos e molhados.
Em outra ocasião, organizou um ‘convescote’ (piquenique), conforme foi descrito em edição de junho de 1921 do jornal “A Vanguarda”: “Eram 11 horas, quando partiu do ponto de embarque da represa, nas imediações da estação da Paulista, a lancha a gasolina ‘Marieta’, levando a seu bordo cerca de vinte cavalheiros da nossa elite. A viagem foi deliciosamente feita em 25 minutos. Chegada a comitiva à Usina, alguns minutos depois foi servida uma lauta refeição, regada a vinhos finos e cerveja. […] Eram cerca de 13 horas quando terminou o improvisado banquete que constou de várias iguarias, dentre elas destacando-se o famoso ‘churrasco indiano’. Após várias outras diversões, como fosse passeios, tiros ao alvo, etc., os passeantes regressaram a esta cidade, cheios de vivo contentamento, na mesma lancha ‘Marieta’, isso cerca das 15 horas.”
Em anúncio publicado em setembro de 1921, o passeio era apresentado como “chic e agradabilíssimo” e informava: “uma bem-organizada orquestra da C. P. (Companhia Paulista) deliciará os visitantes do porto da garapa”. Em outro anúncio, destacava “Este passeio é o mais agradável, o mais delicioso e o mais pitoresco que existe nesta cidade”.
Apesar do interesse dos bebedourenses, os passeios na represa foram interrompidos ainda nos primeiros anos da década de 1920, tendo em vista a dificuldade de manutenção da limpeza das águas. Na década seguinte, Adriano Garrido foi o responsável pela construção da primeira piscina pública de Bebedouro, na qual promoveu diversos eventos esportivos e de lazer, assunto a ser abordado em outro artigo.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição 10.803, de sábado a sexta-feira, 18 a 24 de novembro de 2023