Um olhar de fé…

Padre José Benedito Di Túlio e Frei Nivaldo Pasqualim deixam suas mensagens aos cristãos.

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(Reprodução/internet)

Nesta Semana Santa, para celebrar uma das datas mais importantes para os cristãos, a Gazeta ilustra esta página com a entrevista de dois sacerdotes.
Transferido para a Paróquia São Judas Tadeu, em Jaboticabal, padre José Benedito Di Túlio, orienta como podemos superar este momento de pandemia, em que o mundo está mergulhado. “A religião não pode ser um anestésico que não permita ao fiel a visão do que está errado, mas, deve ser sempre a coragem necessária para o enfrentamento e a certeza de que não estamos sozinhos”.
Pároco da Paróquia e Fraternidade Sagrado Coração de Jesus, Frei Nivaldo Pasqualim, deixa sua mensagem aos fiéis nesta semana e afirma: “Não celebraremos esta Páscoa de modo triste. Páscoa é alegria. Páscoa é vida. Páscoa é passagem”.

 

Gazeta de Bebedouro – Neste momento de pandemia em que o mundo está mergulhado, qual o papel de um líder religioso como o senhor?

Padre Benedito – Penso que em qualquer momento, seja ele bom, ou ruim, meu papel como sacerdote seja apresentar Jesus Cristo como alicerce para a fé professada na igreja e testemunho para a vida cotidiana em sociedade. Neste momento de crise que não se encerra simplesmente em um problema de saúde, perpassa através da política e da economia, em que vemos tantas notícias incongruentes, como religioso, cabe a mim tentar religar o humano tão perdido com o divino, que também habita em nós. A religião não pode ser um anestésico, que não permita ao fiel a visão do que está errado, mas, deve ser sempre a coragem necessária para o enfrentamento e a certeza que não estamos sozinhos. Não podemos nos calar, e nem mesmo permitir que o medo nos emudeça, ou nos cegue paralisando nossa vida, ou impedindo de vermos saídas verdadeiras e evitemos os caminhos errados.

Gazeta de Bebedouro – O Papa Francisco rezou sozinho na imensa praça de São Pedro, pedindo para Deus “olhar a dolorosa situação da humanidade” e sua atitude impactou o mundo todo. Para o senhor, o que significou a atitude do Papa? E socialmente para os católicos?
Padre Benedito – Naquele dia rolou na internet um pensamento que norteia minha visão: “para quem acredita, a ausência das pessoas na movimentada Praça de São Pedro, apenas revelou o verdadeiro encontro que se realiza naquele lugar”, ou seja, quando sabemos “Quem” está conosco, independe de “quem” caminha ao nosso lado. Isto é fé! Isto é acreditar! Isto é sobremaneira, acreditar que Deus olha a dolorosa situação que a humanidade caminha e não se esquece de nós e mesmo que aconteça de parecermos sozinhos, quem acredita jamais está. Afirmo com toda minha fé, que Francisco não caminhava sozinho naquela Praça.

Gazeta de Bebedouro – Como líder religioso, o que indica para amenizar a angústia neste momento?
Padre Benedito – A angústia surge no coração humano toda vez que não sabemos o caminho que devemos seguir. Penso que este momento não seja diferente, pois, nossa angústia se abre para a incerteza do horizonte à nossa frente. Mas, é aqui que cada um de nós, cai naquilo que falei acima. Quando consigo aliviar minha ansiedade diante do que não vejo, por saber que tenho forças para enfrentar o que virá, com toda certeza, conseguirei aliviar a angústia, não porque eu saiba a resposta, mas, devido à força que crio para o enfrentamento.

Gazeta de Bebedouro – Neste domingo comemora-se a Páscoa. O que esta data deve ensinar aos cristãos?
Padre Benedito – Esta festa inicialmente no antigo testamento, celebrava a libertação do povo hebreu do Egito, ou seja, a passagem de um povo escravo, para um povo liberto; e no novo testamento, a Ressurreição apresenta a passagem da morte à vida. Seguindo o próprio termo Páscoa, que é passagem, talvez pudéssemos aproveitar e descobrir que aquilo que vivemos em qualquer tempo, ou em qualquer situação, não pode ser um momento estanque, pois aqueles que professam a fé no cristianismo, sabem que a vida é dinâmica e nosso sofrimento também o é, de tal forma que passará! Tudo passa, somente Deus permanece.

Gazeta de Bebedouro – O que a crucificação de Cristo representa para a Igreja Católica? E sua ressurreição?
Padre Benedito – A crucificação é sempre uma temática difícil para nós do século XXI, pois nossa realidade tornou o sofrimento e a dor como algo que significa o mal e esquecemos que, muitas vezes, o sofrimento e a dor acontecem porque algo de bom se apresenta. Por exemplo, uma mãe que após as dores do parto, não se lembrará de tais dores por causa do sorriso do filho, ou então uma musculatura firme que aconteceu depois de diversas dores devido aos exercícios. De modo que a crucificação, que era uma forma de tortura e morte, que simplesmente revelava a maldade do coração humano, a partir de Jesus, nos revela o amor extremado, que não poupa a si, para que possa salvar aqueles que amam. Assim, crucificação é o mal que não vence e a morte que não tem a última palavra, mas, o amor que triunfa e a ressurreição que acontece. Sendo assim, a Ressurreição representa o fundamento de nossa fé, pois, como diz Paulo, em Coríntios: “se Jesus não ressuscitou é vã a nossa fé”, penso que isto encerre em nós, o princípio da nossa missão como cristãos, apresentar este acontecimento, a morte e a ressurreição do nosso Deus Jesus Cristo.

Gazeta de Bebedouro – Deixe uma mensagem aos bebedourenses que tanto apreço têm pelo senhor.
Padre Benedito – A todos aqueles que residem em Bebedouro e que tanto quero bem, só posso dizer que acreditem! Lutem! Sonhem! O sucesso e a vitória não foram feitos para aqueles que desistem, não sonham e fogem.
E, independente do Deus que você professa, ou mesmo que não acredite em nada, acredite ao menos em você. O homem e a mulher que sonha, que acredita e luta sem jamais desistir, pois sabe que o fracasso só acontece para aqueles que pararam na primeira etapa dos desafios, mas quem continua lutando, vai descobrir que tudo que deseja se cumprirá.

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Gazeta de Bebedouro – Neste momento com as igrejas fechadas como têm ocorrido as atividades religiosas aos católicos de Bebedouro?
Frei Nivaldo – Com esta pandemia e respeitando os decretos do governador João Doria e do prefeito Fernando Galvão, as igrejas estão fechadas. Todos os padres da forania, da Diocese de Jaboticabal e das paróquias de Bebedouro, estão fazendo suas celebrações, ou nas igrejas ou nas capelas particulares das Casas Paroquiais. No geral, todos os dias, a liturgia está sendo feita com as igrejas fechadas, apenas com o sacristão, um leitor e um ajudante, sendo transmitidos pelo youtube ou pelo Facebook, de acordo com as mídias que cada paróquia possui. No caso, da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, as celebrações ocorrem na capela particular da Casa Paroquial.

Gazeta de Bebedouro – Nesta semana, como aconteceram as celebrações da Semana Santa?
Frei Nivaldo – Mesmo com a Semana Santa, o procedimento adotado pelas igrejas é o mesmo que já vem ocorrendo, mas com a liturgia reduzida. Por exemplo, na Quinta-feira Santa, não ocorreu a parte do lava pés, porque seriam necessários alguns fiéis, pelo menos umas 11 pessoas, que se aproximassem para que os pés fossem lavados. Para evitar o acúmulo de gente, a retiramos.
No Domingo de Ramos foram feitas as bênçãos dos ramos. Algumas paróquias fizeram online, em outras, os padres saíram com o carro nas ruas benzendo e outras, por drive thru, onde os veículos passavam em frente às igrejas e os padres davam a benção nos ramos, sem os fiéis descerem. Todas as celebrações estão ocorrendo de portas fechadas, sem a participação dos fiéis, apenas pelas mídias sociais.

Gazeta de Bebedouro – O que está programado para a Sexta-feira Santa e Domingo de Páscoa?
Frei Nivaldo – Cada paróquia tem a sua programação, mas todas devem ter as atividades parecidas. Queríamos aquela costumeira Via Sacra nas ruas, mas para evitar aglomeração, não acontecerá. Nesta sexta-feira da Paixão, às 15h, faremos a Celebração da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, com apenas a exibição da cruz para ser adorada pelos fiéis. Não haverá adoração pessoal. A igreja fica fechada, apenas com aqueles que estão para ajudar na celebração. Também não há procissão do Senhor Morto, como de costume. Pode ser que algum padre, coloque o esquife sobre um veículo e faça um passeio nas imediações da sua paróquia. Porém, isto está a critério de cada padre, mas, evitando-se aglomerações.
No Sábado Santo haverá a Celebração da Vigília Pascal às 19h, uma celebração tipicamente batismal. No Domingo de Páscoa, temos a Missa da Ressureição às 9h, na Paróquia Sagrado Coração. Ficará a cargo da criatividade de cada padre da cidade, como passar a imagem de Jesus Ressuscitado pelas ruas de sua paróquia, sempre mantendo as precauções necessárias solicitadas pela Vigilância Sanitária.

Gazeta de Bebedouro – Deixe sua mensagem aos bebedourenses
Frei Nivaldo – Aos irmãos da nossa cidade, que embora estejamos celebrando, não de forma presencial, que o Cristo Ressuscitado habite em cada um de nós. Não celebraremos esta Páscoa de modo triste. Páscoa é alegria. Páscoa é vida. Páscoa é passagem. Crendo em Jesus Cristo, nós estamos fazendo uma passagem, porque todas estas dificuldades que estamos atravessando, não deixam de ser também uma Páscoa. É o tempo que temos de refletir, de meditar e de nos colocarmos diante do Senhor, com um tempo um pouco maior. Que todos os nossos irmãos e irmãs, possam com suas famílias, viver a Páscoa deste Cristo vivo e ressuscitado, que se faz presente no meio de nós. Feliz Páscoa a todos.

 

Publicado na edição nº 10478, de 10 a 14 de abril de 2020.