Uma brevíssima reflexão sobre a autoestima

Wagner Zaparoli

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O estímulo indiscriminado à autovalorização parece ser uma moeda de fácil circulação nesse nosso mundo contemporâneo. A começar pelo consumismo exacerbado nos impostos principalmente pelas táticas de propaganda. Roupas da moda, carros luxuosos, joias e adereços… quem não tiver não é ninguém. Por outro lado, a quem se anime apenas tendo o que comer. São os dois lados da moeda capitalista.

Independentemente se é necessário um caminhão de dinheiro ou um simples elogio, o fato que elevar a autoestima ou não deixá-la cair parece ser a arma mais utilizada em tempos de agenda lotada e estresse latente. A comprovação é clara e salta aos nossos olhos: milhares de livros de autoajuda; dezenas de propagandas de medicamentos – muitos associados ao processo de emagrecimento; sem falar dos bajuladores de plantão e das orientações esgueiradas dos vizinhos atentos. Tudo isso para não nos deixar cair em tentação e nos livrar do maior mal, a baixa autoestima.

Mas, seria mesmo a sustentação da autoestima o grande milagre para os nossos problemas? Embora possa parecer paradoxal, a ciência acena com cautela e diz que aumentá-la artificialmente pode resultar em consequências negativas, como a obtenção de um mau desempenho acadêmico ou mesmo a geração de comportamentos indesejáveis, principalmente nas crianças.

A precisão da medida

Medir o valor da autoestima não é tarefa simples e muitas vezes resume-se à elaboração de perguntas às pessoas sobre o que elas pensam de si mesmas. Possivelmente as respostas serão tendenciosas sempre para o lado da boa aparência, como na expressão popular “sempre sair bem na foto”. Isso pode levar a conclusões equivocadas, como por exemplo, a que relaciona estreitamente a autoestima e a atração física.

Em 1995, pesquisadores da Universidade de Illinois e da Universidade de Indiana South Bend, ambas nos EUA, fizeram uma pesquisa simples com a população americana, primeiro perguntando a cada participante como se sentia em relação à sua autoestima, e depois os fotografando de corpo inteiro e só de rosto. As fotografias foram apresentadas a um júri que opinou sobre a atratividade do participante.

Com as respostas sobre a autoestima dos participantes e com as respostas do júri sobre a atratividade dos participantes, os pesquisadores puseram-se a analisar a correlação entre ambas e chegaram à conclusão de que ela (a correlação) era fraca em alguns casos ou era definitivamente nula na maioria deles. Ou seja, o estudo mostrou que o que de fato existe é um padrão de consistência de quão bem as pessoas se julgam.

O desempenho acadêmico

Imaginamos que melhorar a autoestima implica diretamente em melhorar o desempenho acadêmico dos alunos, certo? Sheila Pottebaum, Timothy Keith e Stewart Ehly dizem que não é bem assim. Eles, que em 1986 eram pesquisadores da Universidade de Iowa, testaram mais de 23 mil alunos do ensino médio da época e verificaram que a autoestima no primeiro ano de ensino fornecia apenas uma vaga indicação do resultado acadêmico dois anos depois e que o resultado acadêmico no primeiro ano se correlacionava fracamente com a autoestima no terceiro ano. Em outras palavras, houve sérias dúvidas de que a autoestima fosse de fato uma boa ferramenta para melhorar o desempenho escolar dos alunos.

Em busca da felicidade

Em 2002 Sandra L. Murray da Universidade de Buffalo nos EUA e quatro colegas descobriram em um estudo que pessoas com baixa autoestima tendiam a desconfiar de expressões de amor, agindo como se estivessem à espera permanente da rejeição, embora não houvesse provas de que tais relacionamentos fossem mais propensos à dissolução. Por outro lado, pessoas com alto conceito de si mesmas tinham maior probabilidade de reagir a problemas, buscando novas relações, por exemplo.

Outros dois estudos publicados em 1995 e 2004, mostraram, respectivamente, que a elevada autoestima era a maior causa da satisfação geral com a vida e que a felicidade e a autoestima possuíam forte correlação, indicando que pessoas com elevada autoestima seriam significativamente mais felizes e com menor probabilidade de ficarem deprimidas.
O fato, caro leitor, é que cabe a cada um provar a si mesmo o seu valor e tornar os seus sonhos possíveis de alcançar. A ideia geral é não delegar o caminho de seu futuro a ninguém, seguir sempre em frente e fazer você mesmo.

E para quem tem interesse em conhecer um pouco mais sobre qualidade de vida, vale a pena passar os olhos no site http://each.uspnet.usp.br/edicoes-each/qualidade_vida.pdf.

(Colaboração de Wagner Zaparoli, doutor em ciências pela USP, professor universitário e consultor em tecnologia da informação).

Publicado na edição 10.576 de 8 a 11 de maio de 2021.