Uma gestão consequencialista

José Renato Nalini

0
551

Reconhecida deficiência de todos os organismos, notadamente na área governamental, é a gestão. Estruturas arcaicas, burocracia enervante e estiolante, quadros despreparados e desmotivados. Tudo contribui para que a regra geral do Poder Público seja a ineficiência.
A educação convencional não se preocupou com a formação de gestores. Ela se contenta com a transmissão do conhecimento, com as competências cognitivas que fazem o educando decorar e repetir, qual um gravador, exatamente aquilo que lhe foi passado em aula.
O resultado é o quadro melancólico de quase todas as prestações estatais. Em todos os níveis e em todos os ambientes de serviço.
Poucas consciências atinam com esse gravíssimo problema. Continuam a propaganda enganosa de acenar com um diploma, como se ele fosse a chave para abrir a estrada do sucesso do formando.
O mundo pós 4ª Revolução Industrial – fala-se já na 5ª – é aquele em que se reclama ousadia, audácia, criatividade, empreendedorismo e coragem. A liderança é obtida por aqueles que rompem as fronteiras, que deixam o compartimento do previsível e aceitam trilhar caminhos novos.
O interessado em sobreviver nesta era precisa se questionar constantemente sobre o que espera da vida e o que fará para chegar à meta estabelecida. Meta que poderá mudar ao sabor das vicissitudes. Pois o que mais ocorre é o inesperado. Os antigos diziam: o homem põe, Deus dispõe. Nunca foi tão evidente essa realidade. A futurologia é uma arte que deixou de ter a menor confiabilidade, porque os fatos desmentem constantemente os prognósticos.
Uma noção muito importante – e que passa ao largo de algumas funções clássicas e relevantes – é o consequencialismo. Um verdadeiro líder precisa analisar os impactos de suas ações na vida das futuras gerações e no mundo em que hoje ele vive.
A liderança, acima de tudo, tem de ser sustentável. Basear-se naquela ideia de que “sabendo usar, não vai faltar”. Usar com sensatez e parcimônia dos recursos naturais, de tal forma que os que vierem depois, também possam encontrar meios de sobrevivência saudáveis.
Os atributos do líder contemporâneo são muitos, mas podem-se alinhar a compaixão, a empatia, a capacidade de se comunicar, a habilidade para mudar de rumo, adaptabilidade, humildade, modéstia, singeleza e um pouco de ascese. Consumir menos. Consumir melhor. Libertar-se da ditadura egoísta do consumo irresponsável. Convencer os outros de que é muito mais saudável e traz mais felicidade viver com singeleza. O ser humano continua a ser aquele organismo frágil e carente, que se satisfaz com tudo o que não pode ser comprado. Ou quanto custa um sorriso, um abraço, um afago, uma palavra carinhosa e um aperto de mão?
Para adquirir algumas dessas qualidades, ou aprimorar aquelas com as quais as pessoas já nascem, cada qual em maior ou menor proporção, é importante meditar. Meditação e ioga, que pareciam próprias a uma cultura “zen”, hoje são recomendadas nas mais respeitadas organizações.
Mais paz e menos correria; mais reflexão, menos falação; mais amor, menos agressão. Esse o caminho correto!

(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Uninove, autor de “Ética Geral e Profissional” e Presidente da Academia Paulista de Letras).

Publicado na edição de nº 10407, de 3, 4 e 5 de julho de 2019.