Vamos tirar a saúde da UTI

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Carlos Neder

A questão de fundo é o pouco que se gasta em saúde no país, os equívocos na gestão da política da área e o desrespeito aos direitos dos trabalhadores e da população.

O levantamento do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) sobre a situação dos hospitais em São Paulo não pode ser considerado algo habitual nem ser desconsiderado.
O cenário apontado, tomando como amostragem hospitais públicos, foi de dificuldade para transferir pacientes, equipes médicas incompletas e falta de materiais básicos. Em 58% dos hospitais avaliados havia macas com pessoas nos corredores. Poderiam dizer que se estão em macas é porque foram atendidas. Mas em condições sabidamente inadequadas.
Ao mesmo tempo da divulgação da vistoria realizada pelo Cremesp, cerca de 80 funcionários estaduais da área da saúde passaram a noite em vigília na Assembleia Legislativa. A manifestação, pacífica, ocorreu, segundo os dirigentes sindicais, em razão do impasse nas negociações salariais e da falta de incentivo à carreira dos trabalhadores.
A questão de fundo é o pouco que se gasta em saúde no país, os equívocos na gestão da política da área e o desrespeito aos direitos dos trabalhadores e da população, que afetam também o setor privado.
Mas as dificuldades não podem fazer com que o poder público desista de resolver os problemas existentes. Fui secretário de saúde da cidade de São Paulo e tenho plena noção dos desafios para oferecer à população uma política de saúde pública, gratuita e de qualidade. E o diálogo entre as partes interessadas é fundamental para superar esses impasses.
Entre as ações necessárias para reverter esse quadro, é preciso dar condições adequadas de trabalho, investir em formação profissional, pagar salários compatíveis com o mercado e incentivar a participação de todos nas decisões.
Temos de tirar o foco das disputas político-partidárias para priorizar o interesse coletivo. Afinal, só conseguiremos melhorar a saúde se os três níveis de governo somarem esforços em defesa do SUS. Caso contrário, vamos continuar perdendo essa batalha na opinião pública. E o pior: situações como as apontadas pelo Cremesp serão consideradas banais.

(Colaboração de Carlos Neder, médico e deputado estadual (PT). www.carlosneder.com.br / [email protected]).

Publicado na edição nº 9557 dos dias 11 e 12 de junho de 2013.