
O assunto de hoje vai interessar mais às pessoas maduras, pois, trata do que acontecia, há mais de 60 anos. Naquele tempo, Bebedouro tinha no máximo de 30 a 40 veículos. A maioria esmagadora era composta de Fordinhos do ano 1929. As exceções era um Chevrolet 1934, de propriedade de Caetano Miglino, representante das indústrias Matarazzo, naquele tempo a única indústria brasileira. O veículo já tinha pintura metálica. Ele era dirigido por um motorista fardado, que usava inclusive um quepe militar. Outro carro diferente pertencia a Aderval Marques, dono de várias fazendas no município. O transporte urbano era feito por carroças, puxadas por um ou mais animais. Quando os trens de passageiros estavam para chegar, as carroças estacionavam na rua da estação, para transportar as bagagens e mercadorias vindas nos trens. Os passageiros eram transportados em carroças, chamadas charretes. A diferença era, que suas rodas eram de pneus, tinham capota e um banco para sentar. As carroças também faziam o transporte de bens entre a cidade e a zona rural. Naquele tempo, Bebedouro tinha 12 mil habitantes na zona urbana e 18 mil nas fazendas agrupadas nas chamadas colônias de tratadores da cultura do café. Aos sábados, a cidade chegava ficar congestionada por carroças, quando os moradores de fazendas vinham fazer compras, ou participar de feiras, com as próprias carroças. Todas essas lembranças me voltaram a memória, quando li reportagem do Estadão, do dia 10 último – caderno jornal do carro. A reportagem noticia, que morador da capital, há 52 anos, tem um carro Ford, ano 1928. Está em perfeito estado de conservação – melhor do que alguns carros atuais. Ele o usa, para se transportar pela metrópole. Enfrenta o trânsito pesado das ruas de Vila Formosa. Foi um regalo ver sua fotografia. Ela revela um carro, em estado de novo, com pintura vermelha viva, capota preta. Os seus pneus têm faixa branca, inclusive o estepe acoplado na parte traseira. No bairro, seu dono é conhecido de todos pela alcunha de “Chico do Fordinho”. Atualmente o Fordinho circula apenas na zona urbana. Mas, seu dono conta, que ele circulava constantemente nas vias Anchieta e Imigrantes, até pouco tempo, descendo até Santos. O artigo lembra anúncio publicado no Estadão de 27/1/1928, quando a Ford anunciou aos brasileiros a renovação de nova linha de automóveis. Enumerava os importantes avanços técnicos, tais como partida automática – sem uso da manivela, limpadores de parabrisa, velocímetro, espelho retrovisor, medidor de óleo, lanternas traseiras, entre outras inovações. Embora o carro já tenha 91 anos, o dono se vangloria de nunca ter mexido em seu motor. Não imagino, como o leitor, que tem carro atual, pensa de tudo isso, mas para mim dá uma sensação de pura aventura.
(Colaboração de Antônio Carlos Álvares da Silva, advogado bebedourense).
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Leia mais na edição 10374, de 16, 17 e 18 de março de 2019.