Vença o analfabetismo digital

José Renato Nalini

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Há várias formas de analfabetismo vigentes no Brasil. O analfabetismo em sentido estrito, que é o dos que não sabem ler e escrever. Infelizmente, ainda uma lamentável deficiência da educação tupiniquim. O analfabetismo funcional, dos que rabiscam o nome e titubeiam na leitura, mas não sabem exatamente o que leram. O analfabetismo dos monoglotas, que não conseguem se comunicar em outro idioma e o analfabetismo digital. Este, bastante nefasto numa era em que a comunicação é toda online e a Quarta Revolução Industrial nos mergulhou numa volúpia da qual nunca mais sairemos.

O que faz hoje uma pessoa que não consegue acionar um dispositivo para mandar mensagens, fazer pagamentos PIX, consultar suas contas, transferir importâncias, localizar endereços?

A boa notícia é que há instituições de ensino que oferecem cursos de tecnologia online gratuitos. Ninguém pode reclamar de não encontrar tempo ou de não ter dinheiro para pagar esse aprendizado.

A respeitada FGV – Fundação Getúlio Vargas, por exemplo, endereço eletrônico: educação-executiva.fgv.br/cursos/gratuitos, oferece a formação em Introdução à ciência de dados. É uma visão geral sobre a ciência de dados e suas principais etapas. Também aborda as ferramentas matemáticas e computacionais tipicamente empregadas na área. O curso tem a duração de sessenta horas.

Ainda a FGV oferece dois outros cursos: Linguagem R – Introdução à Programação e Automação, com abordagem dos comandos principais para a análise da linguagem de programação R, com duração de nove horas. E Tópicos em machine learning, que apresenta a área de aprendizagem de máquinas e amplia o conhecimento sobre o algoritmo SMV. São dez horas online.

A Universidade Cruzeiro do Sul promove um curso Jogos para dispositivos móveis, introdução a conceitos, ferramentas e tecnologias de desenvolvimento. E a Fundação Bradesco oferece Linguagem de Programação Python, um curso que explica a linguagem de programação, do básico ao desenvolvimento de projetos e inclui introdução à linguagem de consulta SQL, com a duração de 53 horas.

Ainda a Fundação Bradesco dá, gratuitamente, curso de banco de dados, com iniciação a terminologias aplicadas na implementação de bancos de dados, além do passo a passo necessário para sua administração, com duração de 48 horas. “Primeiros passos em tecnologia” é o estudo que fornece conceitos básicos da informática, as ferramentas digitais mais importantes e os princípios de segurança da informação, com duração de 19 horas.

Muitos outros cursos gratuitos estão disponíveis e à espera de interessados. Potencialize suas oportunidades de galgar ascensão na carreira, mostrando que você não é um analfabeto digital. O futuro está à sua espera.

A geração ansiosa

As redes sociais tomaram conta do mundo. O Brasil é o laboratório instigante para análise desse fenômeno. Fácil constatar como estão mergulhados nos celulares, humanos de todas as idades.

A influência da internet é crescente e absoluta. Conheço pais impotentes diante da tirania do celular. Às vezes por comodismo, outras vezes por não saber exatamente o que fazer, consolida-se o domínio digital.

Algo que atinge a todos suscita o interesse de pensadores de vários calibres. O livro “A Geração Ansiosa”, do psicólogo norte-americano Jonathan Haidt, contemplou a gravidade dos prejuízos causados pelo uso celular a crianças e adolescentes.

Não é preciso ser especialista para concluir que existem problemas de saúde mental, aprendizado e de desenvolvimento físico e socioemocional. A dependência é um fato empiricamente comprovável. Quem já não presenciou cenas de crianças que são periodicamente proibidas de manusear seus aparelhos? O uso contínuo e incessante dos smartphones é um verdadeiro vício em inúmeros lares.

Por isso, existe polêmica a respeito do uso dos celulares em sala de aula, algo que defendi enquanto Secretário da Educação do Estado de São Paulo. Não é uma liberdade plena, porém o uso subordinado à finalidade pedagógica. Entretanto, o Movimento Desconecta, criado por mães paulistas, pressiona as escolas a proibirem o uso de celulares.

A polêmica vai perdurar. Algo que está disponível e que a cada momento ganha novos aplicativos, a internet continuará a existir, a ser utilizada e a ostentar novas finalidades. O necessário é cotejar o custo benefício dessa utilidade. Quais os benefícios que o mundo digital oferece? Quais os prejuízos? É possível compensar aqueles com estes?

Tudo na vida tem várias facetas. O maniqueísmo é algo mais próprio à utopia. Nada pode ser de imediato, automaticamente excluído, se houver alguma vantagem na sua utilização. E a ansiedade é uma questão atualíssima, que resulta dos desafios nunca dantes postos à humanidade. O maior e mais grave deles é a emergência climática. Mercê do mau uso dos recursos naturais, a Terra exauriu-se e agora responde com fenômenos extremos, causadores de morte e desgraça. Diante desse perigo, o uso inadequado dos celulares é uma questão que perde importância e significado.

(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo).

Publicado na edição 10.873, de sábado a terça-feira, 14 a 17 de setembro de 2024 – Ano 100