

No início da década de 1950 a cidade de Bebedouro ainda tinha área urbana restrita ao que corresponde atualmente à região central, com exceção da Vila Paulista, construída exclusivamente para os trabalhadores da empresa ferroviária homônima, e da Vila São José, posteriormente denominada Vila Major Cícero de Carvalho, em homenagem ao seu idealizador.
Foi neste contexto que surgiu a informação de que o Instituto de Aposentarias e Pensões dos Comerciários – IAPC – iria destinar o valor de dois milhões de cruzeiros para a construção de 30 casas na cidade, as quais seriam destinadas aos trabalhadores do comércio local, ou seja, um bairro popular.
O IAPC fora criado em 22 de maio de 1934, no governo constitucional de Getúlio Vargas, que no decorrer do tempo expandiu suas atividades, incluindo o financiamento de projetos de habitação popular nas grandes cidades. Posteriormente o Instituto também incluiu projetos de cidades do interior, como por exemplo, Bauru, Garça, Marília, Tupã e outras.
Para viabilizar a construção das casas destinadas aos comerciários bebedourenses, por meio da Lei no. 232, de 31 de março de 1953, aprovada pela Câmara Municipal e assinada pelo prefeito dr. Pedro Paschoal, ocorreu a doação ao IAPC de um terreno onde até então funcionava o campo de futebol da AMA, no quadrilátero entre as ruas Campos Sales, Lucas Evangelista, Floriano Peixoto e 13 de maio (atual rua Prof. Orlando França de Carvalho).
Na sequência, a cidade recebeu um representante do Instituto para realizar as inscrições dos comerciários interessados em se candidatar às casas, sendo realizada uma reunião com esta finalidade na sede da Associação dos Empregados no Comércio de Bebedouro.
No dia 28 de julho estiveram na cidade o presidente do IAPC, Henrique de La Roque Almeida, e o diretor no estado de São Paulo, Rodrigo Barjas Filho, para a cerimônia do lançamento da pedra fundamental da Vila. Representando os futuros moradores da Vila, discursou o jornalista José Francisco Paschoal, sendo colocadas junto à primeira pedra alguns marcos históricos, como um jornal do dia, moedas, ata e outros.
Os visitantes foram homenageados com almoço no Bar São Paulo, do qual participaram também os futuros proprietários das casas que seriam construídas, além de autoridades e convidados. À noite foi realizado um baile na sede da AECB, abrilhantada pela Orquestra Marabá.
O início das obras resultou no envio de uma carta de agradecimentos ao presidente da República: “A Associação dos Empregados no Comércio de Bebedouro tem a honra de apresentar ao Chefe da Nação os agradecimentos dos comerciários bebedourenses pelo início da construção, nesta cidade, de 30 residências financiadas pelo IAPC […]”.
O novo bairro recebeu o nome oficial de “Vila Comerciária Rodrigo Barjas”, tornando-se conhecida como “Vila Comerciária” ou Vila do Comerciários”. Porém, em 4 de junho de 1960, por meio da Lei no. 421, aprovada pela Câmara e assinada pelo prefeito Hércules Pereira Hortal, passou a ser denominada “Vila Monte Castelo”. A mudança foi decorrente da nova denominação dada à via pública localizada em frente à estação ferroviária, anteriormente chamada “Avenida Monte Castelo” e que a partir de maio de 1960, passara a ser a “Avenida dos Antunes”, nomenclatura mantida até a atualidade.
Por sua vez, de acordo com moradores, as duas pequenas ruas que dividem as quatro quadras da Vila, ficaram sem denominação por muitos anos. Somente na década de 1980 foram nomeadas como forma de homenagear os cidadãos bebedourenses Raphael Latorre e Ulisses de Carvalho.
Os homenageados
Raphael Latorre, nascido na Espanha em 1886, depois de residir em outras localidades, mudou-se para Bebedouro, onde além de exercer a profissão de alfaiate, deu continuidade à difusão da doutrina espírita, trabalho reconhecido dando o seu nome ao “Centro Espírita Raphael Latorre”, fundado em 1978.
Ulisses de Carvalho, nascido em Bebedouro em 1963, formou-se em psicologia e atuou na docência da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras e como psicólogo na Apae, Departamento Municipal de Promoção Social, Fórum de Bebedouro e Hospital Júlia Pinto Caldeira, entre outros. Faleceu em 1998, sendo lembrado também por sua dedicação à área da educação, ao teatro e ao voluntariado.
Publicado na edição 10.923, de sábado a sexta-feira, 17 a 23 de maio de 2025 – Ano 100
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense.