A dona da voz do Saaeb

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Há duas décadas, a voz mais ouvida na autarquia é da telefonista Zulmira Dameto. Filha de agricultor, ela conta sua trajetória que começou na central telefônica, em Turvínea, até chegar no Saaeb. Com simpatia e alegria, ela usa o jogo de cintura para ouvir os problemas de todo mundo.

A voz do Saaeb – O alô de Zulmira é escutado há 20 anos, pela população de Bebedouro.

Gazeta de Bebedouro – Como sua família veio para Bebedouro?
Zulmira – Meu pai trabalhava na roça, pegava terra para plantar e por isto, mudava mais do que cigano. Numa destas mudanças chegamos em Bebedouro, lá para o distrito de Turvínea, por onde minha família ficou por mais de 30 anos. Eu vim para Bebedouro depois que comecei a trabalhar na Prefeitura. Eu trabalhava antes em uma central telefônica, mas fechou então tive de procurar emprego em Bebedouro.

GB – E como funcionava uma central telefônica?
Zulmira – Não tinha um nome específico. Comecei a trabalhar lá em 1987. Eu era responsável para repassar as ligações telefônicas de todo mundo que morava em Turvínea. Mas era meio complicado porque muita ligação era para a zona rural, sítios e fazendas, e nem sempre era possível repassar a ligação por causa dos problemas nos cabos que às vezes ficavam danificados e dava pane geral. Bastava colocar fogo na cana-de-açúcar para acontecer isto, porque o calor rompia com os cabos. Eu não tinha culpa, mesmo assim ouvia muitas reclamações e até xingamentos. Eu tinha que me descolocar de Turvínea para Bebedouro onde ficava a central, para avisar sobre o problema e pedir reparos. Naquele tempo não tinha celular, por isto, tudo era muito complicado.

GB – Quais foram os momentos mais marcantes deste trabalho?
Zulmira – Teve coisas boas e ruins. O complicado era comunicar falecimentos para pessoas que não tinham telefone. Me ligavam na central telefônica e eu tinha que ir na casa para informar a pessoa sobre a morte do parente. Não era fácil, porque tinha que pegar o carro e ir até a casa, que muitas vezes ficava em fazendas distantes. Na verdade, não era minha obrigação. A instrução era para pegar o recado e pedir para alguém avisar. Mas como isto quase nunca dava certo, eu mesmo me encarregava de fazer isto, porque não podia deixar uma pessoa sem saber do falecimento. Não achava correto. Fui criada pela minha família para sempre ajudar as pessoas, ser prestativa.

GB – Recorda-se de algum caso?
Zulmira – Lembro-me quando faleceu uma senhora, e o filho dela morava no sítio. Para complicar, era época de muita chuva, o que complicou o trajeto, porque a estrada estava muito ruim. Foi muito difícil chegar até lá. Só consegui porque fui com o meu Fusquinha, que aguentou tudo. Quando cheguei lá, dei a notícia. Ela sabia que a mãe estava muito doente, mas quando falei do falecimento, ele ficou inconsolável.

(…)

Leia mais na edição nº 9579, dos dias 3, 4 e 5 de agosto de 2013.