
É fato que a ciência ao longo dos séculos tem respondido à humanidade inúmeras questões importantes sobre o mundo e sobre nós mesmos. Entendemos, meio a contragosto, que nossa existência perante o universo sob a dimensão do tempo e do espaço é insignificante, que não passamos de uma reles poeira estelar. Entendemos também que como espécie, nós humanos somos passageiros recentes na Terra – os dinossauros, por exemplo, dominaram o planeta há centenas de milhões de anos, ao passo que a nossa espécie surgiu a apenas alguns milhares – e que nessa recente estadia, estamos transformando o planeta, deixando um legado nada promissor para as gerações futuras em nome de um progresso duvidoso.
E se conseguimos corrigir um pouco do nosso olhar míope para o universo, conseguimos também obter uma visão bem mais precisa de nosso próprio interior. Doenças e males que nos ameaçaram por séculos foram mapeados e literalmente excluídos de nossa vida, embora vez ou outra, tornam a nos afligir por desleixo e irresponsabilidade de alguns.
Pelo viés científico
A despeito de termos evoluído sensivelmente pelo viés do conhecimento científico, ainda patinamos em alguns assuntos cruciais. Não é de hoje que a discussão sobre a origem da vida se faz imperativa nas mentes humanas. Quem dentre nós, não gostaria de entender a gênese da vida ou, em outras palavras, saber como tudo começou?
Claro que a religião nos dá um endereçamento tão preciso quanto simbólico dessa origem, mas a humanidade não pode simplesmente depender e se conformar com tal simbolismo. É preciso ir adiante, entender os fundamentos. Nesse ponto, peço licença aos leitores de fé para discutir uma teoria que vem tomando fôlego nos últimos tempos, justamente pelas explorações espaciais que o homem tem realizado junto aos astros celestes denominados cometas. A teoria se chama panspermia, e traz em seu conceito a idéia da origem da vida fora do planeta Terra.
Do espaço para a Terra
Em contraposição à teoria da geração espontânea, defendida por inúmeros filósofos, físicos e matemáticos como Aristóteles, Santo Agostinho, Descartes e Newton, a panspermia também formou opinião entre os grandes. Um dos mais ilustres defensores dessa teoria foi Anaxágoras, filósofo grego que viveu no século IV a.C..
Mais recentemente, em meados da década de 1970, Sir Fred Hoyle e o professor Chandra Wickramasinghe, dois eminentes astrofísicos de instituições britânicas, começaram a desenvolver a moderna teoria da panspermia. Uma de suas principais definições afirma que a matéria interestelar contém formas primitivas de vida ou “esporos da vida” que chegaram ao nosso planeta através de “cegonhas siderais”, como os cometas e asteróides. Vale observar que a geração espontânea advoga que a vida surgiu aqui mesmo na Terra a partir dos elementos químicos que deram origem ao próprio planeta.
A panspermia tem despertado a atenção dos cientistas principalmente devido às recentes descobertas de matéria orgânica em meteoritos e às observações de raios infravermelhos vindos de estrelas e nuvens de poeira. Esses raios têm a aparente assinatura de bactérias comuns na Terra, como a Escherichia coli. Seria uma mera coincidência?
Essa é uma pergunta que claramente a ciência ainda não respondeu, mas que busca, incansavelmente, através das várias missões espaciais enviadas ou ainda a serem enviadas para procurar os preciosos esporos da vida.
Enquanto isso não acontece, continuamos a sonhar e nos contentar com a entusiástica ficção científica hollywoodiana, comendo uma pipoca e tomando um guaraná.
Colaboração de Wagner Zaparoli, doutor em ciências pela USP, professor universitário e consultor em tecnologia da informação.
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Publicado na edição nº 10287, de 19 e 20 de julho de 2018.