
Antonio Carlos Álvares da Silva
O escândalo da compra da refinaria de Pasadena não sai das manchetes dos jornais e da TV. A consequência foi a instalação de uma CPI, requerida pela oposição. O presidente do Senado, Renan Calheiros fez de tudo, para descaracterizar essa CPI. Para isso tentou recheá-la, com outros assuntos. Queria atingir os dois candidatos da oposição, Aécio e Eduardo Campos. Não conseguiu. Então, manobrou e criou, outra CPI, exclusiva do Senado, paralela a CPI da oposição, que é mista (deputados e senadores). Na CPI do Senado, Renan indicou todos os membros da comissão (15), inclusive os 3 destinados à oposição. A parcialidade dessa comissão ficou tão patente, que provocou criticas irônicas tanto da oposição, quanto da mídia. Em seguida, esse episódio, que era apenas uma farsa, pela falta de pudor, transformou-se em uma grande desfaçatez. Um dos parlamentares nomeados, José Pimentel, do PT, resolveu aparecer na TV, para reclamar. Argumentou: “As criticas feitas à comissão da CPI, eram um desrespeito aos parlamentares e ao Poder Legislativo. Colocado em foco, ele foi investigado. Foi revelado que José Pimentel, na última eleição havia recebido 1 milhão de reais de uma empreiteira que prestou serviços para a Petrobras. Para completar, o ex-presidente da Petrobras, Sergio Gabrieli, foi ouvido novamente e mudou sua declaração anterior. Declarou que a compra da refinaria de Pasadena tinha sido um bom negócio. É, Gabrieli, então, quem fez um negócio ruim foi a Astra Oil, empresa belga dirigida por um homem de 87 anos, chamado Frere (irmão em francês). A Astra Oil comprou a refinaria em 2006, por 42 milhões de dólares e a vendeu à Petrobras, em 2008 por 1 bilhão, 270 milhões de dólares, mas de 30 vezes mais. Bem por isso, um jornal belga, ao comentar o negócio, chamou a Petrobras de “le bon frere”, o bom irmão. Fechou-se o circulo. A descompostura mostrou sua cara de pau.
Uma refinaria,
que não é fina
Todos estão falando da refinaria de Pasadena e dos prejuízos da Petrobras. Nesse quadro, está meio esquecido outro escândalo, também importante da empresa. Estou falando da construção da Refinaria Abreu e Lima, que as empreiteiras contratadas estão terminando em Pernambuco. Em 2002, sua construção foi orçada pelos engenheiros da Petrobras em 2 bilhões de dólares. O contrato dizia, que ela seria construída em parceria com a empresa estatal venezuelana, PVSA. A construção foi-se desenvolvendo e a sócia da Venezuela jamais participou, nem forneceu o dinheiro de sua parte. Essa omissão gerou varias criticas à empresa venezuelana, Agora, que a refinaria está ficando pronta, tentei adivinhar o motivo do desinteresse da sócia. Acho, que foi porque a Refinaria Abreu e Lima foi orçada em 2 bilhões de dólares e custará 20 bilhões de dólares, 20 vezes mais. Essa diferença no orçamento, me fez pensar em uma analogia; se você pedir para um ajudante de pedreiro, para fazer orçamento de uma casa de 100 mil reais, certamente ele errará menos. A casa poderá ficar mais em 150 mil ou até 200 mil reais. Não mais, que isso. A Petrobras tem um enorme corpo de engenheiros especializados na construção e manutenção de refinarias. Por que será, que eles cometeram um erro tão gritante, de elaborar um orçamento 10 vezes menor. O Estadão de 18/05/2014, A-3, lembrou um detalhe, que pode ajudar. No tempo em que a Refinaria foi construída, o presidente do Conselho de administração da refinaria era o notório Paulo Roberto Costa, preso em março último, por seus vínculos com o esquema que lavou 10 bilhões de reais, com envio ao exterior. Quem tem coragem de contratar tal diretor, acaba achando, que todo o negócio é bom. Principalmente, se ganhar mais de 200 mil reais de salário, para aceitar isso.
(Colaboração de Antonio Carlos Álvares da Silva, advogado bebedourense).
Publicado na edição nº 9697, dos dias 24, 25 e 26 de maio de 2014.