O prefeito Lucas Seren anunciou no final da sexta (19), mudanças na Secretaria Municipal de Saúde. A partir de 1º de fevereiro, assume a secretaria de Saúde, Ana Paula Tilelli e Éverton Zen, que deixa a gestão hospitalar do Hospital Regional de Bebedouro José Cutrale Junior, para assumir como diretor do Hospital Municipal de Bebedouro Júlia Pinto Caldeira.

As alterações foram anunciadas pelo chefe do executivo em suas redes sociais, acompanhado da vice-prefeita Sebastiana Tavares, do presidente da Câmara Edgar Chelli, dos novos ocupantes dos cargos da Saúde Tilelli e Zen, e de representantes da OS Cesário Lange, Roberto e Rafael, que assumem a gestão da UPA (Unidade de Pronto Atendimento).

Os novos gestores receberam a Gazeta, na manhã de quarta-feira (24) para falar sobre os projetos que pretendem implementar na melhoraria da saúde pública da cidade.

O convite

Tilelli que coordenava o Cerest (Centro de Referência da Saúde do Trabalhador), fala da satisfação de ter recebido o convite de Seren. “Fiquei feliz pela indicação e agradeci ao prefeito Lucas Seren pela confiança. Estou no Hospital Municipal desde 1.996 e passei por alguns setores. Era concursada, mas me exonerei em 2014 e retornei à saúde pública em 2018, a convite do então prefeito Fernando Galvão. A saúde é uma preocupação do prefeito Seren, em oferecer um atendimento mais humanizado, mais certeiro e rápido para nossa população. Também estou contente com a chegada do Everton, como diretor do Hospital Municipal, pois até então, não existia esse cargo. Ele é uma pessoa ligada ao Hospital de Amor, interligado com os hospitais de referência da região e, além de ser um bom gestor, conhece todas as pessoas ligadas à saúde”, inicia Ana Paula Tilelli.

A nova secretária salienta que a equipe tem se reunido para fazer diagnósticos e traçar estratégias que possam melhorar e aperfeiçoar o atendimento da saúde pública: “Nosso foco é oferecer atendimento de excelência e esse é um desafio grande, mas estamos muito animados. Gostei muito dos parceiros, pensamos da mesma forma e acredito que vamos obter sucesso nas medidas em prol dos funcionários e dos pacientes”.

Zén conta que ficou surpreso com o convite do prefeito, mas foi motivado a aceitá-lo por se tratar de um grande desafio: “Tinha esse desejo no meu coração e o convite veio de encontro a isso. Meu objetivo é levar a filosofia do Hospital de Amor, onde trabalhei por 16 anos. Quando soube que iria trabalhar com Ana Paula fiquei feliz, pois ela também é ligada nos 220v (risos). Tenho ciência que não será fácil, mas nós podemos usar o serviço mais bonito do SUS, o matriciamento, que é interligar todas as complexidades da saúde, primária, média e alta. Isso precisa funcionar para termos um atendimento de alta qualidade”.

Questionado sobre sua saída do Hospital Regional para ir para o Hospital Municipal, Zén diz que sua decisão foi compartilhada: “Não vejo como uma saída, mas um até logo. Posso ser mais útil na saúde pública e não cheguei aqui à toa. Saí do extremo norte do país e Deus me colocou em um lugar próximo, Bebedouro (risos)…  Me deram uma missão de montar um Hospital de combate ao Covid-19 e fizemos isso em 60 dias. Achei que fosse impossível, mas conseguimos. Ganhamos uma licitação do SUS, montamos um hospital de referência, humanizado e com instalações fantásticas. Cheguei, onde queria chegar e precisava de novos desafios, mas o meu cordão umbilical está no Hospital Regional e sou grato por todo conhecimento adquirido lá… Conversei com Henrique Prata, a quem devo todo meu conhecimento e agradeço a Deus por ter me dado oportunidade de conhecê-lo, e quando você tem o aval de um homem como ele, fica mais fácil decidir”.

Gestão compartilhada

Os gestores contam que o principal desafio é aperfeiçoar o matriciamento entre os equipamentos da saúde pública, para oferecer um atendimento mais ágil aos pacientes.

“Assim como o slogan desta gestão, ‘Bebedouro, unida e moderna’, queremos essa mesma união em toda a rede da saúde, com os médicos  e profissionais da saúde atuantes e boa estrutura para todos poderem trabalhar”, salienta Tilelli.

“A gestão da saúde não é só fluxo de caixa, é preciso ouvir, conversar e entender qual a dificuldade do técnico de enfermagem, da enfermeira e do médico. Nessa direção, temos um bom canal com o governo municipal, pois temos um prefeito atuante e isso é primordial para que dê certo. Com um prefeito que se preocupa com a população e profissionais empenhados e engajados para dar o seu melhor, não tem como dar errado”, complementa Zén.

A reportagem questionou aos gestores,  qual o maior problema detectado por Seren e que ele pediu que fosse resolvido: “A espera do paciente pelo atendimento e o aperfeiçoamento da comunicação da rede interna são os principais desafios. Bebedouro é a central que recebe pacientes de várias cidades. Quando esses pacientes chegam, precisamos de um processo e um desfecho rápidos, tanto no Hospital Municipal como na UPA, mas também para as complexidades externas, como Hospital Regional e Santa Casa de Barretos. Essa interligação é extremamente importante”, explica o novo diretor do HM.

Para Zén, o software que está em fase de implantação, que integra as ESFs (Estratégia de Saúde da Família), ARE (Ambulatório Regional de Especialidades), Hospital Municipal e UPA, é uma ferramenta estratégica para atingir os resultados.

“O sistema ainda não está funcionando em sua capacidade total para que possamos ver sua eficiência. Quem aderiu ao sistema foram os enfermeiros e médicos, mas é preciso que a equipe multi como fonoaudiologia, nutrição, fisioterapia e psicologia façam parte desse sistema. Ele está em fase de instalação final e foi um excelente investimento”, opina Ana Pula.

“Além disso, teremos uma economia de exames e remédios, pois temos informações de todo o histórico do paciente, com essa integração. É importante salientar que esse software não vai integrar-se com os outros dois importantes equipamentos que são o Hospital Regional e a Santa Casa de Barretos. Uma coisa é o software e outra coisa é o matriciamento”, ressalta Tilelli.

Qual o papel do HM e do Hospital Regional?

Com o grande fluxo de atendimentos realizados pela UPA, encaminhados em alguns casos ao Hospital Municipal, a Gazeta repassou aos gestores o que a população tem questionado: Qual é o papel do Hospital Regional e o por que ele não absorve os pacientes do Hospital Municipal?

“Cada hospital tem a sua funcionalidade e sua complexidade, não é o Everton que está falando, é a cartilha do SUS. Precisamos ter um hospital em alguma cidade, para atender a região. O Hospital Regional atende esses pacientes em casos de média complexidade. Já os pacientes de alta complexidade são encaminhados para o hospital referência da região, que é a Santa Casa de Barretos… O Hospital Regional não pode receber um paciente que não se encaixe nesta regulação. Hoje, o maior volume de cirurgias do Regional são as ortopédicas e gerais, vindas da UPA. O mesmo médico que trabalha no HM, também trabalha no Regional, e eles mesmos agilizam esse processo”, explica Zén.

“Muitas pessoas não entendem essa regulação porque ainda não precisaram dos serviços do Hospital Regional. O Hospital Júlia realiza algumas cirurgias simples ortopédicas, já o Regional, absorve as médias, e Barretos realiza neurocirurgias, por exemplo, porque estes dois que citamos, não as realizam. Por exemplo, uma pessoa caiu, machucou a cabeça e irá precisar fazer cirurgia, essa paciente será encaminhada a Barretos, não podemos fazer este tipo de procedimento aqui, existe um limite de serviço”, exemplifica a secretária.

Tilelli acrescenta que na gestão do ex-governador João Doria ficou definido que o Hospital Regional seria totalmente absorvido pelo estado de SP. “Por conta dessa necessidade de regulação, a saúde municipal teve que investir no Hospital Municipal e deixá-lo em condições para continuar atendendo Bebedouro e a microrregião. A partir disso, fizemos todo um trabalho e Fernando (Galvão) se empenhou para resolver os problemas iniciais, e depois Lucas (Seren), alguns mais graves referentes à estrutura. O Hospital Municipal é como nossa casa, que precisa de manutenção constante por seu grande fluxo”.

Para Zén, Bebedouro ganhou um novo equipamento. “Trazer um Hospital Regional para uma cidade que tem menos de 100 mil habitantes, sinceramente é um privilégio. O Regional não é só de Bebedouro, é da região, portanto, esse é um ganho coletivo. A região sul raramente recebe pacientes da região norte, pois ela é bem servida de equipamentos de saúde e então, nós precisávamos de um Hospital Regional. E o governo estadual viu a necessidade de recebermos o Regional”.

Piso da enfermagem

Sobre o pagamento do piso da enfermagem, Tilelli diz: “Os salários estão sendo pagos normalmente, o governo federal manda o complemento do valor que falta e esse recurso está sendo repassado aos enfermeiros”.

“Cada profissional, com base em seu CPF, é conferido pelo governo, que repassa o valor individualmente, para complementar o piso”, explica Zén.

“O prefeito também pediu que a OS que vai assumir, pratique o piso da enfermagem aos novos funcionários”, complementa Tilelli.

Sala 13 passa a ser Núcleo Interno de Regulação

Outra mudança a ser implantada, a pedido de Seren é a nomenclatura da Sala 13 que muda para NIR (Núcleo Interno de Regulação): “Quem já precisou marcar algum exame, conhece a sala 13 e pelo número alto, ela fica longe de tudo. Vamos trazê-la para bem perto, do nosso lado, para acompanharmos de perto todas as solicitações de pedidos de exames e também acompanhar o sistema de software. O próprio médico, por esse sistema, consegue solicitar os pedidos que cairão automaticamente no sistema do NIR. A ex-Sala 13 é um departamento extremamente importante e precisamos trazê-lo para perto de nós e sistematizá-lo”.

Óbitos de Bebedouro aumentam

Gazeta analisou os dados do Portal da Transparência do Registro Civil da Arpen, referentes aos nascimentos e óbitos de Bebedouro e outras quatro cidades da região: Jaboticabal, Barretos, Sertãozinho e Matão. Na região, Bebedouro teve mais óbitos no comparativo com estas cidades analisadas, e também cresceu em relação ao ano de 2022. Outro dado, que também mereceu a atenção da Gazeta, com dados oferecidos pela Fundação Seade, é a taxa de mortalidade infantil de Bebedouro, que em 2023 foi de 10,22%, e ao ser comparada com a de 2019, que era de 3,28%, acende a luz de atenção. Como pode ser avaliada essa questão?

“Como novos gestores, vamos nos colocar a par destes dados, analisar o que está acontecendo e trabalhar para que isso diminua. Mas, no primeiro momento, Bebedouro é uma cidade com maior porcentagem da população na terceira idade e o pós Covid fragilizou muito a saúde desta faixa etária. Ainda não conhecemos todo o estrago que esse vírus fez e ainda pode fazer dentro do organismo e, no caso das gestações, isso também preocupa. Perdi minha mãe para Covid e a saúde do meu pai está fragilizada. A procura por atendimento em saúde mental também aumentou e ainda estamos analisando e enfrentando os efeitos que a Covid-19 causou”, diz a secretária.

“A atenção primária oferece pré-natal e está à disposição, mas precisamos que as mães procurem esses serviços. Sem o pré-natal, o risco para a criança é enorme, já atendemos mães que chegaram ao Regional com 8 meses de gestão, sem passar pela saúde primária”, complementa Zén.

Nova OS

A partir de 1º de fevereiro, a OS Cesário Lange, vencedora da licitação, assume a gestão da UPA. Tilelli conta que está animada com a nova organização social de saúde. “Eles se mostram dispostos a realizar um bom trabalho. Além da agilidade no atendimento e na diminuição da fila de espera, a solicitação do nosso prefeito é que a UPA faça uma recepção separada para atendimento das crianças. A OS garante que irá acatar o pedido”, adianta Tilelli

Legislativo

A saúde é pauta recorrente dos vereadores nas sessões da Câmara Municipal. Questionada de como será essa relação, Tilelli garante: “A melhor possível, pois é preciso ter um bom relacionamento para realizar um bom de trabalho em equipe, com os vereadores, inclusive”.

Publicado na edição 10.816, de sábado a terça-feira, 27 a 30 de janeiro de 2024