Ano político: poder e escolhas…Quem prevalece?

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Julio Cesar Sampaio

Quando é que o homem pensa corretamente seu “querer”? Quando compõe e decompõe mentalmente o que, na natureza, é componível ou decomponível. Pode-se considerar a epistemologia (sob nosso pensar, obviamente, quiçá, oblíquo e elementar) como uma espécie de matemática, que soma e subtrai, combina e separa as coisas suscetíveis dessas operações. Doravante, como no âmbito da natureza nada existe que não seja componível ou decomponível – uma vez que tudo (?) é tridimensional – é claro que o homem não deve tratar de outro assunto que não sejam as coisas integrantes da natureza, ou seja, pode um homem, certamente, “imaginar”, ou também crer em outras coisas – mas esses objetos imaginados e cridos nada têm que ver com a filosofia, de um modo geral, que é uma ciência exata e objetiva. Em sua defesa de uma realidade acabada, segura, ordenada e estável, a filosofia teria erigido sistemas conceituais que aprofundaram a distinção entre “aparência” e “realidade”, gerando, por conseguinte, conseqüências epistemológicas – o querer. Ora, a condição para que qualquer evento, ou um suposto impulso por querer algo, seja descrito em termos cognoscitivos é que seja possível entendê-los nos padrões da racionalidade… Mas, explicações racionais incluem um elemento causal, pois aquelas são fomentadas como “crenças” e “supostos desejos” que tanto causam a ação quanto a justificam, ou seja: querer é poder, mas sem iniciativa de querer nada teremos! Nada… Entrementes, a liberdade, na política, é vista como o que há de mais fundamental na existência humana, condição determinante daquilo que somos, em função do que, por mais que queiramos ou tentamos, jamais conseguiremos dela nos furtar. Mediante isso, as escolhas são os elementos tensores da liberdade que faz com que o homem disponha da própria vida por, assim, fazer sua escolha ante o que escolher? Segundo Jean-Paul Sartre (1905 – 1980), filósofo francês contemporâneo: “todas as vezes que eu me faço ser algo eu nego aquilo que fundamentalmente sou… a má-fé é o esconderijo de minha liberdade”. Ante a todas estas indagações, nos perguntamos: Existe algum tipo essencial de liberdade que jamais possa ser tirada de nós? Se aferirmos à liberdade um valor concreto e não abstrato e a expressão de sua concretude pela situação temporal vigente, e as escolhas que fazemos para resolver problemas, são escolhas situadas? Aferimos tais contextualizações pelo fino propósito que, daqui a alguns meses, estaremos “impelidos” a cumprir nosso papel de cidadãos para escolhermos nosso futuro presidente, deputados e senadores. As escolhas que faremos para eleger nossos candidatos são escolhas situadas, escolhas que têm como objetivo resolver problemas concretos, embora alguns desejos de “compulsão voluntária” parecer-nos-á como um ato de imprudência, ou seja, temos a liberdade de escolha; podemos escolher livremente, todavia, porém, este ato de ser livre será engendrado por um ato responsável de ser livre, não?! Em suma, nossa liberdade nada mais é que um ato responsável de ser livre, para não sermos compelidos a agir contra nossa vontade… Ou não? Já quando trazemos em pauta – o poder – como temática vigente na política, mediante a nossa sociabilidade vigente, faz-se mister salientarmos o que, outrora, na Grécia antiga, fora asseverado como veemência: meden agan! (nada em excesso), em grego)… Doravante, quando o “ilimitado” se perfaz na forma de poder, encontramos, pois, um retrocesso despótico! O poder não é, em sua essência, nem bem nem mal, mas sim aquilo que fazemos dele, com temperança. Ora, nada mais útil e pertinente que colocarmos na questão contextual, aqui asseverada, o limite como princípio de equidade. Sabemos que: o que diferencia o veneno do remédio é a dose, ou seja, o limite entre os opostos. A literatura médica (sem generalizações, mas objetivando o raciocínio) orienta-nos a “combater” febres e dores (enxaquecas) com AAS – Ácido acetilsalisílico, não obstante, se, hipoteticamente, descuidarmos por tomar, ao invés de um comprimido, a caixa toda, poderemos causar sangramentos e acidose letal. O bom senso aqui e sempre, assim, prevalecer-se-á! Por que não, então, o poder?! Ser-nos-ia muito melhor termos dois poderes elementares (ainda na temática – sociabilidade) que se limitam (como um mal necessário?) que um único poder opressor e tirânico. O filósofo pré-socrático – Anaximandro (610-547 a.C.) cunhou o termo grego – ápeíron – como sendo o “indeterminado” uma “massa geradora” dos seres, contendo em si todos os elementos contrários da natureza (foi ele citado aqui apenas como “ponto de mensuração”). Em nada ele asseverou como determinado. Nada. Então, para finalizarmos, arguimos: baseado na máxima de Anaximandro (onde ele diz que o “indeterminado” contêm todos os elementos contrários) poderemos corroborar que poder como algo que corrompe quando ilimitado? Quer conhecer o caráter de alguém? Dê poder a este (…). Boa reflexão a todos em suas novas escolhas políticas…

(Colaboração de Julio Cesar Sampaio, Licenciado em Filosofia com pós-graduação no ensino de filosofia)

Publicado  na edição nº 9724, dos dias 26, 27 e 28 julho de 2014.