Bebedouro celebra 140 anos: mais forte e resiliente

Para o historiador José Pedro Toniosso, a principal conquista de Bebedouro ao longo destes anos foi a capacidade de superar desafios e se reinventar.

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Foto: Divulgação

Bebedouro celebra em 3 de maio, 140 anos de emancipação política. A data será marcada por diversas comemorações na cidade e tornou-se um marco no calendário dos bebedourenses.  Ao longo desses anos, Bebedouro superou inúmeros desafios, mas também comemorou muitas conquistas. Na visão o historiador Toniosso, a principal delas foi a capacidade de se superar e se reinventar.

“A cidade desenvolveu no decorrer desse tempo, a capacidade de superar desafios. Nós vivenciamos vários momentos históricos, enfrentamos vários problemas em nível local, nacional e global, tanto no aspecto político, como econômico e social. E ter superado todos estes momentos difíceis e de crise é uma conquista, além de chegar aos 140 anos da forma como estamos chegando… Claro que tudo não é perfeito, pois sempre há possibilidade de melhorar e ela pode acontecer desde que nós estejamos voltando o nosso olhar para o passado, e perceber aquilo que foi conquistado, como foi conquistado, e aprender com isso”.

Toniosso ressalta a importância da história na construção de elos de aprendizado e como eles resultam no presente: “Somos como somos e com o resultado de algo que se construiu no decorrer do tempo. Somos resultado de um processo que se desenvolve com o tempo e é sempre essa relação presente e passado que envolve muitas variáveis e personagens”.

O historiador enfatiza que existe uma preocupação maior com a história global e nacional, mas não se tem o mesmo olhar para a história local. “E precisamos ter essas referências sobre a história da nossa localidade, do lugar de origem e temos carências destas informações. Isso é resultado desta falta de preocupação ou até mesmo da oportunidade de que alguém se dedique a este tipo de pesquisa. Então, trabalho justamente com a intenção de estar atendendo a esta necessidade que percebo que é bastante significativa”.

O apogeu do café e da laranja

A história de Bebedouro tem laços importantes com a cafeicultura que foi um divisor de águas na história de Bebedouro e seu avanço resultou na intensificação da migração de muitas famílias na cidade.

“Bebedouro antes da cafeicultura era uma vila e o fato de ter se inserido nesse contexto da comercialização do café, possibilitou que a cidade desse uma guinada. A cidade se transformou e cresceu. Muitas pessoas vieram para cá, houve um processo intenso de organização, muitas empresas surgiram, houve também muitas construções, inclusive algumas muito imponentes, que marcaram uma época. Infelizmente, muitas foram demolidas ou descaracterizadas, mas nós temos muitos referenciais na cidade que remetem a essa fase áurea. E foram muitos os personagens envolvidos nesse processo”.

Dentre estes personagens, Toniosso cita o coronel Abílio Alves Marques, da Bahia, que chegou à cidade no final do século XIX. “Ele adquiriu fazendas, tornou-se o maior cafeicultor de Bebedouro e região e chegou a ter mais de um milhão de pés de café. Ele foi vereador, prefeito e vice-prefeito. Essa projeção no passado fez com que ele fosse homenageado com nome de escola e praça, além da Fundação de combate ao câncer. É uma das pessoas que simboliza essa época, mas não é só ele, tem muitos outros”.

O cultivo da laranja em Bebedouro teve início na década de 1930 como uma alternativa à crise do café. Inicialmente, o plantio ocorreu devido à iniciativa isolada de alguns agricultores, mas no decorrer dos anos, a citricultura se tornaria a âncora da economia local, tornando Bebedouro como referência no campo citrícola.

Sobre quem foram os principais produtores rurais que trouxeram a laranja para Bebedouro, Toniosso relata dois nomes. “Francisco Guerreira Medeiros foi o pioneiro do plantio de laranja na cidade, criando os primeiros viveiros. Depois, ele foi escolhido pelo prefeito Antônio Alves Toledo, para ser o diretor do Depto. Municipal de Citricultura, que fomentou a cultura na cidade. Além dele, o coronel Raul Furquim, que foi o primeiro grande produtor e que teve a audácia de destinar parte da sua propriedade, a fazenda Fortaleza, para o plantio de laranja, em uma época em que a maioria só plantava café. Ele foi ousado nesse aspecto e deu início a este processo no final da década de 20 e começo dos anos 30. O boom da citricultura surgiu a partir da década de 50”, relata o historiador.

E assim o agronegócio sempre fez parte da história de Bebedouro. “Não se usava essa nomenclatura, mas sempre se fez presente. Quando nós falamos a respeito do processo de formação do nosso município, assim como os nossos vizinhos, também a agricultura e a pecuária se fizeram presentes e foram muito importantes, até mais do que as indústrias que começaram a chegar depois, mas quem moveu a nossa economia no início da nossa história foi a agropecuária”, conta Toniosso.

E a história continua a ser contad

O processo de formação do município e a emancipação de Bebedouro são alguns dos fatos mais relevantes, segundo o historiador.  Para marcar os 140 anos de Bebedouro, será lançado um documentário onde estes fatos serão relatados, cujo projeto é da Prefeitura Municipal.

O historiador, um dos entrevistados do documentário, também recebeu convite do Sindicato Rural de Bebedouro para escrever sobre a história da cidade. Antes do convite, Toniosso já pesquisava o assunto: “Desde 2021, iniciei esse projeto, ‘Bebedouro, História e Memória’, que desenvolvi com a intenção de tornar mais fácil o acesso à história da cidade, pois muitas pessoas me procuravam pedindo informações sobre algum aspecto da cidade para algum trabalho escolar ou ponto histórico da cidade”.

Toniosso relata que há poucas obras publicadas sobre o assunto e o último é da década de 90. “Passei a investir nesse projeto primeiramente relatando através de um blog e redes sociais e, posteriormente, a convite da Sarah (Cardoso, diretora da Gazeta) passei a escrever na Gazeta. Isso foi abrindo mais possibilidades de realizar outros tipos de trabalho como o documentário que tem como objetivo marcar os 140 anos. O DOC também é uma forma de levar a história da nossa cidade para um público mais amplo, pois nem todos gostam de leitura ou têm acesso a jornais e livros. E fazer um documentário para uma sociedade que cada vez mais valoriza a imagem e o digital, é uma forma de facilitar o acesso à história. Isso é muito salutar”, elogia.

Sobre o livro, o historiador diz que a obra veio para somar-se às demais. “O livro é um presente do Sindicato Rural por iniciativa do seu presidente José Oswaldo Junqueira Franco, que teve essa brilhante ideia”, contando que os principais apoios nas pesquisas são obras de outros autores, pesquisadores e a imprensa, dentre elas, a Gazeta de Bebedouro.

Se pudesse presentear Bebedouro…

“Acredito que seria uma contribuição no sentido de ampliar o acesso à história da própria cidade. Penso que existe uma carência em relação a isso. São 140 anos de história, um tempo relativamente longo… Há muita história para ser vista, pesquisada e construída”.

Publicado na edição 10.840, de quarta a terça-feira, 1º a 7 de maio de 2024