

De acordo com os poucos registros existentes, o primeiro cemitério de Bebedouro foi construído por volta de 1879, onde atualmente está a Praça Valêncio de Barros, bem no centro da cidade.
Conforme cronologia publicada pelo pesquisador Arnaldo Christianini, “moradores do primitivo arraial, decidem voluntariamente fazer às suas expensas, o cercado de uma ‘data’ existente à beira do caminho para a Fazenda Avanhandava (hoje Monte Azul Paulista), ao lado da chácara do sr. Leandro, local onde, desde algum tempo, se enterravam os mortos, sem nenhum planejamento. […] Foi cercado por achas de aroeira, trançadas com arame farpado.”
Com o crescimento da vila e a conquista da autonomia política em 1894 devido à criação do município de Bebedouro, uma das primeiras preocupações da recém-criada Câmara Municipal foi a construção de um novo cemitério, tendo em vista a lotação daquele já existente, além da intenção de instalá-lo em uma área mais distante da região central.
Desta forma, na 6ª Sessão Ordinária da Câmara, realizada em 1º de março de 1895, por indicação do vereador Francisco Pedro de Carvalho, foi formada uma comissão para a escolha de um lugar apropriado para outro cemitério. A comissão foi constituída pelo vereador Antônio Gonçalves Valim, intendente Manoel Fragoas Ogando, e cidadãos Joaquim Mathias da Fonseca e Theodoro José de Lima.
Três meses depois, na sessão ordinária de 1º de junho, foi aprovada a proposta do intendente Manoel Fragoas Ogando para adquirir um alqueire de terra de Horácio Concílio, no valor de 500 mil réis, destinado à instalação do novo cemitério. Sua localização corresponde à mesma em que se encontra até os dias atuais,
Em março do ano seguinte, o intendente Antônio Gonçalves Valim comunicou à Câmara que as obras haviam sido iniciadas e apresentou projeto com regras e procedimentos para seu funcionamento, tendo sido aprovado pelos vereadores. Além disso, solicitou a nomeação do coveiro e do zelador, com salários de 600 mil e 400 mil réis, respectivamente, o que foi aprovado por unanimidade.
Com isso, mesmo antes de ser concluído o cemitério, começou a receber os primeiros corpos para sepultamento ainda em 1897. Posteriormente, os restos mortais daqueles que haviam sido enterrados no cemitério primitivo, foram sendo transferidos para o novo, deixando ali a fama sombria que gerou a denominação de “Jardim Misterioso” à referida praça.
Apesar da importância do logradouro, este não recebeu os devidos cuidados nos primeiros anos, sendo que em 1904, ainda não havia sido murado. Diante da situação o Coronel Alexandre Pulino decidiu providenciar o cercamento do local, com seus próprios recursos, o que causou insatisfação ao intendente Capitão Rufino Lopes de Oliveira.
Outros registros encontrados na imprensa confirmam o descuido, como a falta de placas nas sepulturas ou o afundamento de outras em 1910, ou as reclamações contra uma insólita plantação de trigo entre as sepulturas em 1911, e, ainda, plantações de melancias e quiabos entre os jazigos, em 1913.
Por outro lado, há também registros de melhorias, como a arborização interna do cemitério e a construção de um ossário, ambos em 1910, além de um necrotério, em 1922.
A partir de 1950 seria construída a Capela dedicada a Santo Antônio de Pádua, por meio de recursos oriundos da Festa de São João Batista e de doações de inúmeros fiéis, o que possibilitou sua inauguração em 2 de outubro de 1951.
Com o crescimento populacional e decorrente aumento no número de óbitos, por diversas vezes houve necessidade de ampliação da área destinada ao cemitério. Em Decreto do Executivo, em maio de 1965, foi declarada de utilidade pública uma área de 4.966 m2, pertencente à Companhia Paulista de Estrada de Ferro, e outra faixa, de 3.967 m2, pertencente a Augusto Veraldi, ambas destinadas à extensão do Cemitério Municipal.
No início da década de 1980, novamente a necrópole passou por nova expansão, que resultou na divisão do espaço em duas partes, denominadas “Cemitério Antigo” e “Cemitério Novo”, sendo ambas separadas pelos trilhos do trem e ligadas por um túnel sob a linha férrea.
No decorrer das décadas seguintes, o cemitério passaria por novas ampliações, convivendo ao mesmo tempo com problemas de segurança, conservação e superlotação. Apesar das dificuldades, configura-se como um verdadeiro patrimônio, que preserva aspectos da história e da memória daqueles que partiram, além do valor artístico presente em boa parte dos jazigos existentes.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense.
www.bebedourohistoriaememoria.com.br).
Publicado na edição nº 10.750, sexta a terça-feira, 21 a 25 de abril de 2023