“O sr. Miguel Paschoal seguio quarta-feira, para a Capital afim de adquirir um cinematographo que será montado no salão Martinelli e futuramente em um theatro que aquelle cavalheiro e outros construirão no terreno do Largo da Matriz, esquina da rua S. João.” Foi com essa nota, publicada na edição de 2 de abril de 1911, do Jornal de Bebedouro, que foi anunciada a fundação de um novo cinema em Bebedouro.
Não seria o primeiro, pois desde 1908 existia o “Bijou-Theatre”, pertencente ao dr. Ricardo Marcondes Machado. Instalado em um barracão na rua Alfredo Elis, atual Oscar Werneck, bem atrás da Igreja Matriz, promovia vários tipos de espetáculos, inclusive a projeção de filmes mudos nas noites de domingo ou eventualmente em algum outro dia da semana.
O novo cinema anunciado por Miguel Paschoal recebeu o nome de “Internacional Cinema” e, conforme previsto, funcionou inicialmente no “Salão Martinelli”, um espaço de cultura e lazer que existia na esquina das ruas XV de Novembro e Francisco Inácio, onde posteriormente foi construída a sede social da Associação dos Empregados no Comércio de Bebedouro.
Em janeiro de 1913, com o prédio ainda inacabado, começou a funcionar o cinema de Miguel Paschoal, que foi denominado de “Theatro Rio Branco”, em homenagem ao chanceler que havia falecido em fevereiro do ano anterior.
Em março do mesmo ano, substituindo o “Bijou Theatre” que havia sido fechado, foi inaugurado o “Cine Odeon”, também de propriedade de Ricardo Marcondes Machado, construído em terreno localizado na Praça Barão do Rio Branco, onde atualmente localiza-se o Edifício Comercial Augusto Toller. Este cinema encerrou suas atividades no começo da década de 1920, sendo que em 1929 foi inaugurado outro concorrente do “Rio Branco”, o “Cine São João”, que funcionou até junho de 1982, na rua XV de Novembro.
Um interessante relato sobre o “Theatro Rio Branco” nesta fase de filmes mudos foi publicado pelo pesquisador Arnaldo B. Christianini: “[…] Pagam-se 300 réis para assistir da galeria, ou ‘poleiro’ como se dizia. Lá ia o zé-povinho. A cena é muda. A tela tem de ser molhada antes da projeção. No fim de cada parte do filme, há um intervalo para o recarregamento do projetor a arco voltaico. O operador é o jovem Messias Moreira. Embaixo da tela, ou melhor, do palco onde ela está, fica a orquestra que toca durante o desenrolar do filme. Piano, violinos, contrabaixo, um instrumento de sopro de canto e outro de contracanto. Ah, como era bacana! Não raro, a música nos prendia mais do que o filme. No início a marcha de abertura, só pelo piano. E depois a orquestra plangia melodias dolentes, valsas sentimentais e tangos da época. Assim era o cinema mudo”.
Nas décadas de 1920 e 1930, o “Rio Branco” foi o palco de inúmeras apresentações teatrais, desde companhias afamadas, que faziam suas turnês pelas principais cidades do interior, como de grupos locais ou regionais. Recebeu também muitos artistas da era do rádio, cantores, humoristas e outros que faziam sucesso nas décadas de 1940 e 1950.
No decorrer dos anos, o prédio do “Rio Branco” passou por várias reformas, sendo que em duas delas houve mudanças na fachada original do prédio, caracterizada pelo estilo eclético, com vários elementos clássicos.
Desta forma, em março de 1951, a imprensa informou que após “reforma radical, ganhando feições novas e belíssimas”, foi inaugurado o “Cine Teatro Rio Branco”, de propriedade da empresa “Canettieri e Trondi”, com exibição do filme “A comédia da vida”, cuja renda foi destinada ao Asilo São Vicente de Paulo.
A última grande reforma ocorreu entre os anos de 1969 e 1970, sob a direção de Sebastião Canettieri. Internamente houve muitas mudanças, incluindo a troca do piso e da iluminação, instalação de novo projetor e tela, além de cerca de 800 poltronas estofadas, incluindo as do pullman, no andar superior. A fachada foi remodelada, recebendo “linhas modernas”, que permanecem até os dias atuais.
Apesar das remodelações, o “Rio Branco” não resistiu às mudanças do tempo, incluindo a concorrência televisiva e das videolocadoras, e encerrou as atividades anos depois do “Cine São João”. Em maio de 1996, após amplas reformas para adaptação, foi instalado no local o Teatro Municipal “Maurício Alves de Oliveira Júnior”.
(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br)
Publicado na edição 10.786, sábado a terça-feira, 9 a 12 de setembro de 2023