Com drama sobrenatural, ‘Desalma’ precisa ser vista no Globoplay

Marcos Pitta

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Diferente de tudo - Com atuações que fogem do tom naturalista, ‘Desalma’ tem como uma das protagonistas, a atriz Claudia Abreu. (João Cotta/ TV Globo)

Não tem muito tempo que ‘Desalma’, série exclusiva Globoplay, estreou no streaming e a segunda temporada já está confirmada. Claro que tudo depende da pandemia, mas as gravações devem acontecer ainda no primeiro semestre e a estreia tem previsão para o final de 2021. No entanto, a crítica que nos traz aqui desta vez é falar da primeira temporada, disponibilizada por completo na plataforma digital da Globo e que merece sim ser vista.

A série estrelada por Maria Ribeiro, Cláudia Abreu e Cássia Kiss foi bastante aclamada, mas pouco mais de quatro meses após sua estreia, não é difícil encontrar quem ainda não conheça a história e alguns pontos muito claros explicam isso.
O primeiro é o fato de ser uma produção brasileira em um streaming brasileiro, isso já deixa os amantes da americanização com um pé atrás e, depois, o fato de se tratar de um drama sobrenatural, não é um gênero que atrai muito e que dê seriedade às produções brasileiras.

Este segundo tópico é importante de se debater, pois existe resistência dos brasileiros em apostar fichas em conteúdos audiovisuais do gênero suspense/terror. Mas é importante frisar também que não há muitas produções grandiosas nestes estilos. No entanto, ‘Desalma’ entra para a lista dos sobrenaturais brasileiros que são bem feitos.
A série tem 10 episódios e apresenta cenas deslumbrantes. Na parte técnica, envolvendo direção de arte e fotografia, tudo merece nota mil. As locações foram muito bem escolhidas, as camadas de cores e o contraste mais frio das cenas dão o toque dramático e sobrenatural que a história propõe e os movimentos de câmeras são muito bem pensados pelo diretor Carlos Manga Jr.

O roteiro de Ana Paula Maia é bom, conduz muito bem o mistério que é vendido para o espectador e os diálogos são de fácil compreensão. Apesar de precisar seguir o arco misterioso, os personagens são bem construídos e a presença de alguns atores ainda desconhecidos do público dá uma força maior para o elenco, apesar de, em alguns momentos, ser notório a inexperiência com o vídeo em alguns deles. Há ainda, um estranhamento pelo tom menos naturalista adotado pelo diretor, esse formato que é completamente diferente de quem faz televisão pega, em alguns momentos, até os mais veteranos, mas nada que atrapalhe a condução da trama.

Para quem gosta do gênero, é uma boa pedida. Para quem tem aquele medo de dormir à noite, a recomendação é assistir durante o dia ou acompanhado, pois algumas cenas são bem misteriosas e como estão bem montadas, com a sonorização muito bem sincronizada, aquele susto inesperado pode acontecer.

É interessante dar mais atenção para produções brasileiras e aceitar que, cada vez mais, gêneros sobrenaturais vão ganhar espaço no streaming, basta ver o sucesso que ‘Cidade Invisível’ causou na Netflix. ‘Desalma’ é um pontapé muito bem dado nas produções deste gênero que têm futuro, só precisam de oportunidade dos próprios brasileiros que podem e devem continuar mergulhados nos universos americanos que apresentam boas séries, mas precisam reconhecer o que é bem feito dentro de casa, basta desconstruir a mente ‘robotizada americanamente’ para conseguir apreciar.

Publicado na edição 10.560 de 6 a 9 de março de 2021.