Debate entre o vereador Nasser Abdallah e o diretor Gilmar Feltrin revela decadência política.
Como a pipa pode voar sem oposição do vento, questiona o provérbio chinês. Ele nos ajuda na reflexão de como é vital ter sempre dois lados da questão. Não há democracia sem existência de oposição. E nestes choques, principalmente de ideias, nascem boas iniciativas em benefício da sociedade.
Porém, para que isto aconteça, é preciso que dos dois lados, situação e oposição, existam pessoas convictas de seus pontos de vista, mas com maturidade e bom senso para construir uma proposta conjunta.
Na Câmara de Vereadores, há três parlamentares assumidamente oposicionistas ao Governo do prefeito Fernando Galvão (DEM), Luís Carlos de Freitas (PT), Paulo Bola (PTB) e Nasser Abdallah (PV), este com discurso e postura sempre mais ácidos que os dois primeiros.
Na sessão ordinária de segunda-feira (24), porém, o vereador do PV, perdeu o tom ao partir para a agressividade verbal, durante sabatina ao diretor do Saaeb e do Depto. de Engenharia e Obras, Gilmar Feltrin.
Interessante observar que Nasser é engenheiro civil e Feltrin é engenheiro químico. De duas pessoas formadas em Ciências Exatas, esperava-se debate mais lógico, com discussões técnicas sobre os problemas da cidade. Entretanto, o que se ouviu e viu, foi clima de nervosismo e desconforto.
Pode e deve, Nasser fazer oposição em nome do grupo político que representa e está empenhado em ver disputar o poder municipal. Tudo isto, sem precisar desqualificar pessoas. Assim fizeram Paulo Bola e Freitas quando questionaram a Prefeitura.
A galeria de ex-vereadores é repleta de exemplos de pessoas que mesmo nos embates políticos mais acirrados, fizeram oposição, sem desrespeitar o adversário, que nas tantas viradas que a política dá, um dia poderão ser aliados, em nome de um projeto pelo bem da cidade.
Se por acaso, o vereador acha que não exagerou era só ter observado ao final da sabatina, que ninguém lhe aplaudiu ou lhe foi solidário, restando a Feltrin, pedir aos demais vereadores e ao público, desculpas pelo triste debate, atitude que deveria ter sido seguida por Nasser.
Ninguém odiava tanto o Regime Militar, e seus apoiadores, quanto o saudoso deputado federal Ulisses Guimarães, que em nome da luta para reconstruir o caminho pela democracia, nunca expõs seus sentimentos, porque entendia a importância de seu papel de opositor à ditadura, nunca às pessoas.
Publicado na edição nº 9664, dos dias 27 e 28 de fevereiro de 2014.