Dinheiro bom é dinheiro verde

José Renato Nalini

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O mundo civilizado está angustiado com as mudanças climáticas provocadoras de eventos extremos. O Brasil, que poderia tirar vantagens de voltar a ser a promissora potência verde, em lugar de ocupar a miserável colocação de “Pária Ambiental”, é muito lento ao responder aos anseios do mercado e dos investidores.

Acena-se com os títulos verdes para a Amazônia, os “green bonds” que atrairiam os trilhões à espera de uma sinalização que garanta segurança jurídica. O BID poderia ser um instrumento de ações concretas. Mas tudo é muito lento no Parlamento mais interessado em usufruir das benesses do Executivo e fazer o jogo das ameaças. Avanços e recuos. E sempre, quem perde, é o povo.

A esperança é a iniciativa privada. Esta sobreviveu à sanha arrecadatória de um Estado perdulário, que cresce embora não tenha condições de se sustentar. Boa notícia é a criação da primeira Bolsa de Crédito de Carbono do país, a B4. Ela permite a negociação dos créditos referentes aos certificados emitidos para uma empresa que reduziu a sua emissão de gases do efeito estufa como um ativo financeiro por meio da tecnologia blockchain. Ela agrupa informações que se conectam por meio de criptografia. Isso dá segurança às transações financeiras.

A B4 tem de atuar como facilitador para as empresas que querem compensar a quantidade de carbono emitida em suas operações e impulsionar a transição energética. O projeto foca a regeneração dos recursos naturais, tão devastados nos últimos anos. Essa Bolsa de créditos de carbono pode movimentar doze bilhões de reais no primeiro ano. Mas a demanda potencial é muitas vezes superior.

Quem quiser se cadastrar pode utilizar a plataforma https://b4capital, preencher informações similares às solicitadas pelo banco e criar uma conta. Depois pode comprar créditos de carbono após transferir a quantia para a conta. As empresas que se interessarem estarão, na verdade, fornecendo um atestado de que se preocupam com o ambiente e não estão na lista dos exterminadores do futuro. Que funcione e prospere!

Apostolado ecológico

Parece que a maior parte do Brasil endoidou. A maior seca da história na Amazônia resulta do desmatamento. Idem, os incêndios no Pantanal, qualquer coisa de surreal. O extermínio de espécies arbóreas e da fauna, algo apavorante para quem se preocupa com o amanhã.

Mas existem pessoas sensíveis e que não perfilham ao lado dos dendroclastas, dos que eliminam a possibilidade de haver vida futura neste sofrido planeta.

Uma delas é Maria Tereza Umbelino, que criou as Unidades de Crédito de Sustentabilidade – UCS, um token que paga aos agricultores para que mantenham de pé suas florestas. É o reconhecimento de que o trabalho gratuito e ecossistêmico prestado pela natureza aos homens pode render dinheiro para essa humanidade tão ambiciosa.

Ela conseguiu convencer a burocracia a considerar a floresta como se ela fosse uma safra anual, assim como o milho, a soja ou o café. Se cuidar do verde é trabalho, não existe trabalho escravo no ordenamento jurídico tupiniquim. Ela identificou vinte e sete serviços prestados pela mata, como a formação de solo, armazenamento de carbono, abastecimento de aquíferos, polinização e regulação do clima. É só usar métrica e o negócio passa a ser tangível. A UCS vira um produto como qualquer outro.

Maria Tereza Umbelino convenceu mais de setenta entidades, como universidades, consultorias, auditorias, remuneradas com UCS e as imbuiu de uma lógica cooperativa. O resultado é muito promissor.

Conjuga-se a utilização da tecnologia mais avançada, o blockchain e, logo mais, a inteligência artificial, para que haja controle seguro e adequado para avaliar o valor agregado dos serviços florestais.

Esse é um exemplo de apostolado ecológico. Existem outros. Estes é que precisam ser destacados pela mídia, não os crimes impunes perpetrados pelos dendroclastas que destroem, sem piedade, aquilo que não sabem produzir: uma árvore secular.

Aplausos aos bons exemplos, repúdio à insensatez ignorante e gananciosa, que acaba com o futuro e pensa que vai se alimentar de dinheiro, quando não restar uma só árvore e faltar água para manter toda espécie de vida.

(Colaboração de José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras).

Publicado na edição 10.816, de sábado a terça-feira, 27 a 30 de janeiro de 2024