
O mês dedicado às Mulheres terminou, no entanto, a conscientização deve continuar o ano todo! A desigualdade de gênero está enraizada em nossa sociedade, em todos os seus aspectos, seja na esfera pública ou privada. Para mudar essa realidade é preciso que haja um esforço coletivo para desconstruir nossa cultura de opressão às mulheres, repensando e deixando para trás as nossas atitudes machistas e patriarcais, que impedem que as mulheres tenham direitos, oportunidades e liberdades iguais às dos homens.
Das desigualdades e opressões que as mulheres enfrentam no seu dia-a-dia, gostaria de destacar neste artigo, a questão das tarefas domésticas, apontando as razões pelas quais devemos considerar essa questão como de gênero, e como ela afeta negativamente a vida das mulheres e meninas.
Primeiramente, para compreender porque as tarefas domésticas são uma questão de gênero, precisamos entender o que são “papéis sociais de gênero”. Papéis sociais de gênero são socialmente construídos, variam dependendo da cultura e da localização geográfica, e mudam de tempos em tempos. Esses papéis nos dizem através da “tradição” quais são as posições, as escolhas, os hábitos e as atitudes que são socialmente aceitáveis e encorajadas para homens e mulheres nos ambientes privados e públicos (JASS 2013). A ativista e educadora Laci Green (2015) afirma que os papéis de gênero em sua forma mais pura resultam em mulheres submissas e homens dominantes, o que dá margem à desigualdade de gênero.
Mas onde entram as tarefas domésticas nessa conversa? Segundo esses papéis de gênero, as tarefas domésticas são de “responsabilidade exclusiva” das mulheres e meninas. E isso é imposto às meninas desde crianças, quando elas são presenteadas com fogões, vassouras e ferros de passar de brinquedo. Essas tarefas são vistas como “trabalho feminino”, o qual o homem não deve ter participação. Essa responsabilidade feminina foi por muito tempo incentivada, sem questionamento, pela televisão, pelos anúncios e pelas revistas. No entanto, mesmo diante de tanta luta promovida pelo movimento feminista, e apesar dos avanços nesse sentido, essa cultura ultrapassada e machista ainda faz parte de muitos lares e comerciais veiculados na mídia.
E quais são os impactos disso? Por conta dessa cultura machista, a mulher é muitas vezes desencorajada a buscar trabalho fora de casa, a estudar e a se capacitar, muitas vezes sofrendo com a violência doméstica ao não cumprir o seu “papel de gênero”. E isso incentiva a desigualdade de gênero, pois uma mulher que sofre com barreiras para estudar e/ou conseguir sua liberdade financeira, enfrenta mais obstáculos ao seu empoderamento, à sua independência, e à sua libertação de relacionamentos abusivos, por exemplo.
A jornada dupla (às vezes tripla) é realidade de muitas mulheres no Brasil. Um estudo do IPEA – (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) lançado em 2017, mostrou que em 2015, a jornada total média semanal das mulheres superava em 7,5 horas a dos homens, sendo 53,6 horas semanais a jornada média total das mulheres e 46,1 a dos homens. Isso é um sério indicador de que as tarefas e responsabilidades domésticas não estão sendo igualmente distribuídas nos lares brasileiros, e estão impactando negativamente as mulheres.
Mas o que pode ser feito para mudar essa realidade? Primeiramente, questionar os papéis de gênero e a noção de tarefas “exclusivamente femininas”. Lavar, passar, limpar e cuidar dos filhos deve ser uma tarefa compartilhada pelo homem e pela mulher. Lembrando que “ajudar” nas tarefas é diferente de “dividir” as tarefas! Temos que questionar nossa cultura que apenas ensina as meninas e impõe às mulheres a responsabilidade de lidar com às tarefas domésticas. Vale apontar que essa cultura tem felizmente mudado nos últimos anos, e que, em algumas casas, as tarefas sempre foram divididas por todos. Mas é preciso avançar sempre! Questionar a nossa cultura e os nossos hábitos machistas e patriarcais, e incentivar a divisão das tarefas domésticas é de extrema importância para a promoção da igualdade de gênero. Temos que garantir os mesmos direitos, oportunidades e liberdades para homens e mulheres. Por isso, divisão de tarefas domésticas, já!
“Colaboração de Arthur Fachini, formado em Relações Internacionais pela Universidade de Ribeirão Preto – Unaerp; ativista pelos Direitos Humanos e igualdade de gênero; e um dos ganhadores do prêmio ‘Gold Global Citizen Award’, na Irlanda. Atualmente é responsável pelo projeto de educação complementar “Defensores Globais”, na Escola Estadual Abílio Manoel.”