Esporte, o inesperado e a superação

José Mário Neves David

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A última semana foi realmente agitada. Não, não me refiro às questões políticas do País, à CPI ou à desarmonia entre os Poderes da Nação. Tampouco faço menção às reformas estruturantes propostas ao Poder Legislativo federal, ou à votação do projeto de lei dos supersalários. O agito em questão guarda relação com eventos e acontecimentos esportivos dos últimos dias que, em maior ou menor medida, revelaram situações inesperadas, recordes, momentos de superação e, acima de tudo, a beleza do esporte e sua correlação com os acontecimentos e questões da vida.

No campo do futebol, foi realizada a final da Copa América, torneio centenário de seleções sul-americanas que em 2021 foi sediado às pressas no Brasil, após desistência de Argentina e Colômbia por questões sanitárias e políticas. Na partida decisiva, Brasil, o anfitrião penta campeão mundial, e Argentina, até então 14 vezes vencedora da Copa América (cinco títulos a mais que o Brasil e um a menos que o Uruguai), fizeram a final dos sonhos dos organizadores e dos torcedores apaixonados por futebol. Porém, um novo maracanazo ocorreu: os hermanos venceram a partida derradeira por 1 a 0, conquistando seu 15º título do torneio e vencendo a seleção canarinho em seus próprios domínios.

Afora as questões atinentes à pertinência da realização do campeonato no Brasil em tempos de pandemia e elevados números de contaminações e mortes, a derrota da seleção brasileira no Maracanã trouxe à tona a máxima de que o jogo só termina quando acaba. Apesar de sempre ter havido respeito pelo selecionado argentino, capitaneado por ninguém menos do que Lionel Messi, era fato que se esperava uma vitória brasileira, seja pela realização do torneio no País, seja pela liderança absoluta da seleção canarinho nas eliminatórias sul-americanas da Copa do Mundo de 2022. Assim, muito embora a final da Copa América tenha sido até certo ponto equilibrada, fica claro que não devemos nunca considerar o jogo ganho antes da hora – é preciso efetivamente jogar, e ganhar ou perder faz parte do script.

Ainda na seara futebolística, porém em terras do Velho Continente, Inglaterra e Itália fizeram a final da Eurocopa, campeonato europeu de seleções realizado a cada quatro anos. À semelhança do que ocorreu na Copa América (anfitrião na final), a decisão da Eurocopa foi realizada em Londres, no mítico estádio de Wembley, casa da seleção inglesa finalista do torneio. Um grande público prestigiou a partida final, movido pela paixão inglesa pelo futebol e, também, pela enorme vontade dos ingleses de serem campeões de futebol, sentimento não conhecido desde o título conquistado na Copa do Mundo do longínquo ano de 1966, também realizado em terras inglesas.

Ocorre que faltou combinar com a Azzurra: a seleção italiana, “mordida” pela ausência na Copa do Mundo de 2018, veio com tudo para cima dos ingleses e conquistou seu segundo título da Eurocopa nos pênaltis (o primeiro e, até então, único havia sido ganho em 1968). Assim, os ingleses, inventores do futebol, continuam na “fila” já cinquentenária de títulos pela sua seleção. Neste contexto, fica claro que não basta criar algo, assim como os ingleses fizeram com o futebol, é preciso se atualizar e qualificar sempre, pois, caso, contrário, outro alguém pode vir e ocupar o seu lugar – no caso, a Itália no posto de campeão. A necessidade de aprimoramento é contínua, ainda que você tenha iniciado algo. Os concorrentes estão de olho.

Por fim, mas não menos importante, é importante destacar a vitória de Novak Djokovic na final do mítico torneio de tênis de Winbledon (uma das quatro principais competições de tênis do mundo, ao lado do Aberto da Austrália, de Roland Garros e do US Open, chamados em conjunto de “Grand Slams”). Foi o vigésimo – isso mesmo – campeonato de Grand Slams conquistado por Djokovic, que igualou a incrível marca de Rafael Nadal e Roger Federer, outros monstros sagrados do esporte. O tenista sérvio tem por meta conquistar ainda em 2021 o ouro olímpico e a final do US Open, completando o chamado “Golden Slam”, façanha alcançada apenas por Steffi Graf na história do tênis – o que, por tabela, alçaria Djokovic ao rol de maior campeão de Grand Slams entre os homens na história, o que é perfeitamente possível, dados seus 34 anos e ainda alguma lenha para queimar. Assim, a obstinação e dedicação de um jovem de um País pobre, sem tradição no tênis e que sobreviveu à guerra da Iugoslávia se mostra uma lição de vida e de superação para todos.

Assim, os recentes acontecimentos esportivos, além de proporcionarem entretenimento e distração para nós, amantes do futebol e do tênis, trouxeram importantes lições de vida para todos, no sentido de nunca comemorarmos potenciais feitos antes da hora, ainda que em pretensa vantagem; jamais nos acomodarmos em louros e vitórias do passado; e, mais importante, sermos obstinados e nunca desistirmos de nossos sonhos. A vida agradece.

(Colaboração de José Mário Neves David, advogado e administrador de empresas. Contato: jd@josedavid.net)

Publicado na edição 10.595, de sábado a terça-feira, 24 a 27 de julho de 2021.