Hermistas e civilistas nas eleições bebedourenses de 1910

José Pedro Toniosso

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Candidatos à presidência da República nas eleições de 1910, à esquerda o militar Marechal Hermes da Fonseca e à direita, o civil Ruy Barbosa, líderes dos hermistas e civilistas, respectivamente. Fotos: Wikipédia

Em plena época da política do café-com-leite, as eleições presidenciais de 1910 representaram uma possibilidade de mudança do modelo político que estava estabelecido. Os dois candidatos que foram apresentados defendiam propostas um tanto distintas para um eleitorado bastante reduzido, que não chegava sequer a 5% da população do país.

De um lado, o jurista baiano e candidato civil Ruy Barbosa, que conseguiu o apoio de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. De outro, o candidato militar Marechal Hermes da Fonseca, apoiado por Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Era o grupo dos civilistas contra o dos hermistas, respectivamente.

Em Bebedouro, o hegemônico Partido Republicano Paulista, sob o comando do Cel. João Manoel, de imediato lançou o apoio ao candidato Ruy Barbosa. Era o grupo político que controlava o processo eleitoral, mantendo as cadeiras do Presidente da Câmara, Intendente e Juiz de Paz, entre outros. Na imprensa, utilizavam o “Jornal de Bebedouro” como órgão de divulgação e conclamavam os eleitores para serem fiéis às tradicionais lideranças.

A oposição local, sempre minoritária, manifestou apoio ao candidato Hermes da Fonseca, utilizando o jornal “A Vanguarda” para divulgar sua plataforma eleitoral. Formavam a chamada “Junta Republicana”, sendo que todos seus membros possuíam patente da Guarda Nacional: Cel. Eduardo da Silva Pereira (presidente), Major Jesuíno Luiz Machado, Cap. João Carlos da Silva Carneiro, Cap. Júlio Ferreira, Major João Pedro de Jesus, Cap. Joaquim Antônio de Lima, Cap. João Crisóstomo, Ten. Basílio dos Santos, Cap. Manoel Fraguas Ogando, Cap. Zeferino Chaves e Cap. Raul Furquim.

O pleito aconteceu no dia 1º de março e na comarca de Bebedouro, que incluía o então distrito de Monte Azul, conforme se esperava, a vitória do candidato civilista foi arrasadora, alcançando 907 votos, enquanto o hermista ficou com apenas 296 votos. O mesmo não aconteceria em nível nacional, pois Hermes da Fonseca obteve quase o dobro dos votos conseguidos pelo seu oponente, sendo o presidente eleito.

Mas se os civilistas bebedourenses não garantiram a representatividade na esfera federal, em nível local o cenário era bem diferente. Em 30 de outubro do mesmo ano aconteceram eleições municipais para escolha de vereadores e juízes de paz e em Bebedouro todos os candidatos que foram eleitos eram civilistas, enquanto os hermistas, com bem menos votos, não conseguiram eleger sequer um vereador.

Na primeira página da edição de 6 de novembro de 1910 do Jornal de Bebedouro, órgão de imprensa que lhes era favorável, os civilistas comemoravam e ironizavam: “Levamos às urnas 860 votos contra 254 dos hermistas, que não fizeram um só vereador nem um só Juiz de Paz, apesar da libérrima lei eleitoral que assegura o terço à minoria. […], Mas desorientados, desconcertados, sem direção, sem rumo e sem base na organização do rodízio, não alcançou um só dos seus candidatos, o quociente, o que nós civilistas sinceramente lamentamos”.

A Câmara Municipal da época era composta por oito vereadores e os eleitos foram Dr. Francisco da Gama Spínola e Castro, Cel. Conrado Caldeira, Cel. José Ferraz de Carvalho, Cap. Domingos Cioni, Cap. Cícero da Silva Prates, Cel. Abílio Alves Marques, Cap. Domingos Paschoal e Cap. Manoel Reverendo, além de dois suplentes, Tte. José Novaes de Carvalho e Cap. Francisco Lopes de Souza.

Quanto aos Juízes de Paz, os três eleitos para o Distrito de Bebedouro também eram do mesmo grupo, incluindo o Cel. João Manoel, que obteve a maior quantidade de votos, além do Cap. Pedro Affonso Antunes e João Ferreira de Carvalho. O mesmo ocorreu no Distrito de Monte Azul, sendo o Cel. Aureliano Junqueira Franco o candidato para Juiz de Paz mais votado.

A oposição reclamou, questionou os resultados, acusou a prática de fraudes, mas nada fez efeito e tudo permaneceu conforme fora divulgado. Além do mais, os civilistas definiram todos os postos de comando entre seus correligionários: Presidente da Câmara, Dr. Francisco da Gama Spínola e Castro; Vice-presidente, Cel. José Ferraz de Carvalho; Prefeito, Cel. Conrado Caldeira; Vice-prefeito Cel. Abílio Alves Marques; Juiz de Paz, Cel. João Manoel. Além de todos serem civilistas, todos possuíam a patente de coronel da Guarda Nacional.

(Colaboração de José Pedro Toniosso, professor e historiador bebedourense www.bebedourohistoriaememoria.com.br).

Publicado na edição 10.812, de sábado a quarta-feira, 13 a 16 de janeiro de 2024