Nobel 2014: da luz do século 21 ao GPS mental

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A Academia Real das Ciências da Suécia divulgou recentemente os ganhadores do Prêmio Nobel de 2014. Foram treze ganhadores, classificados em seis categorias. Ao contrário do ocorrido em 2013, os assuntos deste ano, principalmente o relacionado à física, sintonizam sobremaneira o mundo prático do nosso dia-a-dia. Seguem os ganhadores dos prêmios de física e fisiologia ou medicina. Na próxima edição focaremos os prêmios de Química, Economia, Literatura e Paz.

LED – a luz do século 21

Exatamente em 27 de janeiro de 1880, Thomas Edison – inventor americano – registrava a patente de um dos inventos que mais impactaram a sociedade em todos os tempos: a lâmpada incandescente. Muitos, antes dele, tentaram, mas foi Edison que em 1879 conseguiu produzir uma lâmpada a base de filamento de haste de carvão, cuja durabilidade possibilitava a sua comercialização. E como durou! Mais de um século depois ainda convivemos com algumas delas.
Entretanto, como estamos observando, o século 21 nasceu pautado pelo signo da sustentabilidade e da rápida evolução tecnológica. A luz de Edison perdeu fôlego e está sendo substituída por produtos mais eficientes, mais duráveis e que agridem substancialmente menos a natureza. É o caso da luz LED (Light Emitter Diode) produzida por um dispositivo eletrônico que quando energizado emite luz visível.
A história do LED remonta a década de 1960, quando o diodo para a cor vermelha foi criado. A partir daí novas cores como o verde e o amarelo surgiram, mas somente em 1990 foi inventado o diodo para a cor azul, fechando o espectro da luz branca e dando oportunidade para a criação de lâmpadas com esta tecnologia.
Os inventores do LED azul foram os japoneses Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura, os dois primeiros, pesquisadores da Universidade de Nagoia (Japão) e o terceiro da Universidade da Califórnia (Estados Unidos).
Hoje os LEDs são utilizados em larga escala como componentes de telas para celulares, tablets, TVs e faróis veiculares. Várias cidades do mundo também os estão adotando para iluminação pública. A Avenida Paulista em São Paulo é uma das vias que adotou a tecnologia e a cidade universitária – principal campus da Universidade de São Paulo – também está começando a ser iluminada pelas lâmpadas LED.

Posicionamento mental

Certamente o leitor já ouviu falar sobre o sistema de posicionamento global ou GPS (global positioning system), extensamente utilizado pelos motoristas para se localizar em determinada região.
Pois bem, parece que nós também possuímos um sistema GPS interno que nos ajuda a responder a simples questões como “onde estamos?” ou “como saímos de um lugar e chegamos a outro?” ou ainda “como encontramos um mesmo caminho outra vez?”.
Parte desse GPS interno foi descoberto em 1971 pelo pesquisador norte-americano naturalizado britânico John O’Keefe. Em estudos com ratos O’Keefe identificou certos tipos de células no hipocampo que eram ativadas toda vez que o rato retomava um mesmo ponto de seu caminho. A essas células ele deu o nome de “células de lugar”, responsáveis por criar mapas mentais armazenados no cérebro como memória e reativados quando os animais passam pelo mesmo local.
Em 2005 dois pesquisadores noruegueses, May-Britt Moser e Edvard Moser, de certa forma complementaram a sistemática de localização espacial ao descobrirem outras células no cérebro capazes de medir as distâncias e adicionar métricas aos mapas mentais de O’Keefe. Essas células foram chamadas de “células de grid ou rede”. Assim, juntando-se as pontas descobriu-se uma importante e eficiente sistemática de localização no cérebro dos ratos: as células de lugar apresentam informação análoga à latitude e longitude e as células de rede ajudam a reconhecer as trajetórias adotadas.
O ponto alto da pesquisa vem por dedução, embora ainda não comprovada. Tudo indica que esses estudos reveladores também podem ser aplicados aos cérebros de outros mamíferos, incluindo aí os nossos, o que abriria novas frentes de pesquisa para se desvendar um pouco mais sobre um dos mais enigmáticos elementos do corpo humano.

Publicado na edição nº 9771, dos dias 13 e 14 de novembro de 2014.