Número de enterros no Cemitério Municipal cresce 162% em abril

O período não é o único a sofrer aumento; nos quatro primeiros meses de 2021, foram sepultados 45,6% do total referente ao ano passado.

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O número de enterros no Cemitério Municipal São João Batista, de Bebedouro, aumentou 162,5% em abril, em comparação com o mesmo período do ano passado. Neste ano, foram realizados 105 sepultamentos no mês, contra 40 no ano anterior.

O período não é o único a sofrer aumento desmesurado. Somente nos quatro primeiros meses de 2021, foram sepultados 45,6% do total referente a 2020, quando 629 enterros aconteceram, média de 52/mês. De janeiro a abril deste ano, o número chegou a 287, média de 72 ao mês.

Marcos Domingos, coordenador do Cemitério, atribui o crescimento à pandemia de Covid-19. Segundo ele, os números de mortes causadas pela doença no ano passado, não alteraram o trabalho no local. Já no começo deste ano, a rotina foi completamente alterada. “Desde que existe o Cemitério, nunca passamos por isso. Para você ter uma ideia, em abril, numa única sepultura, colocamos cinco corpos de uma única família. Os funcionários estão no limite. Está difícil”.

Em análise mês a mês, o crescimento torna-se evidente. Em janeiro de 2020, foram realizados 38 sepultamentos. Já em 2021, foram 45 (+18,4%). Em fevereiro, o número subiu de 38 para 64 (+68,4%). Em março, passou de 58 para 73 (+25,8%), atingindo o ápice em abril.

Atualmente com cinco coveiros e um ajudante trabalhando no local, Silvio Barbosa, responsável pelo Cemitério Municipal, afirma que ainda não foi preciso realizar abertura de novos jazigos, mas teme pelo aumento contínuo de sepultamentos. “Se continuar neste ritmo, acredito que maio supere o número de abril. Agora todo mundo que morre é Covid? Não. Temos que lembrar que acidentes, infartos, doenças, continuam matando. Mas a Covid-19 colabora, sim, no aumento. Está evidente”.

Sem velório

Desde o começo da pandemia no Brasil, em março de 2020, há protocolo do Ministério da Saúde para manuseio de corpos positivados ou sob suspeita da doença. Segundo Sabrina Ramalho, médica infectologista de Bebedouro, mesmo com a morte do paciente, o vírus segue ativo, o que torna o corpo fonte de contaminação.

“Em superfícies, já foi identificado vírus por até nove dias. É estimado que em líquidos, fluídos corporais, após a morte, continuem sendo eliminados em secreções. Não se recomenda o contato com o corpo porque ele ainda é fonte infectante”.

“Toda equipe de enfermagem possui uma rotina para preparar o corpo, acondicioná-lo de forma adequada, tanto para eles não se contaminarem quanto para diminuir os riscos de contaminações por aqueles que vêm posteriormente, como agência funerária e coveiros, que também são preparados com equipamentos de proteção individual”.

Ainda de acordo com Sílvio Barbosa, todos os procedimentos de segurança são seguidos e respeitados pela equipe do cemitério, mesmo com pedidos contraditórios de familiares. “É muito brusca, violenta essa separação. De repente, a pessoa está aqui e depois você não pode se despedir pela última vez. Mesmo com todos os riscos, a família quer se despedir. Os servidores nossos, os coveiros, passam por situações complicadas. É um momento muito difícil. Polemizar não ajuda em nada”.

Publicado na edição 10.577 de 12 a 14 de maio de 2021.